63ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
Prática de atividade física e gênero: que impacto exercem sobre o desempenho de habilidades motoras fundamentais de pré-escolares?
Kelly Andara de Azevedo 1
Joana Noronha Louzada Magni 1
Maicon Felipe Pereira Pontes 2
Míriam Stock Palma 3
1. Bolsista do Programa de Educação Tutorial ESEF - UFRGS
2. Bolsista de Iniciação Científica - UFRGS
3. Profa. Dra. / Orientadora - Departamento de Educação Física - UFRGS
INTRODUÇÃO:
A infância é considerada uma fase de grande importância para a aquisição de hábitos de vida saudáveis, o que pode ser favorecido pelo prazer que as crianças sentem em se movimentar. Segundo Gallahue e Ozmun (2005), o desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais – estabilizantes, locomotoras e manipulativas – em tenra idade instrumentaliza as crianças a estabelecerem relações mais dinâmicas com o ambiente e posteriormente combinarem tais habilidades de tal forma que possam se apropriar e tornarem-se competentes em atividades características de sua cultura, como os esportes, a dança, a ginástica,os jogos, as lutas. A literatura aponta que crianças participantes de programas sistemáticos de atividade física tendem a apresentar desempenho motor superior às que não se beneficiam de tais práticas. Além disso, estudos recentes têm assinalado o gênero como uma variável que também pode exercer influência sobre esse desempenho. Tendo em vista que na idade pré-escolar as investigações relacionadas ao tema não são conclusivas e a literatura escassa em relação a essa faixa etária, propusemo-nos a avaliar e comparar o desempenho motor de meninos e meninas, praticantes e não praticantes de atividade física sistemática, relativamente às atividades de locomoção e de controle de objetos.
METODOLOGIA:
Participaram da amostra oitenta e oito crianças (40 meninos e 48 meninas / 52 praticantes e 36 não praticantes), com idades entre 4 e 6 anos (M= 5,64; DP= 0,50), matriculadas em turmas de Jardins de infância de cinco escolas de Porto Alegre. Foram consideradas praticantes de atividade física sistemática as crianças participantes de programas de movimento/educação física com frequência igual ou superior a duas vezes semanais. Para a verificação do desempenho motor foi utilizado o Test of Gross Motor Development – Second Edition (TGMD-2), de Ulrich (2000), o qual avalia doze habilidades motoras amplas, divididas em dois subtestes: locomotor (corrida, galope, saltito, passada, salto horizontal e corrida lateral) e de controle de objetos (rebatida, drible, recepção, chute, arremesso por cima do ombro e rolar). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRGS, sob nº 2008166. Neste estudo foram obtidos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, assinado pelos pais/responsáveis das crianças, bem como o Termo de Consentimento Institucional, assinado pelos diretores das escolas. Além disso, a concordância verbal de cada criança foi considerada para a sua participação na investigação. Para a análise estatística dos dados foi utilizado o software SPSS versão 18.0.
RESULTADOS:
Através do teste Mann Whitney foi comparado o desempenho motor de crianças praticantes e não praticantes de atividade física sistemática, verificando-se que houve superioridade de desempenho para os praticantes nas habilidades locomotoras (p= 0,0004), de controle de objetos (p= 0,017) e no Coeficiente Motor Amplo (CMA) (p= 0,0003). Utilizando-nos ainda do teste de Mann-Whitney para a comparação entre o desempenho motor de meninos e meninas, não foi constatada diferença significativa entre os gêneros, tanto nas habilidades de locomoção (p= 0,094) e de controle de objetos (p= 0,392), quanto no CMA (p= 0,807). Quando comparados meninos praticantes (n=23) com meninos não praticantes (n=17), foi observada, através do teste de Mann-Whitney, superioridade de desempenho dos praticantes nas habilidades locomotoras (p= 0,034) e no CMA (p= 0,024) e similaridade de desempenho nas habilidades de controle de objetos (p= 0,160). Tendo-se conduzido o Teste t da Student para amostras independentes para a comparação entre o desempenho motor de meninas praticantes (n=29) e meninas não praticantes (n=19), verificou-se diferença significativa nas habilidades locomotoras (p= 0,002), de controle de objetos (p= 0,034) e no CMA (p= 0,001), com superioridade das praticantes.
CONCLUSÃO:
Nossos resultados confirmam os achados de outras investigações, que apontam para o impacto positivo que a prática sistemática de atividade física exerce sobre o desempenho de habilidades motoras fundamentais das crianças, habilidades essas tão importantes para o desenvolvimento infantil. A similaridade de desempenho entre os gêneros indica que características físicas de meninos e meninas em idade pré-escolar podem não ser variáveis influentes no seu nível de desempenho motor e/ou que as crianças de ambos os gêneros participantes desta investigação podem estar se envolvendo de forma semelhante em atividades físicas. Entretanto, ao analisarmos mais detalhadamente a interação entre essas duas variáveis (prática de atividade física sistemática e gênero), ficou evidenciado que tanto os meninos quanto as meninas apresentam ganhos significativos em habilidades motoras ao participarem de programas de movimento/educação física. A exceção – similaridade de desempenho em habilidades de controle de objetos entre meninos praticantes e não praticantes – pode estar relacionada ao fato de que os meninos não praticantes de atividade física sistemática podem estar desenvolvendo aquelas habilidades em atividades não sistematizadas, como, por exemplo, em brincadeiras com bola na rua, no parque, etc.
Palavras-chave: Gênero, Prática Sistemática de Atividade Física, Desenvolvimento motor.