63ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 10. Comunicação - 8. Comunicação |
COMUNICAÇÃO EM PARÂMETROS INTERÉTNICOS: O USO DO CELULAR EM SANTA ROSA DO PURUS |
Uriens Maximiliano Ravena Cañete 1 Voyner Ravena Cañete 2 Ivânia dos Santos Neves 1 |
1. Comunicação Social - Jornalismo, C. de Estudos Sociais Aplicados-UNAMA 2. Profª Drª - Instituto de Ciências Biológicas - UFPA 3. Profª Drª/Orientadora – Centro de Ciências Sociais Aplicadas -UNAMA |
INTRODUÇÃO: |
A comunicação transformou o século XX e vem construindo o século XXI perfilado por processos comunicacionais mediados através de diversos instrumentos de mídia. Dentre estes, o celular certamente aparece como uma das ferramentas mais acessíveis, dado seu valor de mercado e sua condição multifinalitária. Viabilizando o contato interpessoal através da conversa telefônica, consolida-se como um instrumento de multimídia e acesso a internet. A comunicação no mundo contemporâneo perfila espaços urbanos, rurais e mesmo de fronteiras interétnicas. Este trabalho trata da chegada do celular em Santa Rosa do Purus, um município brasileiro fronteiriço entre o Brasil e o Peru que apresenta aproximadamente 50% de sua população composta por indígenas. Evidencia como o celular, enquanto instrumento de mídia, vem transformando o modo de vida da população desse município, perfilando novas práticas de sociabilidade entre seus moradores, pois possibilita a inserção de indivíduos excluídos do mundo digital e comunicacional, em um espaço que antes era limitado ao acesso exclusivo de outros veículos de mídia e comunicação. |
METODOLOGIA: |
O trabalho de campo foi realizado aplicando instrumentos de coleta de dados de caráter qualitativo, especificamente questionários e entrevistas semi-estruturadas utilizados de forma a capturar o uso do celular entre os moradores do município. Duas semanas de pesquisa cumpriu essa etapa, com algumas viagens realizadas pelo Rio Purus a duas aldeias indígenas, em especial: Aldeia Canamary da etnia Kulina e aldeia Nova Mudança, pertencente aos Kaxinawá, além da estada entre ribeirinhos. Ademais dos questionários e entrevistas semi estruturadas, um vasto acervo fotográfico do município foi construído. A transcrição das entrevistas e a sistematização dos dados foram efetivadas no programa NVIVO. |
RESULTADOS: |
Práticas recorrentes de sociabilidade marcadas por reciprocidade, como favores entre vizinhos, trocas entre famílias indígenas, mostraram-se alteradas no discurso dos moradores após a chegada do celular. Por outro lado foi evidenciado também o fortalecimento entre as comunicações nas relações parentais mais próximas, entre irmãos e familiares de municípios diferentes, tanto no caso dos brancos como entre os indígenas, pois que, no caso destes, o celular substitui o uso do rádio transmissor de uso exclusivo da FUNASA. Atividades simples, mas complicadas pela distância e dificuldade de acesso que marcam o cotidiano do município, passam a ser simplificadas através do celular. Ao mesmo tempo, o relato do encurtamento de distância proporcionado pela comunicação através do celular, mostra-se presente e constante no relato dos entrevistados. Por outro lado esse aparelho é evidenciado no discurso dos moradores brancos como um instrumento que confere status social, especialmente na relação comparativa entre os indígenas. Vale observar as diferentes hierarquias entre os variados modelos de celular: os que dispõem de internet, os que oferecem recursos musicais, e como essas alternativas interferem e forjam processos de sociabilidade. De toda forma, as entrevistas evidenciam a ausência de dificuldades de uso do aparelho, tanto entre indígenas como entre brancos. |
CONCLUSÃO: |
O celular e a tecnologia da comunicação aparecem entre os moradores de Santa Rosa do Purus como instrumentos que reforçam o individualismo e minimizam as relações de sociabilidade entre os moradores brancos da cidade. O celular potencializa a lógica do sistema: o comerciante usa para negociar, o adolescente para conversar e usufruir de diferentes ferramentas de multimídia, etc. As práticas de sociabilidade entre os brancos vêm alterando-se após a chegada do aparelho, pois relações de reciprocidade que se materializam em favores entre vizinhos, em decorrência das dificuldades de comunicação e contato, passam a ser menos freqüentes. No caso dos indígenas, o celular mostra-se de fato como uma possibilidade de acesso e inserção aos significados do mundo dos brancos, mas, sobretudo, evidencia-se como um instrumento de integração territorial, pois ao encurtar distâncias fortalece relações de parentesco e, ao contrário do cenário vivido entre os brancos, o aparelho reforça processos de reciprocidade. A única certeza na mudança é a eficiência no processo de comunicação. |
Palavras-chave: Comunicação, Sociabilidade, Celular. |