63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana |
Onde o rural e o urbano se celebram. As "Festas de Roça" na Cidade: o território das Folias de Reis em Goiânia - GO. |
Rosiane Dias Mota 1 |
1. Professora Especialista da Faculdade Lions / Mestranda em Geografia do Programa de Pesquisa e Pós-graduação do IESA/UFG |
INTRODUÇÃO: |
As festas religiosas são práticas culturais produzidas em sociedade e algumas se constituem manifestações da cultura popular. Na atualidade, essas manifestações têm sido “redescobertas e revitalizadas”, o que tem proporcionado amplo interesse em pesquisas científicas de distintas áreas do conhecimento. Ao refletir sobre as festas de Folias de Reis no âmbito da geografia cultural e na perspectiva da produção do território simbólico acredita-se que as Folias de Reis produzem “marcas” no espaço-tempo (território, territorialidades, identidades) e que se configuram em paisagens simbólicas. Tem-se como hipótese para esta investigação que as relações territoriais e as paisagens simbólicas produzidas pelas Folias de Reis mesmo em diferentes realidades não perdem sua essência de devoção e tradição. Esses grupos se adaptam ou sofrem modificações de acordo com a situação em que se inserem. Neste âmbito, o principal objetivo desta investigação é analisar as territorialidades que emergem pelas relações estabelecidas nos “giros”, apresentações e encontros de Folias de Reis na cidade de Goiânia, bem como obter uma leitura dos significados destas enquanto manifestação e expressão da cultura popular. Diante disso, sabe-se que as recordações das festas religiosas constituem-se, por muitas vezes, “marcas” de uma cultura rural de tradições herdadas de um passado sertanejo e devoto. As lembranças são, neste sentido, materializadas no sabor das quitandas e no estabelecimento de novas relações. |
METODOLOGIA: |
Em meio a vários questionamentos, verifica-se que a geografia procura fazer uma interface com outras áreas do conhecimento que possam dar subsídios nas interpretações da cultura (KASHIWAGI, 2005). Segundo a autora, algumas discussões e estudos gerados por tais áreas tinham sua cientificidade colocada em dúvida devido aos procedimentos e metodologias utilizadas. Para tal a fenomenologia é usada nesta por “reaproximar as ciências de nossas vidas, analisa ações e projetos a partir de experiências, relativas à percepção do mundo e seus objetos” (op. cit., p.200). Esta corrente filosófica propõe uma leitura dos fenômenos de forma a descrevê-los, compreende-los e interpretá-los. A metodologia é divida em duas fases. A primeira, e principal, corresponde à análise do território em sua dimensão simbólica. Nesta propõe-se analisar o território simbólico por meio da “vivencia” dos “giros” e apresentações e da observação do sujeito enquanto agente modificador e participante da dinâmica territorial. Tal metodologia conflui no entendimento das territorialidades produzidas pelos grupos de Folias de Reis. Definiu-se como recorte espacial a cidade de Goiânia, e como recorte investigativo dez grupos de folias existentes na capital. E utiliza-se para fins investigativos a geografia cultural como abordagem, por ser relativa às relações existentes entre os indivíduos, a natureza e a sociedade. Os indivíduos desse estudo são os foliões, os devotos e os visitantes, durante as folias. |
RESULTADOS: |
As Folias de Reis proporcionam por meio das relações humanas a troca de conhecimentos e a consolidação de identidades numa dimensão simbólica. O território existe, portanto, “para aqueles que têm uma identidade territorial com ele, o resultado de uma apropriação simbólico-expressiva do espaço, sendo portador de significados e relações simbólicas” (ALMEIDA, 2005, p.109). O território na Folia, a partir do entendimento da autora, existe para os atores – foliões, devotos e participantes – que possuem uma identidade, um sentido de pertencimento com a manifestação. E o grupo de folias constitui um “território” por uma assimilação “simbólico-expressiva do espaço”. Os atores produzem as territorialidades decorrentes de relações simbólicas e de significados. A reprodução das identidades territoriais das Folias de Reis na cidade de Goiânia é expressa na culinária, no rito, na decoração, e atrela-se os aspectos simbólicos da ruralidade dessa manifestação cultural e de seus participantes. Os aspectos simbólicos são evidentes durante todo ciclo natalino nos presépios encontrados em casas de devotos dos “Três Reis”, em Igrejas Cristãs e em espaços públicos – praças, parques e avenidas, shoppings centers e vitrines de lojas. A reprodução da cena do nascimento de Jesus é feita com diferentes materiais, que vão desde tradicionais estátuas de gesso até figuras artesanais feitas de palhas, ferro, pano, vidro, ou até mesmo reciclagem. |
CONCLUSÃO: |
Esta manifestação cultural faz parte da identidade e da cultura goianiense e se faz viva em vários grupos existentes nos bairros da capital. As Festas de Reis apresentam ao indivíduo situações específicas que se caracterizam pela essência religiosa e sociabilização. Nas folias de reis a construção histórica faz parte da relação tempo-espaço e está viva nas recordações dos devotos que recebem os grupos e nos fatos e acontecimentos que aquele momento representa. Receber um grupo de folias tem possui diferentes significados, ora remonta às alegrias da infância no meio rural e ao momento festivo proporcionado pelo grupo de folia. Ora, pelas recordações saudosas de pessoas falecidas que participaram dos grupos, giros, nos almoços, pousos e deixaram um vazio no coração daqueles que os amavam. As leituras das territorialidades e das paisagens simbólicas produzidas pelas Folias de Reis estão em processo de construção. Contudo, pode-se afirmar que os diferentes espaços e momentos da folia produzem um emaranhado de significados religiosos e de sentimentos ora pessoais, ora coletivos. Tais sentimentos estão ligados aos ritos reproduzidos e passados ao longo dos anos pelos grupos de Folias de Reis. |
Palavras-chave: Festas Populares, Goiânia, Geografia Cultural. |