63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 5. Antropologia Urbana |
A festa popular do boi-bumbá de Fonte Boa (AM): a exotização da Amazônia e o processo de construção de uma nova identidade regional. |
Yomarley Lopes Holanda 1 Jubrael Mesquita da Silva 1 Cecília Creuza Melo Lisboa 1 |
1. Prof. Msc. Pesquisador do Centro de Estudos Superiores de Tefé - UEA 2. Prof. Msc. Pesquisador do Centro de Estudos Superiores de Tefé - UEA 3. Profa. Esp. Pesquisadora do Centro de Estudos Superiores de Tefé - UEA |
INTRODUÇÃO: |
A Amazônia vem sendo o centro dos discursos representacionais contemporâneos, sobretudo, no que diz respeito à preservação sustentável do meio ambiente e de seus recursos naturais. São esses discursos e imagens que têm sido redimensionados pela festa popular no interior da Amazônia, enquanto fonte de atração para turistas e visitantes, configurando-se em uma alternativa econômica interessante onde a exotização dos elementos humanos e naturais regionais serve de matéria-prima para as expressões culturais festivas. Fonte Boa - AM, 322 anos de história, é o palco de uma manifestação sociocultural que remonta a meados do século XX: a brincadeira do boi que ao longo do tempo passou pelos terreiros, escolas até chegar à arena. A pesquisa parte de um estudo etnográfico sobre essa manifestação que congrega e movimenta um conjunto de instituições sociais, demonstrando formas de produção artística diversas, chamando a atenção as suas continuidades e simbolizações. A festa dos bois Corajoso e Tira-Prosa, realizada anualmente no mês de julho, torna-se importante porque sintetiza um caráter mediador entre valores e anseios o que lhe permite, através de incontáveis “pontes”, reviver o passado e projetar as utopias. Sua essência coletiva e projetiva se constitui em um importante elemento do modo de vida fonteboense e amazônico. |
METODOLOGIA: |
As análises de várias edições da festa e a comparação com a descrição realizada durante a sua XXVII edição (2007), configuram o arcabouço metodológico adotado para este trabalho. Tendo em vista os escritos de Geertz (2003), a interpretação da cultura tem um caráter singularmente hermenêutico, partindo-se de uma intensa relação de contato do pesquisador com aquilo que é pesquisado, interessando-nos os significados que os próprios sujeitos “inscrevem” em suas ações e condutas sociais. Também lançamos mão do registro fotográfico e entrevistas com participantes e moradores da cidade. Nossas observações, resultados e conclusões têm como referência teórica o conceito de “fato social total” desenvolvido por Marcel Mauss (1974), as contribuições de Ginzburg (1992) e Bakhtin (1993) e seu conceito de “circularidade cultural” que nos permite problematizar a influência recíproca entre as manifestações populares e as hegemônicas na construção de identidades. |
RESULTADOS: |
Verificou-se que a festa é concebida como manifestação cultural local e regional, um “ritual” urbano amazônico de manutenção de memórias e territorialidades, onde as relações sociais estabelecidas por seus participantes têm abrangência local (a rua, o bairro ou partes de uma cidade). Fonte Boa, pequena cidade interiorana sem muitas perspectivas econômicas, busca na festa do boi uma forma de desenvolvimento, onde a exotização da cultura através dos discursos representacionais presentes nas toadas, temáticas, fantasias e alegorias de cada grupo de boi, se inserem dentro do processo de ressignificação da figura do “caboclo”, enquanto homem amazônico que agora se orgulha em ser mestiço, descendente das antigas tribos que se miscigenaram historicamente com os brancos e negros. Este seu novo papel social redimensionado pela festa faz com que o caboclo assuma ativamente um comprometimento com a preservação da natureza circundante e com os demais problemas relativos à Amazônia. |
CONCLUSÃO: |
O boi que se brinca na cidade de Fonte Boa é um boi mestiço que ainda conserva elementos do drama e da dança dramática envolvidos com aspectos técnicos modernos, cujas referências são buscadas na vida e no cotidiano dos sujeitos da região amazônica. É ainda um boi que ser quer mostrar crítico a partir de uma retórica regional de preservação da natureza e de seus “povos tradicionais”, sustentada artisticamente em seguidas apropriações culturais, mas que ao mesmo tempo busca de todas as formas se legitimar junto ao poder público e aos visitantes, constituindo-se em definitivo num princípio deflagrador da identidade sociocultural local. |
Palavras-chave: Cultura Popular, Festas Amazônicas, Fonte Boa. |