G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil |
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SOBRE A QUESTÃO: SERÃO AS CRIANÇAS DE HOJE MAIS INTELIGENTES? |
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Almir Zandoná Júnior 1
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1. Programa de Pós-Graduação em Educação - UFG
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INTRODUÇÃO: |
O desenvolvimento histórico burguês deforma a inteligência em mera capacidade cognitiva de adaptação à realidade. Assim, “a inteligência é superada tão logo o poder deixa de obedecer à regra do jogo e passa à apropriação imediata” (ADORNO E HORKHEIMER, 2006. p. 174). A inteligência é convertida em capacidade de saber o que fazer em detrimento da reflexão julgadora da significação. A decorrente formação humana transcreve a lógica da adaptação irrefletida sob da inteligência. Dessa forma, à medida que a inteligência se desenvolve para a adaptação imediata, também a consciência se compromete a tal fato. Diante da administração social racionalizada tecnologicamente sob a relação produção e consumo, a relação de autoridade da sociedade com a criança se dá conforme Horkheimer (1990), com o mesmo caráter funcionalista da estrutura social. Logo, memória, percepção, reflexão foram resignificadas nas atividades cognitivas realizadas. Da mesma forma as relações humanas, os contatos físicos ou demonstrações de afetos foram todas abstraídas destas atividades. A razão humana é, desde então, impregnada pelo utilitarismo. Afinal, a inteligência deve extrapolar os níveis operacionais. Isto posto, não é possível afirmar que as crianças estão ou não mais inteligentes. |
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METODOLOGIA: |
O estudo surgiu a partir de discussões nas aulas do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (UFG), em particular, na disciplina: questões especiais de psicologia e educação – socialização, afetividade, indisciplina e autoridade, ministrada pelas professoras Drª Mona Bittar e Drª Susie Amâncio Gonçalves de Roure.O estudo pretende analisar o estabelecimento do aumento da inteligência na criança a partir de três questões fundamentais na contemporaneidade: a racionalidade instrumental, a tecnologia e a autoridade. Imersa nesse contexto, a criança logo nos seus primeiros anos de vida adquiri capacidades que denotam a inteligência, em contra partida, em inúmeros momentos e espaços da educação de crianças várias denúncias apontam a dificuldade na aprendizagem. Para dar conta de tal contradição e ainda de compreender o que se vem atribuindo como inteligência, realiza-se uma pesquisa bibliográfica de estudos que tratam dialeticamente a formação humana. Uma pesquisa do tipo qualitativa com o método indutivo-dedutivo com base nas três questões supracitadas, na qual, reconhecendo os apontamentos de cunho objetivos e subjetivos lança-se mão da Teoria Crítica frankfurtiana. |
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RESULTADOS: |
A razão se converte em instrumento da prática na qual, na maioria dos casos os fins servem de justificativas. “A razão tornou-se algo inteiramente aproveitado no processo social. Seu valor operacional, seu papel no domínio dos homens e da natureza tornou-se o único critério para avaliá-la” (HORKHEIMER, 2000. p. 29). Adorno e Horkheimer (2006) reiteram: “O pensar reifica-se num processo automático e autônomo, emulando a máquina que ele próprio produz para que ela possa finalmente substituí-lo” (p. 33). Assim, o efeito da tecnologia reflete diretamente no pensamento. Este é reduzido à operacionalização em relação a uma realidade imediata. Ou melhor, a operacionalização passa a ser a forma de compreender a realidade, na qual os objetos são identificados de acordo com sua utilidade. Assim, a inteligência aparece como meio, como um instrumento. Em contrapartida, a adaptação à realidade é o fim. O conhecimento, outrora perpassado a cada geração do adulto para a criança, possibilitando construção de valores, sentidos e significados da realidade, se anula. O adulto paulatinamente perde sua autoridade. A crise da autoridade desembocou em contradição radical, se por um lado resulta no autoritarismo, por outro resulta na ausência da autoridade. |
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CONCLUSÃO: |
Ao perceber os motivos que levam ao adulto acreditar que as crianças são, a cada dia, mais inteligentes, vemos que suas atividades vão se constituindo, paulatinamente, mais utilitárias. “A rápida apreensão dos fatos substitui a penetração intelectual do fenômeno da experiência” (HORKHEIMER, 2000). Mais adiante o autor acrescenta: “O pensamento deve ser aferido por algo que não é pensamento, por seu efeito na produção ou seu impacto na conduta social”. Entretanto, a criança, que sempre teve seu aprendizado relacionado ao adulto, diante do aparato tecnológico, é dotada de certa autonomia. Dessa forma, mais uma vez, o adulto é preterido, sua autoridade já não é legítima. A tamanha dinamicidade da racionalização tecnológica impede a construção histórica, reflexão sobre o passado, impossibilita o acúmulo de conhecimento. O adulto não tem argumentos diante ao escopo tecnológico. Em contra partida, a criança por sua própria constituição filogenética, é plenamente adaptável ao meio social. Este contexto fornece subsídios à idéia de as crianças serem mais inteligentes que em outros momentos da história. |
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Palavras-chave: Racionalidade, Tecnologia, Inteligência. |