63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia |
EXTRATIVISMO DO AÇAÍ E INTERAÇÕES SOCIEDADE-NATUREZA EM SÃO SEBASTIÃO DA BOA VISTA, MARAJÓ-PA |
Vicka de Nazaré Magalhães Marinho 1 Maria José Magalhães Marinho 2 José Antônio Magalhães Marinho 3 |
1. Faculdade de Geografia e Cartografia - UFPA 2. Curso de Pedagogia - Licenciatura - FACI 3. Prof. MSc. Faculdade de Geografia, Campus Altamira - UFPA |
INTRODUÇÃO: |
O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma palmeira nativa da Amazônia, onde ocorre mais densamente na área do estuário amazônico, principalmente ao longo de rios e igarapés. Constitui recurso utilizado historicamente por homens, mulheres e crianças, através de um extrativismo integral, cujo fruto, do qual se extrai o “vinho” de açaí, é o produto mais importante atualmente. Durante muito tempo, a extração desse fruto direcionou-se basicamente ao autoconsumo, mas com a crescente demanda de mercado nas últimas décadas, tornou-se uma importante fonte de renda para as famílias ribeirinhas. Em São Sebastião da Boa vista, município marajoara cuja história econômica é marcada pelo o extrativismo vegetal (borracha, madeira, palmito) e por relações socioeconômicas pautadas no aviamento, o fortalecimento da economia do açaí vem gerando importantes redefinições nas interações das famílias ribeirinhas com os açaizais. Neste trabalho, objetiva-se compreender em que medida essas mudanças vêm redimensionando as interações sociedade-natureza e o contexto socioeconômico municipal, tendo em vista a necessidade de estudar mais cuidadosamente as dinâmicas sócio-espaciais amazônicas, sob risco de se incorrer em explicações científicas desvinculadas da complexa realidade regional. |
METODOLOGIA: |
O método baseou-se em levantamento de informações primárias e secundárias. As informações primárias foram obtidas através de entrevistas semi-estruturas com extratores, marreteiros de açaí e proprietários de açaizais. Tendo em vista a ligação dos autores com a área de pesquisa e a natureza do processo investigado, as entrevistas realizadas em São Sebastião da Boa Vista privilegiaram relatos obtidos desde 2004, momento em que se iniciaram pesquisas nesse município. As informações secundárias foram obtidas em referências e documentos pesquisados nas bibliotecas da Universidade Federal do Pará (UFPA), do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) e na Internet. Nas bibliotecas, privilegiou-se a análise da literatura relativa à dinâmica do extrativismo vegetal na Amazônia, centrando-se nas obras que abordam a extração do açaí, tomando-se dessa literatura conceitos e interpretações. Nas demais fontes consultadas, buscaram-se principalmente dados quantitativos, visando complementar as informações qualitativas obtidas nas entrevistas. |
RESULTADOS: |
Constou-se que o extrativismo do açaí vem estimulando a conservação e a ampliação dos açaizais em São Sebastião da Boa Vista, diferentemente de épocas em que o açaizeiro era devastado para dar lugar a formas de cultivo, como a rizicultura, ou abatido para a extração do palmito, prática que exterminou vastos açaizais no estuário amazônico, nas décadas de 1970 e 1980. Todavia, o interesse na ampliação dos açaizais vem engendrando, em certos casos, tipos de manejo tradicional que reduzem a diversidade florestal das áreas de várzeas, visto que privilegiam apenas a manutenção do açaizeiro. Isto se observa ao longo do rio Pracuúba Grande, rio que apresenta as maiores concentrações de açaizais no município e onde o extrativismo do açaí, na época das safras, constitui uma das principais fontes de renda das famílias ribeirinhas. Nesses açaizais, o processo de extração do açaí envolve diversas relações de trabalho, parte delas ainda de caráter bastante assimétrico, como o pagamento de taxas que correspondem a uma pequena parcela do preço do fruto colhido pelo extrator. No âmbito da comercialização, a liberdade de compra e venda parece predominar, mas, ainda assim, identificam-se relações de exclusivismo que fazem lembrar o antigo sistema de aviamento. |
CONCLUSÃO: |
A partir dos resultados, infere-se que a intensificação do extrativismo do açaí em São Sebastião da Boa Vista vem desencadeando importantes redefinições nas interações sociedade-natureza e no contexto socioeconômico boavistense. No que tange ao primeiro aspecto, isto se verifica na medida em que os grupos familiares ribeirinhos vêm orientando suas práticas no sentido de conservar e aumentar as áreas de açaizais, com a intenção de extrair mais frutos e, conseqüentemente, obter maior renda monetária. A possibilidade de obtenção de renda monetária mais imediata torna a atividade extrativa muito importante para as famílias ribeirinhas, que historicamente tiveram envolvidas em relações de aviamento, pautadas na fidelidade com o patrão e no escambo. Esse processo de transformação, contudo, apresenta ainda determinadas situações que relativizam a sustentabilidade ambiental e econômica do extrativismo do açaí, o que não anula sua importância socioeconômica e muito menos permite conjecturas sobre seu declínio, como preconizado em algumas interpretações acerca do extrativismo vegetal na Amazônia. |
Palavras-chave: Extrativismo do Açaí, Interações Sociedade-Natureza, São Sebastião da Boa Vista. |