63ª Reunião Anual da SBPC |
F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 1. Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo |
O ADRO FRANCISCANO COMO PAISAGEM EM MUTAÇÃO: OS CASOS DE MARECHAL DEODORO E PENEDO, EM ALAGOAS |
Érica Aprígio de Albuquerque 1 Maria Angélica da Silva 2 |
1. Mestrado em Dinâmicas do Espaço Habitado/DEHA, FAU-UFAL 2. Profa. Dra./Orientadora – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UFAL |
INTRODUÇÃO: |
Pretende-se discutir a inserção histórica dos adros franciscanos, cujas origens, como sítios sacros nas vilas e cidades do Brasil – Colônia, estão diretamente ligados à apropriação do território, nas primeiras incursões colonizadoras ao litoral brasileiro. Essas antigas povoações foram produzidas urbanisticamente sob forte impacto de preceitos litúrgicos, e o adro, principal marco visual juntamente com o edifício religioso, foi concebido prioritariamente para as práticas coletivas de cunho sacro. Hoje, quando a maior parte das casas conventuais não exerce mais sua função plenamente, possuem poucos ou nenhum frade, os adros ainda se configuram em espaços de uso público e de interface múltipla, onde são ao mesmo tempo fundamentais para o monumento, integrantes de um patrimônio edificado, e praças centrais para a cidade que comportam possibilidades de diálogos ativos entre corpos e espaços. Logo, onde existem, configuram-se em importantes peças para entender a dinâmica histórica e patrimonial. Os objetos de estudo aqui referenciados serão os adros das casas conventuais de Nossa Senhora dos Anjos e Santa Maria Madalena, situadas nas cidades alagoanas de Penedo e Marechal Deodoro respectivamente, monumentos tombados a nível nacional. |
METODOLOGIA: |
A metodologia utilizada consistiu no cruzamento de dados das leituras de fontes bibliográficas e iconográficas que contextualizam os conventos no período barroco do Brasil-Colônia com os obtidos in loco por meio de viagens aos cenóbios de Alagoas, considerando-os como documentos visuais. Por meio da leitura destes espaços revelados como documento de grande importância para a pesquisa, constatou-se a “atualidade” dos monumentos e de seus adros. Foi possível recolher na cidade, através das técnicas de história oral, nas fontes indiretas e nos próprios objetos de estudo, as vivências e os marcos de suas dimensões passado-presente, sacro-profano. A intenção foi a de investigar os dois adros como interfaces entre as escalas arquitetônica, do edifício a que servem, e urbana, a que estão condicionados. Montou-se o percurso dos mesmos numa linha espaço-tempo, e foi possível levantar os seus principais usos e traçar comparações para a sistematização dos dados obtidos ao longo de toda a pesquisa. Também atentou-se para os aspectos sensitivos dos adros, explorados e apreendidos através do emprego das ferramentas situacionistas, em especial as derivas, resultando na produção de diários de bordo e na elaboração de montagens fotográficas e esquemas gráficos dos movimentos das áreas em estudo. |
RESULTADOS: |
Os principais resultados alcançados relacionam-se com a constatação das mudanças que estas áreas sofreram, à medida que a sociedade foi se tornando mais laica. Concebidos em chão batido, os adros estendiam-se muito adiante da igreja, sem delimitação física de território e, embora de expressão arquitetônica aparentemente irrisória, já que se tratam de “vazios”, de fato eram espaços privilegiados no tecido urbano, garantindo status e nitidez ao edifício religioso e a sua vizinhança. Extensão dos interiores dos templos, às funções sacras eram agregadas as sociais, unindo aos ritos religiosos, outros tipos de celebração. Com os anos, as atividades imbuídas de caráter mundano se fortaleceram e ambos os adros franciscanos sofreram perdas significativas de sua área original. Hoje, por meio do processo de secularização com intervenções variadas, a abertura de ruas e o fracionamento de suas áreas conferiram-lhes uma feição de praça com bancos e vegetação. Nesse sentido, a população criou novas relações com os adros, dinamizando-os com a ocupação e apreço demonstrado no uso cotidiano. Centros remodelados de convergência e irradiação, eles continuam sendo os corações nas cidades onde estão inseridos, mas traduzindo uma concepção urbana produzida por novas necessidades e relações socioeconômicas. |
CONCLUSÃO: |
Considerando os adros franciscanos como expressão de significados que apontam para uma dinâmica própria nas cidades de Marechal Deodoro e Penedo, é possível visualizá-los como parte indissociável de processos históricos e fenômenos sociais secularmente estabelecidos. Eles aparecem como símbolo da relação de seus moradores com o lugar, da forma como deles se apropriavam para estabelecerem-se no território e se fazerem reconhecer como partes deles, bem como para criar laços de sociabilidade a partir da religião. Embora hoje concentrem algumas funções que se distanciam da manifestação do sagrado, estes adros permanecem sendo um dos dados mais eloquentes da expressão urbana. Compreende-se que tais cenários, onde se perpetuam manifestações de natureza material e imaterial, necessitam de ações de reconhecimento, preservação e valorização, como lugares que são de entrelaçamento de fenômenos imprescindíveis à conformação da paisagem cultural das cidades mencionadas. |
Palavras-chave: adro franciscano, sacro-profano, patrimônio material e imaterial. |