63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem |
ALUNOS EVADIDOS: ATUAÇÕES A PARTIR DO ATENDIMENTO ESCOLAR HOSPITALAR A CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM CÂNCER |
Cristiane Santos Barbosa 1, 2, 3 Caio Augusto Carvalho Alves 1, 2, 3 Amália Neide Covic 4, 5, 2 |
1. Prof. Residente Escola Móvel/ Aluno Específico (EMAE) 2. Instituto de Oncologia Pediátrica - Grupo de Apoio à Criança e ao Adolescente com Câncer/ Universidade Federal de São Paulo (IOP-GRAACC/ UNIFESP) 3. Mestrando Universidade Federal de São Paulo do PPG Educação e Saúde na Infância e Adolescência 4. Profa. Dra./Orientadora 5. Coordenadora Escola Móvel/ Aluno Específico (EMAE) |
INTRODUÇÃO: |
O presente trabalho, de natureza qualitativa, procurou investigar as formas de como o projeto Escola Móvel/ Aluno Específico (EMAE), que funciona no Instituto de Oncologia Pediátrica - Grupo de Apoio à Criança e ao Adolescente com Câncer/ Universidade Federal de São Paulo (IOP-GRAACC/UNIFESP), relaciona-se com alunos em situação de evasão escolar regular. A EMAE faz acompanhamento pedagógico de pacientes oncológicos que estejam em idade de escolarização, com o objetivo de fornecer-lhes a garantia do direito previsto na legislação brasileira, esse serviço, além de prestar atendimento escolar hospitalar, estabelece contato com a escola de origem, orienta os responsáveis pelo aluno e orienta/encaminha matrículas escolares, quando necessário. É assim, um espaço de mediação entre a escola de origem e o atendimento à saúde. Nesse processo, esta escola interage com alguns alunos que, por diferentes fatores, não efetuaram matrícula em escolas regulares. Desta forma, há o desenvolvimento de um currículo específico para o aluno evadido, que irá corresponder as suas necessidades. Porém, ele não terá a conclusão da sua formação na Educação Básica, já que não é objetivo da EMAE oferecer certificação. |
METODOLOGIA: |
Para tanto, foi feita uma coleta de dados, que pode ser dividida em dois períodos: o primeiro, em agosto e setembro de 2010, houve uma exploração inicial, para reconhecimento de campo, no qual a prioridade foi a análise da estrutura e do funcionamento do projeto, com a complementação de alguns estudos de caso; o segundo, em fevereiro e março de 2011, foi uma observação participante no modo em que Minayo descreve, que permitiu a imersão completa no ambiente. Tal coleta permitiu a evidência de dinâmicas e o contato com os sujeitos abordados, o que tornou possível uma análise das subjetividades nesse meio. Com o objetivo de compreender tais dinâmicas, utilizamos a linha fenomenológica de Creswell, que nos permite “a descrição das experiências vividas” a fim de encontrar os significados que os sujeitos dão para o fenômeno, criando relações intersubjetivas que descrevem um movimento, no caso, os efeitos do trabalho da EMAE com esses sujeitos. A partir da explicitação e da discussão de alguns casos selecionados pela sua correspondência com o tema, foi possível levantar dados que, compreendidos através da metodologia mencionada, proporcionaram uma discussão e uma reflexão sobre as ambivalências presentes no serviço que a EMAE presta. |
RESULTADOS: |
Os alunos atendidos pela EMAE, que no momento da pesquisa não estavam matriculados em uma escola regular, possuíam diferentes idades. Grande parte das crianças ainda não tinha frequentado a escola, iniciando o processo de alfabetização na EMAE. Outros, mais velhos, não possuíam correspondência na relação idade/série e não viam sentido de retomarem o processo de escolarização. Entre os vários fatores que os influenciaram a não se matricularem em escolas regulares, o mais mencionado remete ao seu histórico com estas instituições de ensino, muitas vezes marcado por traumas decorrentes de uma incapacidade de atender estes alunos de forma mais adequada, priorizando suas necessidades especiais. Compreendemos que a Escola Móvel trabalha de modo diferente com os alunos evadidos da escola regular. A partir da necessidade de adaptar os conteúdos escolares com necessidades específicas, retoma conteúdos adquiridos pelo aluno, partindo dos seus conhecimentos prévios e da sua realidade. Assim, a intervenção feita procura trabalhar de forma dialógica, já que provoca uma relação entre esses conhecimentos subjetivos e àqueles relacionados às diretrizes curriculares. Com isso, ela atende as especificidades desses em detrimento dos conteúdos formais da educação regular. |
CONCLUSÃO: |
O câncer e o seu tratamento em crianças e adolescentes afetam a sua rotina escolar. As conseqüências na formação básica podem ser variadas, pois, além dos fatores já amplamente debatidos pela área da Educação, dependem também das restrições e das possíveis seqüelas geradas pela busca da cura. O adequado acompanhamento pedagógico nesse período é essencial para que esses sujeitos não tenham o processo de escolarização comprometido. A ideia de humanização da área da saúde foi o que possibilitou tal oferta de serviço neste hospital, já que, em muitas instituições, a educação de um paciente infanto/juvenil oncológico é visto como algo supérfluo. Desta forma, o tratamento não elimina a inserção social destes indivíduos, que mesmo com dificuldades de integração à comunidade escolar, participam de uma alternativa educativa. A EMAE é obrigada a reinventar a escola por conta das circunstâncias às quais está submetida. Lança-se como uma alternativa educacional para esse tipo específico de aluno. É uma alternativa de inserção a esse tipo de aluno evadido, fato incomum nas políticas públicas educacionais. Porém, possui ambivalências que devem ser tomadas como desafio para sua consolidação. |
Palavras-chave: Atendimento escolar hospitalar, Alunos cronicamente doentes, Evasão escolar. |