63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira |
ASPECTOS POPULARES NA DRAMATURGIA DE LOURDES RAMALHO |
Daniel de Campos Oliveira 1 Edil Silva Costa 1,2 |
1. Departamento de Educação – Campus II - UNEB 2. Profa. Dra. |
INTRODUÇÃO: |
Integrante do projeto Acervo de Memórias e Tradições Orais da Bahia: Outras Linguagens, a pesquisa ateve-se somente ao estudo de alguns aspectos populares nos textos do teatro nordestino. Para isso foi estudada a obra A Eleição, da autora Lourdes Ramalho. O teatro é visto aqui como um potencializador de um discurso. Paul Zumthor em A letra e a voz (1993) esclarece a potencialidade que um texto ganha ao ser dito e como isso era extremamente respeitado nos períodos medievais. Pensando a arte como um possível construtor de verdades, se aceita que “a arte não apenas representa o real, mas institui o real” (ALBUQUERQUE, 2009). E é acreditando nisso que este trabalho pretende discutir as representações no imaginário popular a partir do teatro. Os textos de Lourdes Ramalho fazem parte de um sistema literário que visa caracterizar o teatro popular do Nordeste. E, dentre outros, classifica este modo de produção cultural como um sistema que envolve estética e discurso, valorizando as matizes culturais ibéricas no Nordeste e desprezando outras bases étnicas na cultura denominada popular. Baseado na perspectiva dos estudos culturais pretende-se analisar como o teatro construído e divulgado como um teatro popular do Nordeste e seus aspectos criam a imagem da Região. |
METODOLOGIA: |
Para a concretização das análises, num primeiro momento foram pesquisados os conceitos de termos que seriam palavras-chave na realização da pesquisa. Para o conceito de popular, a partir de Stuart Hall (2009) entende-se enquanto manifestações culturais das classes minoritárias. Devido a isso, houve um impasse entre a definição de Teatro Popular e, mais precisamente, de Teatro Popular do Nordeste. Pesquisas bibliográficas revelaram que um grupo de autores nordestinos, liderado por Ariano Suassuna, criou a definição do que seria o teatro popular do Nordeste, estabelecendo relações diretas com a cultura ibérico-judaica. Após os estudos iniciais, começou-se o trabalho de leitura de treze obras de Lourdes Ramalho, e outros textos dramáticos de autores como Suassuna e Gil Vicente. Com alguns conceitos iniciais e a leitura dos textos teatrais, pôde-se começar a escrever comunicações para divulgar o andamento da pesquisa. Estudos voltados para a análise da arte no Nordeste como o de Durval Muniz Albuquerque Jr. (2009), de teatro, de personagens-tipo, de costumes da cultura popular, sobre a literatura de cordel foram feitos para poder analisar os textos criticamente. Um mini-curso sobre o tema foi aplicado e finalizou-se com a escrita de um artigo para divulgação e registro da pesquisa. |
RESULTADOS: |
A Eleição (1978) conta a história da população de um povoado chamado Fundão que se depara após um longo processo ditatorial com a redemocratização e os candidatos são: o pároco da cidade, um médico esclerosado e um homeopata pobre. Ao formar os partidos, começa a guerra para a aquisição de votos. De um lado, a medicina, a imagem de evolução, do outro a igreja, forte representação colonizadora e no meio, a imagem popular, do pobre sem conhecimento, mas carismático. Apesar de o Nordeste possuir uma dramaturgia diversificada, o que se vê são as imagens apenas do espaço da discussão sobre seca, miséria e messianismo. Não que esta existência seja algo condenável, mas existem outras vertentes do teatro nordestino. Os personagens-tipo, de acordo com Peter Burke (2010), classificam as referências entre vilões, heróis e bobos do imaginário popular. Dentre muitos, percebe-se na obra a presença do clero sempre ligado às questões de vilania e altos tons sexuais, as mulheres sempre mirabolantes e mesquinhas, quando não ligadas à bruxaria e a figura popular carismática que todos gostam e admiram pela perseverança. Além de temáticas como a velhice, religião e fé, política e politicagem, tempos modernos, memória, a vida conjugal, cultura interiorana nordestina e sabedoria popular e erudita. |
CONCLUSÃO: |
Por fim, percebe-se neste sistema literário uma construção baseada tanto nos padrões populares quanto segundo as normas de escrita de um texto do gênero dramático. Há um processo ambivalente em todo o percurso do texto e isso é interessante ressaltar. Lourdes consegue repetir uma noção homogênea de popular nordestino e assim, proliferar a imagem de Nordeste de seca, miséria e messianismo, e ao mesmo tempo, discutir, com inteligência, questões extremamente políticas e críticas no plano de todo o espaço nacional. O teatro popular (popular no sentido de minoritário) do Nordeste se reinventa a cada dedicação de um dramaturgo a um texto e a cada montagem de um grupo. O que pode-se perceber é a aparição mais frequente de obras apenas com as características referentes ao movimento do Teatro Popular do Nordeste – TPN que trazia o discurso armorial nas produções. É difícil caracterizar algo e perceber a ambivalência dos seus componentes, mas o fato é que há. E no Nordeste, tanto o popular denominado pelos armoriais quanto o popular presente na pluralidade das classes minoritárias têm o seu lugar, basta apenas questionar o porquê disseminou-se tanto apenas aquele de forte discurso das tradições europeias e relações temáticas voltadas para o ruralismo. |
Palavras-chave: Dramaturgia, Lourdes Ramalho, Teatro Popular. |