G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana |
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SOBRE O TERRITÓRIO E A VIOLÊNCIA: UMA ANÁLISE DA TERRITORIALIZAÇÃO VIOLENTA NO BAIRRO DE SANTO AMARO NA CIDADE DO RECIFE (PE). |
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Leonardo de França Silva 1
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1. Departamento de Ciências Geográficas - UFPE
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INTRODUÇÃO: |
Os grandes centros urbanos no Brasil possuem múltiplas definições espaciais, onde as “práticas sociais” interagem com o meio, definindo suas fronteiras suas regras e suas leis. Partido desta concepção, devemos nos debruçar na análise do território, num dos problemas mais recorrentes de nossa sociedade, a territorialização violenta da criminalidade, do tráfico de drogas. O presente trabalho tem como principal objetivo analisar a territorialização violenta feita pelo tráfico de drogas na favela de Santo Amaro na cidade do Recife (PE), bem como seus impactos no cotidiano de seus moradores. Pretende-se também criar um ponto de reflexão a cerca das variantes da violência, como se configura, seus fluxos, e quem são os seus principais atores e suas práticas. Neste caso o território, ou mais especificamente a territorialização, ganha um caráter, material, político, cultural, econômico e ao mesmo tempo simbólico. O estudo sobre essa temática se torna relevante para um melhor planejamento territorial, e a aplicação de medidas que venham a mitigar tal problemática. |
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METODOLOGIA: |
O presente trabalho teve como ponto de partida o levantamento bibliográfico a respeito do tema proposto, bem como sua revisão, e aprofundamento teórico-metodologico de forma que houve-se uma melhor contextualização com a área de estudo, foram coletadas também, notícias dos meios de comunicação, dados estatísticos na secretaria de segurança pública de Pernambuco, e levantamentos quantitativos no Atlas do Desenvolvimento Urbano do Recife, de modo que pudéssemos ter algumas noções preliminares sobre a violência na favela. Num segundo momento foram feitas visitas em lócus com o intermédio de moradores da própria favela, pois por ser considerada uma área com altos índices de violência, a entrada de pessoas de fora da favela ofereceria tanto para o pesquisador, quanto para os moradores, elevado risco. A conversa informal com os moradores, a observação da comunidade em seu dia a dia, propiciaram uma coleta de dados mais condizentes com a realidade, haja vista que a aplicação de um questionário formal poderia induzir (como induziu) algumas respostas por parte dos moradores. |
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RESULTADOS: |
A favela de Santo Amaro possui uma população estimada em 17. 399 habitantes, com um IDH de 0.657 (considerado baixo) segundo o Atlas do Desenvolvimento Urbano do Recife (2005). Seu território possui importantes ligações com outros bairros da cidade, e com outras cidades da região metropolitana do Recife, por intermédio de importantes avenidas como, por exemplo, a Avenida Norte Miguel Arraes, a Avenida Agamenon Magalhães, e Avenida Cruz Cabugá. Sua localização central lhe confere uma estratégica posição na logística do tráfico, se tornado um fácil ponto de recebimento e distribuição de drogas. Sua população apresenta um grave quadro de vulnerabilidade socioeconômica, se tornando uma presa fácil para o aliciamento das “empresas criminosas”. A pesar da favela de Santo Amaro ser vizinha de empresas de telemarketing, e de um pólo de desenvolvimento tecnológico, sua população não participa desse mercado de trabalho, por apresentar baixo nível de escolaridade. Alguns moradores atuam diretamente na comunidade para tentar mudar a médio prazo essa realidade. O alvo dessas ações, visam principalmente a população mais jovem, por meio de atividades como, por exemplo, aulas de futebol, informática, e cursos profissionalizantes, inclusive com pagamento de bolsas de estudos. |
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CONCLUSÃO: |
O bairro de Santo Amaro se insere no contexto de produção desigual do espaço capitalista, que tem por finalidade desagregar os valores contidos num determinado local, de acordo com seus interesses. Essas áreas sofrem de uma carência enorme de infra-estrutura, reflexo de um sucessivo abandono do poder público, se tornando assim, o lócus do desenvolvimento de práticas ilícitas. O espaço territorializado pelo tráfico, logo vira o território do medo, onde os grupos criminosos atuam de forma autônoma, suprimindo quase todas as tentativas de emancipação da população que ali reside e é afetada diretamente. O sentimento de medo se torna uma constante para os moradores da favela do bairro, “é o medo nosso de cada dia”. Medo esse que afeta a qualidade de vida de cada ser humano, de cada individuo que se tranca dentro de sua casa, em busca de alento, de um lugar seguro, porém, nem o cunho sagrado que é conferido a instituição familiar foge a essa territorialização perversa. Com tudo, nos últimos anos a favela vem sofrendo várias intervenções por parte do poder público, o que despertou nos moradores um sentimento de ressurgimento de sua dignidade. Ainda existe uma longa caminhada para que a favela de Santo Amaro tenha seu território mais sociabilizado, ganhando aspectos mais humanizados. |
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Palavras-chave: Território, Territorialização, Santo Amaro. |