63ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
As imagens da Memória e do Esquecimento em Corda Bamba , de Lygia Bojunga Nunes.
Alice Gomes Xavier 1
Maria Zaíra Turchi 2
1. Mestranda em Letras e Linguística - Faculdade de Letras - UFG
2. Profa. Dra./ Orientadora - Faculdade de Letras -UFG
INTRODUÇÃO:
A obra de Lygia Bojunga conta com uma ampla fortuna crítica mediante as várias abordagens e leituras que oferece. Assim como a de Monteiro Lobato, a obra de Lygia não diferencia assunto de criança e assunto de adulto. No entanto, suas narrativas, embora partam da realidade e discutam os comportamentos sociais contemporâneos, não deixa de lado a função lúdica própria do gênero infantil. Corda Bamba é a história da viagem de Maria para dentro de si, em busca de auto-conhecimento. Nesse livro, Lygia Bojunga mistura real e imaginário e imagens do consciente e do inconsciente da protagonista. Esta tenta decifrar os códigos de sua vida passada, um tempo que ela necessita reconstituir para se encontrar e continuar vivendo. O presente estudo pretendeu fazer uma investigação das imagens da memória e do esquecimento, possíveis de serem levantados a partir da leitura crítica da obra. Após análise dos dados, levamos para a comunidade acadêmica, nos colóquios de Letras, questões que discutissem o papel da memória no imaginário e na literatura infanto-juvenil brasileira.
METODOLOGIA:
A pesquisa fundamenta-se na teoria do imaginário, nas imagens da memória e do esquecimento presentes em Corda Bamba e na contribuição destas imagens para o amadurecimento da personagem Maria, pois esta se encontra sozinha num momento de volta ao passado e busca interior para reconstrução da própria identidade. Dessa maneira, traçamos um estudo teórico sobre o a importância do imaginário e da fantasia no mundo infantil, através da teoria de Bruno Bettelheim, e sobre a recordação, segundo Cláudia Cerqueira do Rosário e Emil Steiger. Baseamo-nos na teoria da memória, de Henri Bergson, e na do esquecimento, de Harald Weinrich, passando pela mnemotécnica, arte da memória, e pelo estudo dos símbolos do imaginário e analisando criticamente a obra de Lygia Bojunga.
RESULTADOS:
Segundo Bergson (1990, p. 63), “para recuperar o passado em forma de imagem, é preciso poder abstrair-se da ação presente, é preciso saber dar valor ao inútil, é preciso querer sonhar”. Essa necessidade de recordação é o que implica o auto conhecer-se da protagonista de Corda Bamba. A recordação confere imortalidade àquilo que estaria perdido de modo irrecuperável sem esta re-atualização. Ao amarrar a corda na janela e laçar uma antena de televisão de um edifício bem em frente, puxando a corda com força pra ver se estava presa, Maria faz o caminho para as portas que iriam mostrar seu passado e revelar seu eu. Caminhar sobre a corda, ainda que pela fantasia, possibilita um mergulho no seu subconsciente, para trazer à tona a memória perdida do que aconteceu e ficou nebuloso no passado. No devaneio da menina, a corda representa o vínculo entre o presente e o passado, o passado e o futuro e liga o real e o imaginário. Portanto, as cenas passadas da vida de Maria são imagens mnemônicas que ela assimila em seus respectivos locais de memória, para mais tarde, assimilá-las, de acordo com a cor de cada porta.
CONCLUSÃO:
Para compreender o mundo de Maria, é preciso conhecer bem mais que a arte da memória nos propõe. É preciso saber imaginar, fantasiar. Ao lermos Corda Bamba, não só viajamos com Maria através de sua memória e vivenciamos seu passado e a reconstrução do seu presente, como compreendemos o valor da memória e o resgate da própria vida perdida pelo esquecimento. É impossível não crescer com a protagonista diante da sua superação e transformação. Não mais lemos a vida como se o que importa é somente o aqui e o agora. Maria transforma a si mesma e até mesmo o leitor, pois o convida a deleitar-se sobre os deslumbres da realidade e da fantasia. A memória transcende o tempo, liga o presente ao passado, mostra-nos identidade e, pode-se dizer, é a morada da imortalidade. Assim, como qualquer indivíduo, Maria vive entre a memória e o esquecimento e lembra daquilo que realmente tem significado. E embora viva entre o ser e o não ser mais, precisa de ambos para continuar. E é somente a memória que a faz querer ir a algum lugar.
Palavras-chave: Imagem, Memória, Esquecimento.