63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 1. Língua Portuguesa |
TUPINISMO NO PORTUGUÊS FALADO NO MARANHÃO: elementos da fauna |
Edson Lemos Pereira 1 Conceição de Maria de Araujo Ramos 1,2 |
1. Depto.de Letras UFMA/ALiMA 2. Prof. Dra./Orientadora |
INTRODUÇÃO: |
O Maranhão, como parte integrante do território pertencente, no século XVIII, ao Estado Colonial do Maranhão (ELIA, 1979), foi um dos centros brasileiros de maior densidade de falares indígenas pertencentes a dois troncos linguísticos: Macro-Jê e Tupi-Guarani ou Macro-Tupi. Atualmente, o Maranhão conta com uma população de 27.571 índios (IBGE, 2000), distribuídos entre os povos Guajá/Awá-Guajá, Guajajara/Tenethara, Kaapor/Urubu-Kaapor e Tembé/ Tenetehara pertencentes ao tronco linguístico Tupi-Guarani, e Gavião/Pukobiê do Maranhão, Canela/Timbira, Krikati/Timbira pertencentes ao tronco Macro-Jê. Considerando essa realidade histórica e a escassez de estudos linguísticos sobre o tema, justifica-se esta pesquisa geolinguística que se volta para a investigação da presença das línguas indígenas no português falado no Maranhão. A pesquisa tem como objetivo (i) investigar a presença do Tupi(nambá) no léxico da comunidade maranhense, no que concerne às variantes lexicais para nomear elementos da fauna, e (ii) analisar os fatores que influenciaram na manutenção dessas variantes no português falado no Estado. O recorte do campo semântico, fauna, se deve ao fato de parte considerável do léxico relativo à fauna, à flora e às cozinhas regionais brasileiras ter sua origem no Tupi(nambá). |
METODOLOGIA: |
Esta pesquisa de cunho geolinguístico e léxico-semântico desenvolveu-se de acordo com as seguintes etapas: (i) pesquisa bibliográfica na área da geolinguística, dialetologia, lexicologia, semântica e língua indígenas; em obras sobre a História do Maranhão; em documentos produzidos por órgãos governamentais (Fundação Nacional do Índio, Instituto Socioambiental, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pela Igreja Católica (Conselho Indigenista Missionário), para obtenção de dados sobre os povos indígenas que habitam(vam) o Maranhão; (ii) delimitação do corpus e (iii) análise dos dados. Para constituição do corpus, selecionaram-se cinco municípios maranhenses que integram a rede de pontos do Atlas Linguístico do Maranhão– São Luís, Alto Parnaíba, Brejo, Tuntum e Turiaçu – considerando-se um município por mesorregião. Os dados foram coletados por meio da aplicação de um questionário semântico-lexical (QSL) a quatro informantes, por localidade, distribuídos em duas faixas etárias: de dezoito a trinta anos e de cinquenta a sessenta e cinco anos. Os dados foram registrados com um gravador digital Sony; foram catalogados e transcritos grafematicamente. A análise considerou as variáveis: processo de povoamento das localidades, idade e naturalidade dos sujeitos da pesquisa. |
RESULTADOS: |
Ratifica-se a ideia defendida por vários pesquisadores, dentre eles Ilari, Basso (2006), de que parte considerável do léxico relativo à fauna brasileira tem origem no Tupi(nambá). Os resultados obtidos nas cinco localidades investigadas evidenciam essa realidade. As localidades foram, como é o caso de São Luís, ou ainda são exemplos de áreas de concentração de povos indígenas cujas línguas pertencem ao tronco linguístico Tupi(nambá). Observou-se, entre os vinte sujeitos da pesquisa, um predomínio de variantes de origem indígena para as questões do QSL selecionadas (53, 60 e 76) para as quais se tinha como expectativa de resposta, respectivamente, urubu, gambá e praga/pernilongo. A lexia urubu predominou em todos os municípios, totalizando vinte ocorrências; a lexia gambá, com catorze ocorrências, apresentou duas variantes – mucura, com duas realizações, e jeritataca, com uma ocorrência – ambas também de origem indígena. As formas não indígenas praga, com sete ocorrências, e pernilongo, com duas, apareceram ao lado de muriçoca, lexia esta de origem indígena que, por sua vez, apresentou dezessete realizações. Vale ressaltar que apenas três dos vinte sujeitos ouvidos não usaram esta variante. A forma carapanã, também indígena, teve uma ocorrência em Turiaçu. |
CONCLUSÃO: |
No português falado no Maranhão, há tupinismo produtivos no que concerne a elementos da fauna; essa produtividade se justifica pela presença expressiva de áreas indígenas no Estado. Das variáveis selecionadas – idade e naturalidade dos informantes e processo de povoamento das localidades – apenas a última se mostra relevante. Dos tupinismos registrados, urubu foi o mais recorrente, e variáveis como jeritataca (para nomear gambá) e muriçoca e carapanã, para praga/pernilongo evidenciaram a vitalidade dos tupinismos no Maranhão. |
Palavras-chave: Tupinismo, Léxico, Maranhão. |