63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura |
A virgindade na sociedade do século XIII: uma leitura da obra Legenda Áurea |
Juliana Martins Silva 1,1 Reresinha Maria Duarte 1,2 |
1. Graduada - UFG 2. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de História e Ciências sociais - UFG |
INTRODUÇÃO: |
Durante a Idade Média, muitos consideravam o homem, enquanto varão, com uma predisposição a praticar virtudes necessárias para salvação; as mesmas quando praticadas por mulheres, eram consideradas uma luta contra sua própria natureza. Esse olhar misógino acerca da condição feminina se refletia na restrição de suas funções no seio da Igreja. A elas era permitido apenas realizar funções como: tocar sinos, acender velas, rezar, recitar os salmos, celebrar as horas canônicas e educar as raparigas (WEMPLE, 1993, p.252). Esse pode ser um dos motivos do pequeno número de santas em relação ao de santos. Carolina Fortes (2005) afirma que dos 72 processos de canonização julgados pelo papado entre 1198 e 1418, apenas 13 se referiam a mulheres. Tais traços misóginos se refletem claramente na obra Legenda Áurea, escrita na segunda metade do século XIII pelo dominicano, Jacopo de Varazze. A obra narra a vida de 161 santos em 182 capítulos e dedica outros 21 capítulos a festas. Ao longo da obra, percebe-se que o tipo de santidade privilegiado por Jacopo de Varazze é o martírio, ou seja, santos que lutaram até a morte em prol de sua fé (Fortes, 2005, p.25). |
METODOLOGIA: |
O conceito de virgindade está relacionado ao estado ou qualidade de quem é virgem, por sua vez, o conceito de virgem vem do grego παρθενς, em latim virgo. Que designava primeiramente a mulher jovem que havia chegado à maturidade; na antiguidade cristã passou por uma restrição, sendo ligada à integridade corporal. Contudo a importância das virgens cresceu com o aumento das tendências ascéticas no cristianismo. Depois que, em meados do século IV, surgiram os primeiros mosteiros femininos, a virgem passou a ser então o termo para designar as mulheres que levavam uma vida ascética e que faziam profissão de virgindade por toda a vida (ALBRECHT, 1997, p. 546). Atrelado a virgindade encontra-se o martírio responsável por respaldar os flagelos insuportáveis por quais passavam as santas. Como exemplo está Anastácia, que dias após ter sido exilada em uma ilha onde se encontravam outros cristãos, foi buscada, amarrada em uma estaca e queimada viva (VARAZZE, 2003, p. 104-105). Ou como Santa Ágata que entre muitos outros tormentos, foi arrastada nua por entre cacos de cerâmica e brasas ardentes (VARAZZE, 2003, p. 259). Ou como Santa Juliana que foi acorrentada, presa, jogada em uma caldeira com chumbo derretido e ainda ficou ilesa; acabou sendo morta pela decapitação (VARAZZE, 2003, p. 267). |
RESULTADOS: |
As santas virgens na Legenda Áurea formam um conjunto de 15 relatos; são as legendas de Santa Lúcia, Santa Anastácia, Santa Inês, Santa Ágata, Santa Juliana, uma Virgem de Antioquia, Santa Petronela, Santa Marina, Santa Margarida de Antioquia, Santa Cristina, Santa Justina, Santa Eufêmia, Santa Margarida (disfarçada de Irmão Pelágio), Santa Cecília, Santa Catarina. Entre essas quinze virgens apenas treze são virgens e mártires, sendo que Santa Marina e Santa Margarida foram mulheres disfarçadas de monge, injustamente acusadas de fornicação e punidas por isso. De, Santa Marina, por exemplo, o hagiógrafo escreveu: Marina era filha única, e quando seu pai ingressou em um mosteiro, trocou a roupa da menina para que ela parecesse homem, e não mulher, pedindo então ao abade e aos monges que também aceitassem receber seu único filho. Eles anuíram e ela foi recebida como monge, sendo chamada por todos de irmão Marino [...] (VARAZZE, 2003, p. 478). Contudo, relatos como de Santa Marina e o de Santa Margarida (conhecida como irmão Pelágio) se apresentam de forma excepcional dentro da obra, pois a virgindade destas santas vem acompanhada de virtudes como a humildade, a paciência e a dedicação e apesar de passarem por grandes provações não chegaram a sofrer o martírio como as demais santas. Portanto, pode-se observar que aliada à virgindade encontra-se o martírio, que se mostra como |
CONCLUSÃO: |
Não há dúvidas que o estado virginal estava localizado em um universo a parte e quase que contraditório, ele se situa no imaginário medieval como uma dimensão simbólica altamente significativa daquele período. De acordo com predicas do período, a virgindade pertencia ao estado paradisíaco de que gozaram todos os progenitores e que o cristão, sobretudo, a cristã deveria tentar recuperar com todas as forças, ou seja, a mulher deveria buscar mais o estado virginal do que o homem. Pois o estado virginal era a única forma de redenção da figura feminina, considerada tão ativa no pecado, herança representada pelo passado nefasto de Eva. No entanto, a figura de Eva será contraposta pela imagem da Virgem Maria, cuja passividade se tornará instrumento de redenção. Passiva no sentido de manter-se virgem após a concepção de Jesus Cristo e que, única do seu sexo, constituía um modelo que cada mulher deveria procurar imitar, isto segundo uma proposta que nega acima de tudo o corpo feminino e todas as suas funções. |
Palavras-chave: Virgindade, santidade, martírio. |