63ª Reunião Anual da SBPC |
C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 4. Farmacologia |
A OBESIDADE DIMINUI A RESPOSTA DE ARTÉRIAS MESENTÉRICAS DE RESISTÊNCIA A AGONISTAS CANABINÓIDES |
Núbia de Souza Lobato 1,2 Fernando Paranaiba Filgueira 2 Maria Helena Catelli de Carvalho 3 Robert Clinton Webb 4 Rita de Cássia Tostes 5 Zuleica Bruno Fortes 6 |
1. Profa. Dra. – Curso de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás – UFG 2. Depto de Farmacologia, Universidade de São Paulo – USP 3. Profa. Dra. – Depto de Farmacologia, Universidade de São Paulo – USP 4. Prof. Dr. – Department of Physiology, Georgia Health Sciences University – GHSU 5. Profa. Dra./Co-orientadora – Depto. de Farmacologia – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/USP 6. Profa. Dra./Orientadora – Depto. de Farmacologia, Universidade de São Paulo – USP |
INTRODUÇÃO: |
O sistema endocanabinóide é um sistema endógeno que possui papel importante na regulação central e periférica da ingestão alimentar e da homeostase energética. A descoberta desse sistema iniciou-se com estudos investigando os efeitos da Cannabis sativa . Considerada como uma planta de uso recreacional na maior parte do mundo, a Cannabis exerce uma série de efeitos incluindo analgesia, ação antiinflamatória, imunossupressão, efeito anticonvulsivante, efeito antiemético e orexígeno. Os compostos canabinóides apresentam também pronunciados efeitos cardiovasculares. A relevância fisiológica das ações cardiovasculares dos endocanabinóides não foi ainda esclarecida, entretanto, estudos têm reportado de modo bastante consistente que ocorre ativação aumentada do sistema endocanabinóide na obesidade em tecidos que controlam o metabolismo energético, a qual contribui para o aumento da ingestão alimentar e acúmulo de gordura. Entretanto, os efeitos da obesidade sobre as ações vasculares mediadas por agonistas canabinóides não foram ainda investigados. Portanto, o objetivo deste estudo foi investigar as implicações da obesidade para a resposta mediada pelo sistema canabinóide em artérias mesentéricas de resistência. |
METODOLOGIA: |
Utilizamos ratos obesos Zucker (OZRs) e seus respectivos controles da linhagem Zucker (LZRs) com 6-7 semanas de idade. A obesidade foi avaliada pelo peso corporal e pelo acúmulo de gordura visceral. A glicemia foi determinada em ratos submetidos à privação alimentar (4 horas) com o uso de glicosímetro. A pressão arterial foi determinada por pletismografia caudal. Para o estudo da reatividade vascular, os ratos foram anestesiados e o leito mesentérico removido. O terceiro ramo da artéria mesentérica superior foi dissecado e cortado em segmentos de 2 mm de comprimento. Dois fios de tungstênio foram inseridos no lúmen das artérias e montados em um miógrafo para estudo de tensão isométrica. Foram realizadas curvas concentração-resposta ao agonista canabinóide anandamida, aos agonistas de receptores canabinóides (CB1 e CB2) e vanilóides (TRPV1) em vasos com e sem endotélio. Os mecanismos envolvidos no prejuízo do relaxamento à anandamida na obesidade foram estudados utilizando-se antagonistas de receptores canabinóides e inibidores específicos das diversas enzimas que participam da sinalização mediada por este agonista. A expressão de receptores canabinóides e das proteínas intracelulares ativadas pela anandamida foi avaliada por Western blotting e imunohistoquímica. |
RESULTADOS: |
A anandamida, os agonistas CB1 e CB2, e a capsaicina, promoveram vasodilatação, que foi menor em artérias com endotélio de OZRs quando comparados à LZRs. A expressão dos receptores CB1 e CB2 foi menor em artérias mesentéricas de OZRs. A localização desses receptores (por imunofluorescência) indicou redução na expressão de ambos no endotélio e no músculo liso vascular de OZRs. A incubação de artérias com o bloqueador de receptores vanilóides ou com o antagonista de receptores do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina diminuiu a resposta à anandamida nos dois grupos, porém, essa redução foi mais pronunciada em LZRs. A incubação com L-NAME (inibidor da óxido nítrico sintase), apamina e caribidotoxina (bloqueadores de canais de K+), indometacina (inibidor da cilooxigenase) ou AM404 (inibidor do transporte de canabinóides) reduziu a vasodilatação à anandamida apenas em LZRs. A resposta à anandamida em OZRs foi corrigida pelos agentes: URB597 (inibidor da degradação de anandamida), AICAR (ativador da AMPK) ou Pd98059 (inibidor da ERK1/2). A anandamida aumentou a fosforilação da AMPK, da ACC e da eNOS em LZRs, mas reduziu em OZRs. A fosforilação da ERK1/2 foi maior em vasos de OZRs. A incubação com anandamida aumentou a fosforilação da ERK1/2 em LZRs e a potencializou em OZRs. |
CONCLUSÃO: |
Em conclusão, no presente estudo demonstramos que o relaxamento ao agonista canabinóide anandamida está prejudicado em OZRs. A redução da expressão dos receptores canabinóides CB1 e CB2 e as alterações em vias de sinalização que são ativadas por esses receptores e por receptores vanilóides foram também demonstradas. Adicionalmente, a diminuição da atividade do transportador de anandamida e o aumento da degradação dela também podem estar envolvidos na redução da vasodilatação mediada pela anandamida na obesidade. Nosso estudo é o primeiro a avaliar o envolvimento das proteínas AMPK e ERK1/2 na resposta vascular promovida pela anandamida bem como o envolvimento delas na redução do relaxamento à anandamida na obesidade. Estes dados proporcionam novas evidências com relação à relevância dos efeitos vasculares do sistema endocanabinóide e do seu papel na disfunção vascular presente na obesidade. |
Palavras-chave: Obesidade, Sistema endocanabinóide, Artérias mesentéricas de resistência.. |