63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
REVELANDO ASPECTOS DA APRENDIZAGEM DE CONCEITOS BÁSICOS DE QUÍMICA POR MEIO DA TEORIA SÓCIO HISTÓRICA DE VIGOSTKI
Eduardo Ribeiro Mueller 1
Irene Cristina de Mello 2
1. Mestrando - Programa de Pós Graduação em Educação – PPGE/IE/UFMT
2. Profa. Dra./ Orientadora – Programa de Pós Graduação em Educação – PPGE/IE/UFMT
INTRODUÇÃO:
Este trabalho apresenta uma investigação sobre a aprendizagem de conceitos químicos na Educação do Campo, em uma unidade da rede estadual de ensino do município de Terra Nova do Norte, no Estado de Mato Grosso. A proposta desta escola contempla um ensino contextualizado, por área de conhecimento, onde o trabalho pedagógico não prioriza os conhecimentos específicos das disciplinas frente aos conceitos, carregados de concepções prévias, provenientes de uma abordagem mais macroscópica dos temas propostos e, consequentemente, faz emergir lacunas no processo de ensino de conceitos estruturantes. Em relação à disciplina de Química, são evidentes as dificuldades de leitura e interpretação de sua linguagem específica, tais como símbolos, fórmulas, modelos e gráficos. Diante disso, este trabalho investigou a aprendizagem de alguns conceitos básicos da química, mediante o pensamento de estudantes, considerando a organização, a tomada de decisão e critérios utilizados para resolução de problemas previamente estruturados. A importância de trabalhos desta natureza assenta-se na possibilidade de elaboração de um perfil deste estudante frente ao conhecimento problematizado, dando abertura a reflexões, reelaborações, tomada de consciência etc., acerca do processo de ensino-aprendizagem.
METODOLOGIA:
Este trabalho optou pela abordagem qualitativa de pesquisa, com elementos de estudo de caso, sendo que as etapas de realização, após autorizado pela escola e professores, compreenderam, nesta ordem: a leitura dos projetos pedagógicos da escola e da área de Ciências da Natureza, para compreensão da proposta e levantamento de conceitos trabalhados; convite a 9 estudantes, dos quais 8 aceitaram; aplicação aos estudantes de um roteiro para a escrita de um memorial e sete testes sobre a linguagem química, tentando evidenciar o processo acerca de sua tomada de decisão. Os resultados dos testes foram apresentados em sala, registrados em mídia do tipo vídeo, e depois transcritos para análise. Todas essas etapas, com exceção da transcrição dos resultados, aconteceram na sala de aula dos alunos participantes, em horário de aula designado para este fim, durante o tempo de permanência dos mesmos na escola. Todos os momentos com os alunos contabilizaram oito horas de trabalho.
RESULTADOS:
A qualificação dos resultados ocorreu, inicialmente, pela leitura dos memoriais dos 8 sujeitos da pesquisa. Os meninos (Seis) descreveram seu envolvimento em atividades da pecuária, como tirar leite, roçar pastos, apartar bezerros, etc; as meninas (duas), em trabalhos domésticos diversos. Todos elogiaram sua escola quanto à pedagogia da alternância praticada agora em detrimento das aulas mecânicas de antes, mas pouco souberam relatar sobre suas memórias acerca do conhecimento de química, requisitada no roteiro. A qualificação dos testes se deu pela leitura das sequências de diálogo transcritas nas apresentações dos mesmos, evidenciando aspectos de pensamento muito voltados a uma tomada de decisão alicerçada nas relações concreto factuais (ver vigotski – Pensamento e Linguagem), apresentando categorias do pensamento complexo como associação por semelhança e pseudoconceito. Algumas análises evidenciaram comportamentos classificáveis ao pensamento sincrético, mas esta etapa de desenvolvimento não foi alocada como categoria nesta abordagem. Algumas leituras demonstradas sugeriram que tais alunos estariam operando o conhecimento com mediação semiótica, mas nenhum dos testes, pela falta de aspectos generalizantes, teve condições de afirmar se representavam conceitos verdadeiros.
CONCLUSÃO:
Uma averiguação importante em torno dos resultados obtidos nesta investigação, trata da dificuldade demonstrada pelos estudantes em compreender os enunciados das questões, aferindo a eles uma interpretação equivocada. Isso é importante, porque interfere diretamente na tomada de decisão quanto à resposta ao desafio e, também porque não tem subordinação somente ao conhecimento problematizado. Portanto, essa é uma característica que sugerimos fazer parte do perfil desses estudantes. No que tange à leitura e interpretação do conhecimento químico, identificamos falta de mediação na resolução dos testes. Era o texto, a fórmula, o modelo, o signo que deveriam ser desvendados, a partir de si mesmos, e suas leituras corretas não estavam interligadas a informações que pudessem ser consultadas no instrumento oferecido a eles para esse fim. Tomadas de decisão sem a devida mediação no trabalho com linguagens abstratas e diversificadas, como no caso da química, tem relevante influência na aprendizagem como produto de um processo de ensino. Assim, fica evidenciado que aspectos de mediação, instrumentais e semióticos, devam ser considerados na aprendizagem desses estudantes, cujo perfil epistemológico pode estar com a zona de desenvolvimento proximal enfraquecida e desassistida.
Palavras-chave: Aprendizagem, Linguagem Química, Educação do Campo.