63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolingüística |
O ATAQUE COMPLEXO NA FALA E NA ESCRITA DE CRIANÇAS SERRATALHADENSES |
Gésica de Oliveira Sousa 1 Alane Luma Santana Siqueira 2 Adeilson Pinheiro Sedrins 3 |
1. Univ. Fed. Rural de Pernambuco/Unid. Acad. de Serra Talhada – UFRPE/UAST 2. Univ. Fed. Rural de Pernambuco/Unid. Acad. de Serra Talhada – UFRPE/UAST 3. Prof. Dr./ Orientador - UFRPE/ UAST |
INTRODUÇÃO: |
Partindo do princípio sociolinguístico de que a variação é inerente às línguas e que tanto fatores extralinguísticos quanto fatores linguísticos influenciam no uso de determinada variação, objetivamos mostrar a interferência de variáveis extralinguísticas (escolaridade, sexo e idade) e variáveis linguísticas (tonicidade da sílaba, natureza da líquida e segmento vocálico posterior) na produção do ataque complexo por alunos de Pré-escolar II e da Alfabetização no município de Serra Talhada, localizado no sertão pernambucano, observando as realizações ou não do ataque complexo por crianças nas séries iniciais, mostrando a análise quantitativa dos dados que comprovam a ausência ou a presença do ataque complexo pré-vocálico nas sílabas. A análise realiza comparação entre dados de fala e escrita dessas crianças, procurando mostrar se há diferenças no tocante à realização do ataque complexo. Com esta pesquisa pretendemos contribuir não só com os estudos sociolinguísticos, mas também com estudos que se debruçam sobre a relação fala e escrita, bem como sobre a aquisição de escrita, tendo em vista que os informantes selecionados estariam, a princípio, ainda em fase de letramento. |
METODOLOGIA: |
Para que se tornasse possível esta pesquisa, aplicamos uma atividade de caráter informal em duas turmas de uma escola municipal de Serra Talhada, sendo uma turma o Pré-escolar II (de onde foram selecionados sete alunos) e outra, a turma de Alfabetização (de onde foram selecionados nove alunos) por consideramos que estes sejam os níveis escolares em que a criança está em fase de aquisição de escrita. Vale ressaltar que essas atividades consistiam em escrever nomes de figuras ilustrativas que contivessem em sua estrutura as líquidas /r/ e /l/. Mostrávamos a figura e perguntávamos qual era o nome, logo após pedíamos para a criança escrever este nome. Além disso, para que comparássemos fala e escrita, gravamos (através de uma câmera) a fala de dois informantes de cada turma (dois meninos e duas meninas) e, neste caso, essas crianças foram estimuladas a pronunciar as palavras que haviam escrito. Para tanto, acompanhamos cada criança, por vez, a uma sala reservada, para que não houvesse interferência de sons na pronúncia, assim como tentamos não dar estímulos (falar a palavra) para que não alterasse a autenticidade da gravação. |
RESULTADOS: |
Através do material coletado, pudemos verificar em relação às variáveis extralinguísticas que quanto maior idade e maior grau de escolaridade, mais os informantes realizaram o ataque complexo na escrita. No que se refere à variável sexo, os meninos usaram mais o ataque complexo do que as meninas. Comparando fala e escrita, os informantes aplicaram o ataque complexo mais na fala, com exceção da palavra “crocodilo”, onde alguns informantes acabaram não pronunciando. Em relação às variáveis linguísticas, conclui-se que a líquida /r/, tanto em sílaba tônica como em sílaba átona, vem sempre com um número maior de aplicação do ataque complexo como no exemplo “cravo”. Já a líquida /l/, em relação à tonicidade, tanto na tônica como na átona, vem mais com o apagamento do que com a inserção, como no dado retirado do corpus - “panta”, que deveria ser “planta”. Já as vogais altas antecedidas do /r/ na sílaba átona favoreceram o apagamento do ataque complexo, como em “vido” ao invés de “vidro”. |
CONCLUSÃO: |
A partir da consideração dos resultados apresentados nesta pesquisa, é interessante apontar o contraste observado entre os dados da escrita e os dados coletados da língua falada. Como mencionado na seção anterior, a realização do ataque complexo era mais favorecida na língua falada do que na escrita. Os quatro informantes selecionados para a análise contrastiva entre fala e escrita tendiam a não realizar o ataque complexo na escrita, mas a realizá-lo na fala. Essa questão nos leva a indagar como se dá a relação entre aquisição do ataque complexo nessas duas modalidades (fala e escrita) e comprova que, em relação ao fenômeno em questão, a criança apreende antes o sistema da lígua falada para depois, na escrita, apresentar ataques complexos da sua língua. Essa é uma questão a ser melhor investigada em pesquisa posterior. |
Palavras-chave: Ataque complexo, Fala/Escrita, Sociolinguística. |