63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 17. Planejamento e Avaliação Educacional |
DIFERENÇAS ENTRE AS PERSPECTIVAS DOCENTES NO TRABALHO COM GRUPOS FOCAIS |
Caio Augusto Carvalho Alves 1 Rosario Silvana Genta Lugli 1,2 |
1. UNIFESP - Campus Guarulhos 2. Mestrando |
INTRODUÇÃO: |
A escola é uma instituição que recebe muitos pesquisadores do cotidiano, que se utilizam de várias técnicas de pesquisa qualitativa para cumprir seus objetivos investigativos, entre elas, temos o grupo focal, que segundo Bernadete Gatti, é “um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto da pesquisa, a partir da sua experiência pessoal”. Este trabalho é parte da dissertação de mestrado em Educação e Saúde na Infância e Adolescência pela UNIFESP “Táticas Docentes frente aos Efeitos do SARESP” e busca discutir variantes que podem enviesar uma pesquisa que utiliza o grupo focal como técnica para coleta de dados, a partir da análise de divergências entre os grupos de sujeitos abordados. Tal discussão foi possibilitada durante o processo de investigação de duas escolas do município de Guarulhos, onde situações comuns à maioria das pesquisas do cotidiano escolar que utilizam essa técnica de pesquisa puderam ser presenciadas. A relevância de se destacar essas situações se dá pelo fato do grupo focal ser uma técnica amplamente utilizada para investigar escolas, sendo que tal reflexão, além de alertar futuras pesquisas, possibilita um debate a cerca desta técnica de pesquisa. |
METODOLOGIA: |
Duas escolas foram selecionadas, sendo que pertencem à Diretoria de Ensino (DE)– Guarulhos Sul. A escola X se situa em uma região central de Guarulhos e atende a um público variado, que compreende várias faixas econômicas e reside em diversas regiões do município. Configura-se, então com uma escola de grande porte. A escola Y se encontra na periferia da cidade, vizinha a uma comunidade carente, com muitas vulnerabilidades sociais. Ela atende, principalmente a esta comunidade, possuindo poucos alunos e uma fama negativa no município. Após a escolha das escolas, foi feita uma observação inicial, com o objetivo de selecionar componentes para o grupo focal que seria feito em seguida. Os resultados dessa observação possibilitaram a escolha de um grupo de professores em cada escola. A reunião do grupo focal utiliza uma entrevista semi-estruturada para a construção do debate. Foi feito um roteiro que objetivou levantar eventos do cotidiano desses docentes, com relação ao tema da pesquisa de mestrado, os efeitos do SARESP no trabalho docente. Durante esse processo, alguns eventos ocorreram em relação aos professores da escola X, eventos estes que deram origem a esse trabalho. |
RESULTADOS: |
Durante a seleção dos sujeitos entrevistados, buscou-se a eliminação de variantes que enviesariam ou impossibilitariam a entrevista. Assim, percebemos que na escola Y havia uma diferença entre perspectivas docentes, o que nos forçou a separá-los, fazendo duas entrevistas na escola. Já a escola X não apresentou a mesma diferença dentro do colegiado, o que nos indicou a necessidade de uma só entrevista. Contudo, durante o debate provocado pela entrevista semi-estruturada na escola X, o próprio grupo docente se dividiu, sendo que só um se posicionou, intimidando os componentes restantes. Após o ocorrido, decidimos separar este grupo em dois, da mesma maneira que ocorreu na escola Y, o que permitiu que as posições divergentes fossem ouvidas cada uma a seu tempo, o que colaborou significativamente para o sucesso do grupo focal. Posteriormente, as entrevistas com os já dois grupos da escola X confirmaram as divergências de opinião referente à relação SARESP/cotidiano entre os docentes selecionados. |
CONCLUSÃO: |
Esta experiência confirma as orientações de Bernadete Gatti no que diz respeito à separação dos componentes de um grupo focal para o cumprimento dos objetivos do mesmo. Componentes com ideias divergentes tendem a se unir, colaborando para que membros com perspectivas divergentes não se manifestem, o que desvirtua o sentido do debate. A respeito dos eventos cotidianos que foram levantados, quando um só grupo entre dois tomou a palavra, foi constatada a superposição de uma versão sobre outras possíveis, que não puderam ser ouvidas enquanto o grupo todo estava reunido. Essas outras versões sobre o mesmo tema em questão só puderam ser registradas após a constituição de dois agrupamentos de docentes, separados por semelhanças de perspectivas. No que tange o universo das pesquisas educacionais, levanta-se a constatação das diferentes concepções docentes sobre determinado assunto dentro de uma mesma escola. O fato dos professores analisados lecionarem em uma mesma escola e compartilharem os mesmos eventos cotidianos não garantiu que tivessem a mesma opinião sobre os eventos, o que ao mesmo tempo que elucida novas possibilidades de pesquisa, levanta vieses muitas vezes ignorados. |
Palavras-chave: Pesquisa Educacional, Grupo Focal, Docentes. |