63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
A PERCEPÇÃO DAS MÃES DIANTE DA REALIDADE DE SEU(S) FILHO(S) EM CONFLITOS COM A LEI
Iraci Bárbara Vieira Andrade 1
Francisco Horácio da Silva Frota 2
1. Depto. de Ciências Sociais, Universidade Estadual do Ceará -UECE
2. Prof. Dr./Orientador – Depto. de Ciências Sociais - UECE
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho analisa a percepção das mães sobre seus filhos em conflito com a lei. O objetivo é perceber como esta, figura de alta representatividade para os jovens, os percebem diante dos conflitos de ordem moral, ético e afetivo, como enfrentam o fato da punição e como explicam o envolvimento do filho com a criminalidade. O estudo analisa como as mães se portam em três contextos. O primeiro se refere à percepção que elas possuíam do filho antes do envolvimento com as práticas ilegais, o segundo foi a percepção diante do conhecimento do envolvimento destes com as transgressões penais, e o terceiro contexto foi a percepção delas diante da necessidade de cumprimento de medidas socioeducativas pelos filhos. A importância desta pesquisa se revela pela necessidade de perceber como a família e, principalmente, a mãe se encontra inserida na prática das medidas socioeducativas, tendo a imagem da mãe desses jovens como ferramenta de profunda importância na (re) socialização do jovem em conflito com a lei.
METODOLOGIA:
A metodologia utilizada foi qualitativa, aonde foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas com dez mães de jovens que vêem cumprindo medidas socioeducativas, o foco foi naquelas em que os filhos se encontram no processo de Liberdade Assistida, outro critério de seleção foi o bairro onde essas mães residiam com seus filhos. Foram escolhidas as mães do Bairro Grande Bom Jardim, localizado na periferia de Fortaleza. Tais entrevistas foram gravadas, decodificadas, transcritas e submetidas a uma análise de conteúdo. Também foi utilizada pesquisa bibliográfica a fim de trazer uma discussão teórica ao assunto, trazendo à luz conceitos como; juventude(s), família, medidas socieducativas. Para isso estudou-se Castro e Aquino (2008), Dayrell e Gomes (2009), Freitas (2003), Novaes (2006), Soares (2004), Dubar (2007), Groppo (2000) entre outros.
RESULTADOS:
Durante a pesquisa percebeu-se três conflitos principais para essas mulheres. A responsabilidade que elas sentem em estar presente nas visitas, a necessidade de uma vigilância constante sobre os filhos e a decepção destas com os filhos. Durante as entrevistas outro ponto foi revelado, as causas para esses jovens infringirem a lei. As mães apontaram como causas as amizades (já que seus filhos possuíam amizades com outros jovens que participavam de gangues, que praticavam atos delituosos e para elas foram estes jovens que iniciaram seus filhos às contravenções), o bairro (o Grande Bom Jardim é considerado um dos cinco mais violentos da capital cearense pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará). Desta forma podemos perceber através das entrevistas os conflitos que são postos as essas mulheres e a participação conclusiva delas para o cumprimento da medida socioeducativa, além da responsabilidade posta sobre elas para evitar a reincidência do jovem.
CONCLUSÃO:
Percebe-se com esta pesquisa o processo de vitimização e privação de liberdade pelo qual essas famílias passam. Advindas de um bairro da periferia de Fortaleza, essas famílias convivem com a realidade precária que o Estado oferece, e até mesmo com ausência deste em certas localidades do bairro que é dividido internamente (Paiva, 2008), algumas áreas são urbanizadas contendo casas de melhor qualidade, enquanto outras regiões do bairro convivem com a precariedade e ausência de qualquer política pública. Convivendo com essa realidade, as mães que possuem filhos em cumprimento de medida socioeducativa se sentem com a responsabilidade dobrada, diante da esperança de um futuro digno para seus filhos. Nas conversas realizadas com as mães percebe-se a ausência do pai, e entende-se que a mãe passa a ser a única referência de família para esses jovens. Daí nota-se a importância desta para (re) socialização desses jovens para o convívio social. Visto que a família é responsável pela construção da consciência e consequentemente da subjetividade dos indivíduos (Osterne, 2004).
Palavras-chave: Família, Juventude, Socieducação.