63ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 11. História
BICENTENÁRIO MEXICANO: UMA PERSPECTIVA SOB A ÓPTICA DA HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE
Vitor Gomez Miziara 1
1. Mestrando em História - Programa de Pós-Graduação em História - PPGH - UFG
INTRODUÇÃO:
Em uma pesquisa sobre os bicentenários de independência da América Hispânica, é fundamental a análise dos biênios 1808 – 1810 e 2008 – 2010, pois tratam-se de períodos, respectivamente, de mudanças políticas e de comemorações além de novos debates identitários – a hispanidad. Nosso projeto tinha como cerne de pesquisa as comemorações do bicentenário de independência mexicana as quais se desenvolveram no decorrer do ano de 2010. A escolha deste país ocorreu devido ao fato de que, neste ano, juntamente com as comemorações do bicentenário, o México conferiu espaço às suas próprias celebrações do centenário de revolução, agregados, ainda, a outras festividades mundiais de grande impacto, como os cinqüenta anos da Revolução Cubana, o centenário da república portuguesa, o que, segundo Jaime de Almeida (2006), forma um desnorteante “jogo de espelhos”. Tínhamos como objetivo geral a constituição de um panorama histórico-social das comemorações de 2010, visando estabelecer vínculos entre as comemorações dos dois centenários que poderiam contribuir para a construção de um panorama de envolvimento governamental e popular nestas efemérides.
METODOLOGIA:
A metodologia que sustentou esta pesquisa foi construída a partir de consultas a acervos digitais em portais eletrônicos do governo mexicano, destinados às celebrações, aliadas à pesquisa e análises de fontes documentais nas áreas de História da América, Memória e Comemoração. Neste contexto, procuramos estabelecer um diálogo entre pesquisadores latino-americanos e brasileiros, que discutissem os campos teóricos e os eventos celebrados. A maior dificuldade em nossa pesquisa foi o fato de estudarmos eventos que se enquadram na História do Tempo Presente, onde estes ainda estão em desenvolvimento ou recém ocorridos, não apresentando uma distância temporal confortável para análises histórico-sociais. Em nosso caso, o acesso a fontes documentais que enfocam as celebrações é difícil, visto que o auge das efemérides ocorreu há pouco tempo. Realizamos três etapas nesta pesquisa: 1) levantamento bibliográfico graças a intervenções realizadas pela orientadora desta pesquisa, Professora Doutora Libertad Borges Bittencourt, além de pesquisas no Portal de Periódicos da CAPES, e nos sítios do governo mexicano; 2) arrolamento e organização dos documentos, dividindo-os em três grupos: marcos históricos, historiografia e efemérides; 3) desenvolvimento de artigos para apresentação em congressos.
RESULTADOS:
Diante dos resultados obtidos nesta pesquisa foi possível perceber que as efemérides mexicanas foram pensadas em três linhas fundamentais: 1) aprofundar o conhecimento dos acontecimentos históricos na população; 2) incluir a expressão de todas as formas que refletissem a diversidade cultural do país; 3) destacar a criatividade pessoal e coletiva nas áreas de educação, arte, cultura, ciência, turismo, biodiversidade, saúde, desenvolvimento social e esporte. As atividades programadas incluíam um abrangente programa editorial, diversas atividades acadêmicas, além de espetáculos e exposições. Estavam em desenvolvimento três programas especiais, dirigidos às comunidades indígenas, às comunidades mexicanas residentes no exterior e à participação dos países ibero-americanos. Entre as iniciativas estavam ainda a catalogação e digitalização dos arquivos relativos às efemérides estudadas e o registro dos costumes da época. As comemorações reforçam temas e laços nacionais, particularmente em momentos de crises, o que contribuiu para fortalecer o sentimento de pertencimento e de identidade de um povo. No caso mexicano, a preocupação era fazer com que todos os cidadãos participassem ativamente das comemorações.
CONCLUSÃO:
O estudo das comemorações mexicanas permite discutir a presença das camadas populares e sua relativa importância na construção da identidade nacional. Um dos problemas a serem discutidos neste momento é a forma que o governo celebrou as efemérides, pois havia uma busca para a participação popular. Nossa pesquisa se encontra no momento em que começam a surgir novas fontes acadêmicas. As poucas encontradas são jornalísticas e governamentais, o que nos coloca face ao problema das informações tendenciosas, que demonstram o engajamento alcançado, ao menos simbolicamente, durante as festividades. Simbolicamente, pois, apesar da quantidade de pessoas reunidas nas ruas mexicanas, não podemos afirmar que a participação popular se efetivou, pois acreditamos que grande parcela desta permaneceu marginalizada. Obviamente as comemorações iriam ocorrer como forma de celebração. Mas será que o governo não se utilizou destas, como forma de mascarar determinados aspectos sócio-políticos, tais como as criticas que o atingia à época, devido às ondas de violência que assolavam o país? A resposta para estas e outras perguntas exige uma distância temporal maior, a fim de que apareçam elementos que dêem indícios positivos ou negativos e que auxiliem na produção acadêmica.
Palavras-chave: Bicentenário, México, História do Tempo Presente.