63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História
HEMETÉRIO JOSÉ DOS SANTOS: UM HOMEM DE LETRAS E DE COR
Tadeu Luis Maciel Rodrigues 1
William Câmara Barros 1
Greig Rayner Freire Lira 1
Acildo Leite da Silva 2
1. Depto de História, da Universidade Federal do Maranhão - UFMA
2. Prof. Dr./ Orientador - Depto da Educação - UFMA
INTRODUÇÃO:
O propósito deste trabalho é discorrer sobre a trajetória biográfica e a produção do educador maranhense, Hemetério José dos Santos, nomeado Professor Adjunto do Curso Secundário do Colégio Militar do Rio de Janeiro em 1890. Como homem negro e de ação, Hemetério engajou nas discussões sobre a questão da identidade racial no Brasil de seu tempo, era um intelectual, escritor, professor, filólogo que, entre o final do século dezenove e as primeiras décadas do século vinte, produziu intenso debate em torno das questões raciais, com os homens de letras de sua época. No presente trabalho, lançamos no desafio de trazer a tona o seu existir e o seu pensar, questionando ainda o porquê de seu esquecimento, sem perder de vista o contexto histórico do Brasil no período destacado. Há que considerar que trata-se de um trabalho sobre trajetória de um homem que por sua posição sofreu exclusão da sociedade da época devido a sua cor e seu posicionamento diante do preconceito no Brasil, no entanto a relevância da pesquisa é de mostrar através do biografado, o quanto as teorias racialistas vigentes naquele momento impossibilitavam o respeito e reconhecimento de um homem de cor.
METODOLOGIA:
O presente trabalho teve como ponto de partida discussões no Grupo de Estudos História Cultural Educação e Relações Étnico-Raciais, que a partir da biografia do Professor Hemetério dos Santos apresentada pela pesquisadora Maria Lucia Muller, interessamos em pesquisar principalmente as lacunas no que tange a sua infância, o seu processo de escolarização no Maranhão, principalmente a instrução primária para a qual estamos fazendo levantamento documental no Arquivo Público do estado do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras bem como nas bibliografias sobre as instituições escolares no Maranhão oitocentista. Outro foco da pesquisa é levantamento da sua produção intelectual – Carta aos Maranhenses, O livro dos meninos e Pretidão do amor e as cartas e artigos publicados nos jornais Gazeta e O Paiz na primeira década do século XX. O levantamento esta junto a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. Nessa primeira etapa estamos procedendo à análise da sua obra Fructos Cadivos apreendendo através da linguagem poética o discurso da positividade da identidade negra.
RESULTADOS:
Como resultados, notamos que Hemetério dos Santos teve renomada influência como intelectual no Rio de Janeiro, o que pode ser comprovado pela sua contratação pela Escola Normal do antigo Distrito Federal, onde foi professor e teve por essa instituição adotado o seu Compêndio de Grammatica Portugueza em substituição ao Compêndio, elaborado pelo Dr. Alfredo Gomes, ou seja, sua capacidade intelectual foi indiscutível. Esse fato acabou levando ambos a uma discussão fervorosa na imprensa, nos jornais A Gazeta e O Paiz. A pesquisadora Maria Lucia Muller é categórica ao afirmar que nesse embate “havia toda sorte de demonstração de erudição, ambos discordavam sobre as posições tomadas por um e por outro”. A pesquisa nos levou a discordâncias quanto à data de nascimento do biografado em relação a outros estudos com esse mesmo personagem, pois temos como fonte primária o seu registro de batismo.
CONCLUSÃO:
Concluímos com base na pesquisa, que a trajetória do biografado tem possibilitado apreender o engajamento de um intelectual no reconhecimento social de sua identidade bem como das condições e das relações racialistas no Brasil da primeira década da república. Porém por sua condição negra custou-lhe o esquecimento do ambiente intelectual, pois sua posição diante das teorias raciais se confrontou com os ideais do pensamento Brasil recém republicano. O fato de ele ter sido aceito como professor de uma renomada instituição de ensino do período nos levou a acreditar que alguns intelectuais como Manoel Bonfim, Emílio de Menezes entre outros, tinham consciência de sua erudição, porém sua condição aliada a sua posição racial, bem como a fama de polemista e discutidor tornou-lhe a vida muito mais difícil.
Palavras-chave: Trajetória, Homem-de-cor, Questão racial.