63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
PROCEDIMENTOS COMPOSICIONAIS NA MÚSICA DO SÉCULO XX
Magno Caliman Sposito 1
Marcos Vinicio Nogueira 2
1. Escola de Música - Centro de Letras e Artes - UFRJ
2. Prof. Dr. Orientador - Escola de Música - Centro de Letras e Artes - UFRJ
INTRODUÇÃO:
O século XX foi um momento de surgimento de muitas correntes estéticas nas artes. Na música de concerto, uma das características mais marcantes desse período, foi exatamente a enorme pluralidade de correntes e estilos que surgem, desaparecem e se transformam de compositor para compositor. Essa condição foi, pouco a pouco, configurando um estado de desestilização dessa produção artística. A música dita “de arte” do século XX na verdade são muitas músicas, e ao mesmo tempo não é música nenhuma. Nesse período, compositores de algumas dessas correntes estéticas que emergiram, começaram a abraçar o timbre, a cor, a sonoridade, como parâmetro controlável, elevando o timbre ao mesmo status da altura, da intensidade, e da duração, que reinavam soberanas na estruturação musical até então.
Através de um apanhado de obras e textos dos últimos, aproximadamente, cem anos, pretendemos apontar caracteristicas e técnicas pertencentes à escrita de certos compositores selecionados. Com isso, mostraremos como ao longo do século XX certas mudanças na forma de pensar a criação musical, e o surgimento de novas estratégias composicionais, acabaram por culminar no surgimento de uma verdadeira estética da sonoridade.
METODOLOGIA:
Analisamos obras de diferentes compositores e épocas, partindo da virada do século XX. São elas: Nocturnes para orquestra: I.Nuages, de Claube Debussy; 5 peças para orquestra, Op.16: III. Farben, de Arnold Schoenberg; quarteto de cordas Op.5: III. Sehr Fliessend de Anton Webern; e a técnica de síntese granular do compositor Curtis Roads.
Essas análises visavam apontar aspectos da técnica composicional empregada nas obras, do ponto de vista da manipulação do material musical, que evidenciassem um foco especial no tratamento textural/timbrístico da obra.
Também foram considerados nas análises, processos de estruturação formal e do desenvolvimento do discurso ao longo da obra, e sua relação com o processo de escritura interna das obras.
RESULTADOS:
Percebemos através da análise das obras, que ao longo da primeira metade do século XX, ocorreram algumas mudanças nos processos de manipulação do material composicional. Essas mudanças mostram compositores, cada vez mais, se voltando “para dentro” de seus materiais de base. Foi possivel então se separar 6 categorias diferentes de materiais musicais primários, sendo elas: Tema - Motivo - Intervalo - Nota - Som.
Esse continuum demonstra como o elemento constituinte mais básico da linguagem musical foi sofrendo um processo de atomização ao longo do tempo.
CONCLUSÃO:
Concluimos que essa lenta mudança no foco composicional foi essencial para o surgimento, tanto de uma estética, quanto de uma escola de composição orientada pelo timbre.
Conforme as relações tonais foram se tornando menos estruturantes, a ênfase composicional começou cada vez mais a se voltar para o trabalho com o material musical - e isto se apresenta notadamente à partir de Debussy - chegando ao ponto em que compositores como Varèse passaram a conceber a escritura externa (todo formal), existindo em função da escritura interna (material musical básico). Sobre a concepção formal de suas obras, Varèse afirma que (VARÈSE, E. “Die Befreiung des Klangs”, Musik-Konzapte - Edgar Varèse, n.6, 1983, pp. 11-24.) “Forma é o resultado - o resultado de um processo. Cada uma de minhas obras precisa descobrir sua própria forma”.
Atitudes composicionais como a adotada por Varése se mostram cada vez mais comuns aos compositores que decidem se dedicar à pesquisa e à criação diretamente com o som. Ao considerar a forma como resultado de um processo de manipulação do material musical, o compositor indubitavelmente acaba por privilegiar uma escuta intesiva e singular em oposição a uma escuta extensiva e linear (FERRAZ, S. Música e Repetição. São Paulo, EDUC, 199).
Palavras-chave: textura, análise, composição.