63ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 3. Química Analítica
FOLHAS DE ÁRVORES FRUTÍFERAS COMO INDICADORES DE CONTAMINAÇÃO RADIOATIVA AMBIENTAL
Giullia Vavassori 1
Raquel Maia Mingote 2
Eliane Eugênia dos Santos 2
Alexandre Pereira de Bakker 3
1. Depto. de Engenharia, Engenharia Ambiental, Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC-GO
2. Co-orientadora - Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste - CRCN-CO / CNEN
3. Orientador - Centro Regional de Ciências Nucleares do Centro-Oeste - CRCN-CO / CNEN
INTRODUÇÃO:
É importante se conhecer a linha de base de radiação natural para identificação de uma possível contaminação radioativa a qual pode surgir através de ações antropogênicas ou liberação acidental de radioatividade no ambiente. Através dos principais constituintes ambientais - solo, água e ar - a contaminação pode atingir as plantas e em especial as folhas, devido absorção foliar por “fallout” e nutrição.
Alfa/beta total é um dos procedimentos de “screening” nas áreas de radioecologia e monitoração ambiental. Nos últimos anos o sistema de espectrometria de cintilação em meio líquido (LSC) com separação alfa/beta (PSA) tem sido utilizado na determinação de alfa/beta total em água. A técnica se destaca pelas altas eficiências de detecção, baixa radiação de fundo, ausência de auto-absorção e possibilidade de análise simultânea de radionuclídeos emissores beta de baixa energia.
Este trabalho visa o desenvolvimento de uma metodologia que permita a análise rápida de alfa/beta total em amostras sólidas por LSC para estabelecimento dos níveis de base de radiação natural para futuras monitorações. Com este propósito foram selecionadas folhas de frutíferas com o objetivo de se conhecer àquelas com maior potencial bioindicadoras de radioatividade.
METODOLOGIA:
Árvores frutíferas localizadas na área do Parque Telma Ortegal, onde situa-se as instalações do CRCN-CO, foram georeferenciadas. Foram selecionadas 6 espécies a saber: cagaita, goiaba, jabuticaba, limão, manga e pequi. Suas folhas foram coletadas, limpas, secas (70 °C), trituradas e peneiradas. Foi utilizado um sistema de detecção de LSC de ultra baixo nível de radiação e discriminação alfa/beta. Cerca de 100 mg de folhas foram pesadas em frascos para LSC de polietileno e adicionados 6 mL de água deionizada. Um misto de coquetéis de cintilação (10 mL de Instagel e 4 mL de Ultima Gold F) foi adicionado para determinação das radioatividades alfa/beta total. Réplicas foram preparadas pela adição de 100 mg de KCl (p.a.) para avaliação da eficiência de detecção beta (K-40). As condições de operação foram determinadas a partir de estudos anteriores pela interpolação de curvas de “spillover” utilizando padrões de Am-241 e K-40. As amostras foram contadas em PSA 70, por 270 minutos (repetições de 30 minutos). Uma vez que não foi observada contagem alfa acima dos limites de “background”, os cálculos foram realizados apenas para beta total.
RESULTADOS:
A mistura de coquetéis e água manteve a amostra de folhas em suspensão permitindo a contagem das mesmas. Todas as amostras ficaram abaixo do limite de detecção alfa estimado em 0,05 Bq/g. K-40 foi selecionado para calibração beta por ser um dos principais constituintes de radioatividade natural. O “quenching” foi monitorado pelo indicador SQP(E) o qual variou no intervalo de 507-543 apresentando uma eficiência beta média de 61 ± 4 % (1 sd.). Observou-se uma significativa redução na eficiência beta, de 82 % (SQP(E)=760, sem folhas) para 61 % (SQP(E)=530, com folhas). Apesar do alto “quenching” foi possível a detecção, sendo estimado um limite de detecção para beta total de 0,07 Bq/g considerando um nível de confiança de 95 %.
A radioatividade beta total das amostras de folhas de frutíferas variou de 0,2-1,0 Bq/g com média de 0,6 ± 0,3 Bq/g (1 sd.). Folhas de cagaita e limão mostraram os menores e maiores valores de radioatividade, respectivamente. Estes resultados indicam a cagaita com maior potencial bioindicador de contaminação visto que apresentou menor radioatividade natural comparativamente às demais espécies aqui analisadas. Os valores encontrados nas folhas de frutíferas estão dentro das médias de K-40 determinados em alimentos vegetais consumidos na Região CO (0,05-2,03 Bq/g).
CONCLUSÃO:
A metodologia estudada mostrou resultados promissores como uma técnica de “screening” rápida para avaliação de uma possível contaminação ambiental. Os resultados obtidos correspondem ao nível de radiação natural observados em outras espécies vegetais. Trabalhos futuros deverão ser executados pela análise de novas amostras de cada uma das frutíferas selecionadas para confirmação e estabelecimento de uma linha de base de radiação natural e identificação das espécies de maior potencial bioindicador.
Palavras-chave: Radioatividade natural, LSC, bioindicador.