63ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 3. Geografia |
MUDANÇAS NO ESPAÇO E NAS RELAÇÕES DE LABOR COM A TERRA NA COMUNIDADE OLARIA/CISTERNA |
Willer Cândido de Melo 1 Marcelo Rodrigues Mendonça 2 |
1. Acadêmico do Curso de Enfermagem, UFG/Campus Catalão 2. Prof. Dr./Orientador - Depto.de Geografia, UFG/Campus Catalão |
INTRODUÇÃO: |
Na segunda metade do século XX, após a Revolução Verde, intensificaram os investimentos no campo, como espaço de produção, vinculado diretamente as novas necessidades da indústria. Neste contexto de produção em massa de monocultivos, acelerou-se a concentração agrária e, consequentemente, a expropriação dos pequenos produtores (camponeses) que tradicionalmente geram produtos destinados ao consumo interno e aos mercados locais e regionais. Estes sujeitos, a maioria, a partir das ações modernizadoras, foram expropriados e sem condições de existência passaram a amontoar-se nas periferias urbanas, servindo, estrategicamente como mão-de-obra para as fábricas. Os usos do campo como espaço destinado à produção de matéria-prima ganhou proporção, atingindo o Brasil nas últimas décadas como um pacote de tecnologia e conflitos socioambientais, denominado agronegócio. Especificamente no município de Catalão-GO, a implantação do pacote tecnológico iniciou-se a partir da década de 19(80) com o cultivo de soja em áreas de chapadas. Esse processo concentrou terra e empurrou os moradores para a periferia urbana ou para áreas de pouco interesse agroindustrial, ou seja, os fundos de vales, recentemente, muitos, afogados pelos empreendimentos barrageiros. |
METODOLOGIA: |
Com o objetivo de perceber os efeitos espaciais da territorialização da modernização da agricultura, utilizamos como recorte espacial a Comunidade Olaria/Cisterna, pois tradicionalmente, uma área de produção familiar camponesa com a alhicultura, enfrenta mudanças significativas. Para perceber essas mudanças, após o embasamento teórico, a pesquisa de campo iniciou-se com visitas à Vila Açucena (Distrito), a principal fonte de mão-de-obra para o trabalho assalariado, como na demanda para a manutenção de pastagens e cultivos diversos, desenvolvido nas propriedades da Comunidade. A pesquisa in locu, efetivou seu inicio, especificamente na Escola Municipal Maria Bárbara Sucena, localizada na Comunidade Olaria/Cisterna, com a aplicação de questionários sobre características das propriedades em que os estudantes residem (como tamanho e produção mais relevante) e características dos moradores destas propriedades e sua relação com a lida na terra. Em um segundo momento, acompanhado da agente comunitária de saúde realizou-se visitas às 35 famílias que moram na área da pesquisa. Nestas visitas à Comunidade pode se observar o dinamismo no uso dos recursos naturais durante o processo de labor com a terra e a relação desta com as atividades desenvolvidas na Comunidade Olaria/Cisterna. |
RESULTADOS: |
A Comunidade Olaria/Cisterna é historicamente conhecida pelo cultivo de alho, que era e ainda é desenvolvido em pequenas propriedades, demandando, principalmente a mão-de-obra familiar. Entretanto, devido à competição comercial com o alho chinês e, principalmente o alho argentino, além das pragas que acomete a cultura, esta produção teve forte queda na última década. Na tentativa de buscarem formas rentáveis para se manterem na terra, aqueles que ainda permanecem na terra, tentam diversificar sua produção como alternativa de comercialização e se manterem produtivos com relativa qualidade de vida. Como pôde ser observado nas visitas de campo, os camponeses, por exemplo, cultivam o alho no período da estiagem e na estação chuvosa, principalmente milho, destinado à silagem para a produção de leite. Observa-se também o cultivo de hortaliças, a criação de aves, porcos e vacas, e outras em menor destaque. Entretanto em entrevistas se observa o uso de maquinários no preparo da terra que a desnuda e compacta, além de um intenso uso de agrotóxicos nas lavouras e nos quintais, no intuito de garantirem maior produção e produtividade. Outro fator que pôde ser observado é a presença de rendas não-agrícolas, destacando-se a aposentadoria e atividades de prestação de serviços. |
CONCLUSÃO: |
É fundamental assegurar medidas que assegurem meios de existência decente aos trabalhadores/camponeses, para que estes continuem na terra de trabalho, pois o modelo agrícola vigente privilegia uma minoria. Todavia é preciso pensar numa política pública para o campo brasileiro, que não só assegure apenas terra, como também políticas que proporcione condições de permanência na terra. Pois são estes trabalhadores/camponeses os responsáveis pela diversidade alimentícia da mesa do brasileiro e pela geração de emprego no campo. Mesmo diante da histórica concentração de terras que deixam terras improdutivas sob a valorização, muitos camponeses insistem em permanecer na terra. Na área de pesquisa assiste-se a redução das áreas destinadas a produção de alimentos em favor do avanço do cultivo de eucalipto em áreas de vale, que substitui a flora nativa e modifica o habitat da fauna pelas novas condições ambientais estabelecidas. Se o agronegócio prosseguir, implantando, sem qualquer controle social, cada vez mais áreas destinarão aos monocultivos e intensificará o uso de agrotóxicos que desregula a vida, haverá um declínio na produção e na diversidade dos alimentos que abastecem a mesa do brasileiro e conflitos socioambientais cada vez mais intensos e, na maioria dos casos, irreversíveis. |
Palavras-chave: Comunidade Olaria/Cisterna, Agronegócio, Trabalho. |