63ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 3. Cinema |
Entre-trajetórias de Lina Bo Bardi: do filme Prata Palomares a arquitetura. |
Cássia Maria Fernandes Monteiro 1 Evelyn Furquim Werneck Lima 2 |
1. Mestre em Artes Cênicas - Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas - UNIRIO 2. Profa. Dra./ Orientadora - Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas - UNIRIO |
INTRODUÇÃO: |
Este estudo busca de elucidar discussões acerca do procedimento criativo de Lina Bo Bardi [1914-1992] no trânsito entre as linguagens artísticas: arquitetura, arquitetura cênica teatral e a direção de arte cinematográfica. Levantando, sobretudo, questões presentes na dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGAC-UNIRIO) em julho de 2010, sob o título Lina Bo Bardi na direção de arte do filme Prata Palomares. Espaços e imagens sob a ótica cinematográfica. Frequentemente os estudos da artista nos levam a destacar apenas suas contribuições no âmbito da arquitetura e no seu complexo entendimento sobre a cultura popular. Possuímos, portanto, a difícil tarefa de nos atentar ao quanto suas experiências no universo audiovisual podem suscitar revisões ao seu procedimento artístico, principalmente quando os relacionamos frente a atividades de maior visibilidade no ambiente cultural do país, como o SESC Fábrica da Pompéia e o Edifício Teatral da sede do Grupo Teatro Oficina. Este estudo torna possível, ainda, uma reavaliação dos limites entre arquitetura, cinema e teatro. |
METODOLOGIA: |
O procedimento metodológico partiu de coletas iconográficas e documentais sobre os meios de produção do filme Prata Palomares dirigido por André Faria em 1970 e que fornecessem melhores informações para a análise sobre a concepção visual da obra de Lina Bo Bardi. Após longa jornada em busca do filme, realizou-se a pesquisa de suas imagens e de sua produção, bem como a investigação de críticas jornalísticas da época, sobretudo na sessão de periódicos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e da Biblioteca Nacional. De posse desse material, e levando em consideração o contexto político/social com o qual o filme estava comprometido, foi então utilizado o processo de Análise Icono-Semiológica desenvolvido no Laboratório de Estudos do Espaço Teatral coordenado por Evelyn Lima (2003) visando identificar as inter-relações presentes entre o trabalho desenvolvido no exercício da direção de arte para o filme algumas de suas atividades teatrais (principalmente com o grupo Teatro Oficina) e algumas obras arquitetônicas. Para tanto, também foram realizadas duas entrevistas: a primeira em Curitiba com o diretor André Faria e a segunda no Rio de Janeiro com atriz Ítala Nandi ambos em maio de 2010 possibilitando a captura de informações esclarecedores do objeto de estudo em questão. |
RESULTADOS: |
Com base nas investigações percebemos que Lina almejava a tomada de consciência política por meio dos modos de produção da cenografia: seja por citações feitas por meio de colagens; por inscrições claramente dirigidas ao público; pela utilização de materiais em sua forma bruta; ou ainda pela ausência de comprometimento com a realidade cotidiana. Observamos que a recorrente opção pelo procedimento alegórico consistia claramente na reação à repressão vigente no país. E, sobretudo, que a experiência cinematográfica de Lina serviu como pesquisa de campo realizada durante as filmagens de Prata Palomares, fez, anos mais tarde, eclodir dois edifícios-colagem: o projetos de edifícios teatrais que derrubassem todo o conceito contemplativo e hierarquizado que o teatro à italiana pressupunha - A sede do Teatro Oficina e o SESC Fábrica da Pompéia em São Paulo. Os resultados apontaram, portanto, que Lina lançou mão de um atravessamento referencial entre as suas criações: sejam elas referentes à cenografia teatral e cinematográfica, quanto os seus projetos de edifícios e restaurações arquitetônicas. A utópica busca pelo ineditismo, aqui, dá lugar ao arranjamento de seus próprios trabalhos associados a outros contextos sociais e políticos pelos quais a artista passava nos instantes de execução. |
CONCLUSÃO: |
Este estudo conclui que as experiências conscientes da artista Lina Bo Bardi, sobretudo no filme Prata Palomares e nos trabalhos com o grupo Oficina e no SESC Fábrica da Pompéia, estão neste trânsito entre as linguagens artísticas e sua intervenção no cotidiano daqueles que assistem estas tentativas. Sem dúvidas, são experimentos importantes que potencializam as questões apresentadas a partir de meios que cinematografam o espetáculo, o espaço e a visualidade, atribuindo novas e conflituosas sensações aos espectadores e aos artistas e pensadores de teatro, cinema e arquitetura. É perceptível que estas vivências viabilizaram o alargamento dos seus estudos biográficos e, dialeticamente, suas intervenções imagéticas e espaciais puderam trazer grandes benefícios a cada um destes meios artísticos, principalmente, no que se refere a sua contribuição em prol de uma arte de significativo engajamento social, cultural, político e estético. |
Palavras-chave: Lina Bo Bardi, Cinema, Prata Palomares. |