63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
BRINCAR E APRENDER COM A HORTA DA CRECHE: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE CIÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniel Trinta Figueira Louro 1
Simone Rocha Salomão 2
Laís de Paula Pereira 1
1. Instituto de Biologia - UFF
2. Profa. Dra./ Orientadora - Faculdade de Educação - UFF
INTRODUÇÃO:
Aspectos do Ensino de Ciências no contexto da Educação Infantil vêm sendo discutidos em diversas pesquisas, destacando-se sua importância para o início da alfabetização científica das crianças e para sua formação integral, na perspectiva de produzirem significados para a compreensão do mundo natural e social. O trabalho prático e as abordagens lúdicas de temas científicos junto às crianças podem contribuir para a aquisição de valores, a ampliação de seu vocabulário e o desenvolvimento de habilidades ligadas a esse campo de conhecimento. Entre outras atividades relevantes, a construção e manutenção de uma horta escolar têm se mostrado como uma importante estratégia para a discussão de temas ecológicos e ambientais em todos os níveis de ensino. O presente estudo se desenvolveu no contexto de um projeto de extensão universitária, implementado em 2010 na Creche UFF, com crianças de 4 a 6 anos, visando refletir sobre a tensão entre brincadeiras espontâneas e atividades orientadas com caráter lúdico, a partir do trabalho com a horta escolar, e discutir aspectos teórico-metodológicos do ensino de Ciências na Educação Infantil.
METODOLOGIA:
O trabalho empírico consistiu em atividades desenvolvidas ao longo de 2010, na Creche UFF, com turma de crianças de 4 a 6 anos, articuladas ao planejamento pedagógico da Creche. Foram realizados quatro blocos de atividades: (i) construção de uma horta no terreno da Creche, ao longo de dois meses, incluindo limpeza dos canteiros já existentes, preparação do solo, semeadura e acompanhamento da germinação e crescimento dos vegetais e produção de alguns frutos; atividades experimentais sobre fisiologia vegetal; (ii) após um período de acompanhamento do desenvolvimento da horta, foi realizada uma roda de conversa, com exposição de imagens e discussão de aspectos pertinentes à produção agrícola e conservação ambientação; (iii) atividade lúdica, a partir da leitura de uma carta fictícia de um observador secreto da horta, avaliando e incentivando a conservação e manutenção dos canteiros e (iv) atividades de revitalização da horta. Os registros da participação e da fala das crianças durante as atividades constituíram os dados para as análises qualitativas, buscando compreender a importância das brincadeiras para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças e o potencial pedagógico da horta, quando implementada por uma abordagem lúdica, para o ensino de Ciências nesse segmento.
RESULTADOS:
A proposta da horta foi aceita com entusiasmo pelas crianças. Após a apresentação das ferramentas de jardinagem, foram introduzidos conteúdos referentes à necessidade de água, papel da minhoca, aeração da terra, sementes e utilização de adubo. A oferta de variadas sementes e definição de uma porção do canteiro para cada grupo de criança cuidar estimularam seu poder de escolha e senso de responsabilidade. No intervalo entre plantio e germinação, percebemos a diminuição do interesse das crianças, que retornou quando os vegetais surgiram e cresceram, despertando atenções e cuidados com a horta, evidenciados pela vontade de molhá-la e de observar as novidades que se manifestavam. Os experimentos realizados nesse momento contribuíram para ampliar os conhecimentos. Na roda de conversa explorando imagens relacionadas à horta, agricultura e conservação do solo, as crianças participaram ativamente, demonstrando conhecimentos prévios, capacidade de argumentação e relações que traçaram entre os conteúdos apresentados e os trabalhados nas atividades anteriores, sempre mesclando com brincadeiras e imaginação. A leitura da carta secreta permitiu sistematizar informações sobre os temas tratados e captar novos sentidos produzidos pelas crianças, além de incentivar a revitalização da horta.
CONCLUSÃO:
A partir das análises, entendemos que ter clareza de que a ação de brincar e suas implicações para as crianças, principalmente como produtora de significados e de conhecimentos, é de extrema importância para quem atua no segmento da Educação Infantil. Consideramos que, independentemente da natureza da atividade realizada com crianças, é preciso estabelecer uma conduta baseada na ludicidade. Não seria diferente ao agir explorando conteúdos que integram o Ensino de Ciências na Educação Infantil. Cabe então investir no desenvolvimento de atividades práticas e experimentais aliadas a atividades lúdicas a fim de se adequar ao pensamento sincrético da criança, que mescla realidade e fantasia. Concluímos que ao estabelecermos, para as crianças da Creche, uma prática cotidiana através das atividades lúdicas orientadas em torno da horta, contribuímos para o campo das brincadeiras, visto que essas se constituem a partir de referências buscadas no cotidiano. Com as atividades da horta, pudemos promover junto às crianças a construção de conhecimentos em Ciências e de valores éticos e sociais, ao mesmo tempo em que abrimos perspectivas para o seu brincar, oferecendo novos conteúdos e procedimentos.
Palavras-chave: Ensino de Ciências, Educação Infantil, Horta Escolar.