63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 5. História - 2. História do Brasil |
A SEICHO-NO-IE DO BRASIL E O AUTÊNTICO PARAÍSO TERRESTRE: O MATIZ RELIGIOSO DA NIPO-BRASILIDADE (1966-1970) |
João Paulo de Paula Silveira 1,2 Élio Cantalício Serpa 3 |
1. Prof. Ms. Colégio Estadual Ariston Gomes da Silva. 2. Prof. Ms. Universidade Estadual de Goiás - Unidade Iporá 3. Prof. Dr./Orientador - Depto de História - UFG |
INTRODUÇÃO: |
A presente pesquisa teve como objeto a instituição religiosa de origem japonesa Seicho-no-Ie do Brasil (Lar do Progredir Infinito). Percebemos esse grupo religioso enquanto zona de contato produtora de uma das variáveis da identidade nipo-brasileira. A relevância dessa pesquisa se deve à necessidade de nos atentarmos à presença de arranjos identitários difusos ao longo da história brasileira contemporânea, o que a inclui a identidade hifenizada dos nipo-brasileiros. Fundada no Japão em 1930 por Masaharu Taniguchi e trazida para o Brasil pelos imigrantes, a Seicho-no-Ie, a partir da década de 1960, abandonou sua rotura étnica e iniciou o processo de abertura ao público brasileiro. Encaramos essa abertura enquanto forma de envolvimento e negociação cultural entre alguns setores da colônia japonesa e a cultura brasileira. Nosso objetivo é compreender como se deu a negociação entre elementos culturais distintos, suas estratégias e os novos arranjos oriundos dessa negociação. |
METODOLOGIA: |
A pesquisa foi conduzida a partir da análise das edições da Revista Acendedor de 1966 à 1970. Essa revista foi o principal veículo doutrinário e informativo da Seicho-no-Ie naquele momento. Os conteúdos da revista foram problematizados considerando as condições da colônia japonesa e sua necessidade de construir uma identidade que desse conta do duplo pertencimento ao Brasil e ao Japão. Na condução da análise nos atentamos para a apropriação de elementos da cultura brasileira, sobretudo do contexto político da década de 1960, a partir da utensilagem religiosa da Seicho-no-Ie. Por fim, analisamos como o Brasil era representado nos textos dos periódicos. |
RESULTADOS: |
A abertura da Seicho-no-Ie à comunidade brasileira expressava um novo momento da colônia japonesa. Entendemos que esse processo foi parte da acomodação dos japoneses e das gerações descendentes à cultura nacional, verificada em vários outros setores como no comércio e na educação. Em nosso caso, a religião serviu como espaço mediador entre dois universos culturais distintos. Essa mediação foi realizada a partir da apropriação da cultura brasileira e principalmente do discurso político da década de 1960, contexto da ditadura militar. O discurso oficial do regime, sobretudo a aversão ao socialismo e a ênfase às hierarquias, foi rearranjado pelo grupo religioso a partir dos elementos da cultura japonesa anteriores à Segunda Guerra e que ainda orientavam a utensilagem doutrinária da Seicho-no-Ie. Esses elementos constituiamo nacionalismo oficial japonês ou Xintoísmo de Estado. Grande parte dos artigos da Revista Acendedor, hoje intitulada Fonte de Luz, manifestavam o apreço pelo Brasil, apresentando-o como terra acolhedora dos japoneses e da diversidade e, por isso mesmo, um “Autêntico Paraíso Terrestre” e verdadeiro lar. Além disso, são constantes as preleções em favor do respeito e adesão ao discurso das autoridades governamentais. |
CONCLUSÃO: |
A doutrina da Seicho-no-Ie traz consigo elementos do nacionalismo oficial japonês do período anterior à Segunda Guerra Mundial. Esses arranjos simbólicos permitiram a ressemantização de formas de pertencimento ao Brasil, entre eles os mitos fundacionais e o discurso nacionalistas desenvolvido pelo Estado Militar (1964-1985). A Seicho-no-Ie do Brasil respondia à necessidade de envolvimento da colônia japonesa com a sociedade nacional. Ao definir o Brasil enquanto "Autêntico Paraíso Terrestre", a expressão religiosa revestiu o Brasil de representações oriundas da cultura japonesa, em especial o que diz respeito às hierarquias e à cooperação com as autoridades. Surge uma síntese cultural e política capaz de permitir aos japoneses e descendentes filiados ao grupo religioso habitarem simultaneamente em duas tradições. Habitar em duas tradições significa para o imigrante japonês e seus descendentes manter vivos os elementos da cultura da terra natal ou dos antepassados sem perder de vista que naquele momento viviam em um novo contexto, em um novo lar, o Brasil, que se tornou a morada definitiva. |
Palavras-chave: religiões japonesas, identidade hifenizada, nipo-brasileiros. |