63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 4. Línguas Indígenas |
O Fenômeno da Correferencialidade em Asuriní do Tocantins |
Ariel Pheula do Couto e Silva 1 Ana Suelly Arruda Camara Cabral 2 |
1. Laboratório de Línguas Indígenas / Instituto de Letras - UnB 2. Profa. Dra. / Orientadora - Laboratório de Línguas Indígenas / Instituto de Letras - UnB |
INTRODUÇÃO: |
Neste estudo examinamos as diferentes manifestações de correferencialidade na língua Asuriní do Tocantins, também conhecida como Asuriní do Trocará, falada por um grupo de 450 indivíduos que vivem na Terra Indígena Trocará, situada a 18 quilômetros da cidade de Tucuruí, estado do Pará. A língua Asuriní do Tocantins pertence ao sub-ramo IV da família Tupí-Guaraní (Rodrigues 1985) e é considerada uma das línguas mais conservadoras da família (Cabral 2006). O sistema de correferencialidade dessa família tem sido descrito como um sistema orientado pelo sujeito da oração principal (Rodrigues e Cabral 2005), de forma que a correferência é marcada de acordo com a igualdade ou não do referente de um determinante X com o referente do sujeito da oração principal. |
METODOLOGIA: |
O estudo considerou a literatura especializada em correferencialidade nas línguas do mundo, especialmente a que focaliza o fenômeno conhecido como switch-reference ou alternância de referência (mesmo sujeito ou sujeito diferente), que é o que caracteriza o sistema de correferencialidade das línguas mais conservadoras da família Tupí-Guaraní. Destacamos aqui a abordagem dada ao tema por Foley e Van Valin (1984), assim como os trabalhos que contemplam switch-reference em Tupí-Guaraní, dentre os quais (Silva 1999 e Rodrigues e Cabral 2005). Os dados que fundamentam o estudo integram o Banco de Dados de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília e foram coletados por Cabral (2007-2010) e Couto e Silva e Sousa (2009-2010). O estudo serviu-se de uma análise contrastiva dos dados o que permitiu que fossem identificados os contextos e as motivações para o acionamento da alternância de correferência entre um determinante de um dado argumento e o sujeito da oração principal. |
RESULTADOS: |
Os resultados do estudo mostram que, em Asuriní do Tocantins, o fenômeno swith-reference se orienta pelo sujeito da oração principal, seja este um sujeito de verbo transitivo ou intransitivo: akosía oro-pyhýk orow-erót-a /cotia 13-pegar 13corr-trazer-ger/ 'nós pegamos cotia e a trouxemos'; we-két-iré a-há potá /1corr-dormir-suss 1-ir-proj/ 'depois que eu dormir eu vou'; ere-són ta se hém-iré /2-vir-proj 1 zero-sair-suss/ 'depois que você saiu eu cheguei'; Note-se que, em Asuriní do Trocará, quando o sujeito de uma oração sucessiva é idêntico ao sujeito da oração principal, o sujeito da sucessiva é marcado por prefixos correferenciais, como é o caso de we- '1'; mas quando é diferente do sujeito da oração principal, então, é marcado pela série de pronome dependente, sé '1', como no caso do exemplo precedente. A correferência é também marcada em orações no gerúndio, como no exemplo seguinte: akosía oro-pyhýk orow-erót-a /cotia 13-pegar 13corr-trazer-ger/ 'nós pegamos cotia e a trouxemos'. |
CONCLUSÃO: |
As conclusões a que chegamos com o presente estudo foram as seguintes: (a) a língua Asuriní do Tocantins é uma língua com sistema de switch-reference altamente elaborado, em que todo e qualquer argumento pronominal dentro de uma estrutura sentencial deve ser marcado com prefixos correferenciais se o seu referente for igual ao referente do sujeito da oração principal desta mesma estrutura. Por outro lado, os dados investigados levantam alguns pontos que merecem atenção, como, por exemplo, qual a real natureza dos constituintes que têm sido chamados na literatura Tupí-Guaraní de orações dependentes? Seriam essas estruturas realmente orações? A motivação dessa pergunta é a semelhança dessas estruturas com a configuração interna de expressões adverbiais, por um lado, e com nomes, por outo lado. Essa é uma das questões que pretendemos pesquisar em trabalhos futuros. |
Palavras-chave: Família Tupí-Guaraní, Sistema de correferencialidade, Asuriní do Tocantins. |