63ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 6. Geociências - 3. Geografia Física
INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS ESTUARINOS E ANTRÓPICOS NA MORFODINÂMICA DA DESEMBOCADURA DO RIO COCÓ, FORTALEZA-CE
Francisco José Maciel de Moura 1
Davis Pereira de Paula 2
1. Departamento de Geografia - UECE
2. Faculdade de Ciências e Tecnologia - UALG
INTRODUÇÃO:
A evolução costeira, segundo Wright e Thom (1977), é a resposta das mudanças da linha de costa que ocorre, especialmente, em função dos eventos de
alta energia que atingem o litoral, promovendo alterações na topografia e na hidrodinâmica, tendo como consequência direta modificações no transporte
sedimentar (marinho e fluvial). No entanto, o que observamos nas últimas décadas é que as alterações em desembocaduras fluviais também estão
subordinadas aos processos antropogênicos, associados aos processos geogênicos (Carter e Woodroffe, 1995). Nesse sentido, o presente trabalho tem por
objetivo analisar a influência dos processos estuarinos e antrópicos na morfodinâmica da desembocadura do rio Cocó. Este rio é integrado à bacia
metropolitana dos rios do litoral leste cearense, tendo sua bacia hidrográfica uma área de aproximadamente 485 km² e com uma extensão total de 50 km
(SEMACE, 1992). O Rio Cocó nasce na vertente oriental da Serra da Aratanha, e no seu percurso passa pelos municípios de Pacatuba, Maracanaú e
Fortaleza, até desaguar na praia do Caça e Pesca. Esse rio, bem como os demais no Estado do Ceará, possui inúmeros barramentos ao longo do seu curso,
tendo como principal obstrução o açude Gavião, construído em 1973.
METODOLOGIA:
A metodologia consistiu, inicialmente, em um levantamento do estado da arte e da cartografia, tendo sido consultadas teses, dissertações, relatórios
técnicos, mapas, cartas batimétricas, fotografias aéreas (de 1950 a 2006) e imagens de satélite (de 2000 a 2009). Em um segundo momento, foram
utilizadas técnicas de sensoriamento remoto aliadas às ferramentas do geoprocessamento para georeferenciar os mapas e fotografias aéreas e comparálos,
permitindo observar as variações físicas da desembocadura do rio Cocó. Nesse caso, utilizaram-se imagens dos satélites Landsat (2000) e Quickbird
(2004), fotografias aéreas (1958, 1972, 1995 e 2006) e mapeamentos do exército (1900). Essas geoinformações foram atualizadas em campo, com auxílio
de um DGPS (Sistema GTR-G² Cinemático GLONASS P550). As informações extraídas foram articuladas em um banco de dados em ambiente do Sistema de
Informações Geográficas - SIG. No processamento e interpretação das geoinformações utilizou-se os softwares ARC GIS 8, IDRISI, AutoCad Map2000i e o
SPRING 4.1. Toda a base cartográfica foi convertida para o mesmo Datum e Projeção - SAD 69 (zona 24s, meridiano central -39º) / Universal Transversor de
Mercator – UTM.
RESULTADOS:
Na desembocadura do rio Cocó, os efeitos da dinâmica estuarina estão subordinados às ações antrópicas (barragem, urbanização e pontes) e naturais
(enxurradas e seca ou estio). Analisando a fotografia aérea de 1972, observou-se a formação de corpos dunares na margem leste, formando um sistema
dinâmico e ininterrupto com a faixa de praia. Essa interação foi tão contundente que a delimitação da faixa de praia e da base dunar tornou-se impossível,
formando um sistema univitelino. Também se constatou a formação de um cordão arenoso na margem esquerda (oeste) do rio, diferentemente de outros
rios, como o rio Ceará. Essas feições são testemunhos de antigas migrações da desembocadura, momento em que o regime pluviométrico, o transporte
eólico e a deriva litorânea não foram tão impactados pelo homem. Há a ocorrência de rochas de praia na margem leste da desembocadura, conferindo-a
certa estabilidade morfológica. Entre os anos de 1995 e 2003 foi constatado que as mudanças restringiram-se apenas à diminuição do cordão arenoso na
margem esquerda. Atualmente, o sistema praia-duna se encontra degradado pelo processo de ocupação por barracas e casas, impedindo o transpasse de
sedimentos entre ambos os ambientes. A faixa de praia adjacente não apresentou aspectos erosivos.
CONCLUSÃO:
Com base nos resultados expostos anteriormente, podemos inferir que os equipamentos urbanos construídos nos últimos 30 anos interferiram diretamente
no padrão de sedimentação desse rio, diminuindo a descarga sólida em direção à zona costeira. O rio Cocó constitui um sistema retentor de sedimentos,
haja vista os inúmeros bancos arenosos existentes ao longo de seu canal principal, dificultando a entrada e saída de pequenas embarcações de pesca.
Logo, conclui-se que as alterações morfodinâmicas observadas estão associadas às ações antropogênicas e geogênicas, sendo necessário um
monitoramento sistemático do transporte de sedimentos desse rio.
Palavras-chave: Desembocadura, Morfodinâmica, Estuário.