H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 6. Liguística |
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“ABRIR OU NÃO ABRIR OS ARQUIVOS, EIS A QUESTÃO” E OS EFEITOS DE SENTIDO NAS CHARGES SOBRE A DITADURA MILITAR |
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Plinio Pereira Filho 1
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1. Mestrando em Letras - PPGL/UFPB
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INTRODUÇÃO: |
“O novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta” (Michel Foucault). As palavras para Foucault eram, são e serão dotadas de poder porque há em todas as sociedades sistemas de controle que fiscalizam, autorizam ou interditam dizeres. Durante a ditadura militar instaurada por volta de 1964, além da interdição os discursos, meios de controle por meio de torturas e perseguições criaram uma sociedade à sombra da égide do medo. Um fato que causou polêmica e mal estar entre algumas esferas do governo federal, principalmente dos militares, foi à possibilidade de abertura dos arquivos do período da ditadura militar encabeçada por uma sindicância no congresso. Ao ser cogitado esta possibilidade, dezenas de charges foram criadas para esboçar a divergência entre o daqueles que tiveram parentes mortos no regime e, em contrapartida, aqueles que temem ser enquadrados como assassinos. O objetivo desta pesquisa foi analisar quais efeitos de sentidos são criados a partir das charges que recuperam não só as memórias da ditadura militar, mas representam uma preocupação dos militares e do próprio governo frente a abertura dos arquivos. Buscou-se compreender em que medida “as verdades” em relação às torturas no regime militar corroboram para a tentativa dos militares silenciarem e/ou negarem as barbáries ocorridas. Para isso, investigaram-se as condições de produção desse discurso, a fim de entender quais as razões histórico-sociais que justificam o fato. |
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METODOLOGIA: |
A presente pesquisa foi realizada entre os meses de setembro e dezembro de 2010. O embasamento teórico-metodológico foi mediado através dos estudos do discurso/poder/saber de Michel Foucault, das contribuições das pesquisas sobre o humor de Sírio Possenti, das leituras de Millôr Fernandes que foram importantes para compreender o universo das piadas e das charges. O corpus compreendeu 08 charges publicadas e distribuídas entre diferentes sites na internet. Através da seleção, buscaram-se, primeiramente, identificar quais são as informações que denunciam as marcas da memória de da história e que permitiram reconstruir o período do regime militar. Posteriormente, verificaram-se através da analise discursiva os efeitos de sentido produzido pelas reações e/ou manifestações dos representantes políticos na esfera do poder. |
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RESULTADOS: |
Partindo do pressuposto de que as charges veiculam denuncia social, das 08 charges selecionadas e analisadas, foram observados os respectivos resultados: Em todas as charges percebeu-se a presença de personalidades, fato este importante para compreender qual a relação com o tema proposto. Em duas delas, Lula aparece. Na primeira, o ex-presidente interpreta o personagem Hamlet, de William Shakespeare, na lendária frase: Ser ou não ser, eis a questão!; enquanto na segunda, o arquivo de aço transforma-se num monstro. Os efeitos de sentido apresentado nas duas charges envolvendo o ex-presidente demonstram o perigo que o representante maior do país corre em abrir segredos de outras épocas que venham a se tornar um monstro em seu governo. Os militares aparecem em outras 04 charges. Nelas, perceberam-se “verdades” através de marcas que denunciam um silenciamento aos arquivos. Elas aparecem assim divididas: um militar que ordena esconder os arquivos – medo da repressão; o militar que tenta acabar com ressentimentos do passado dizendo que é uma pagina virada – negação da memória discursiva; o militar que finge não saber de nada sobre a possível investigação dos arquivos; bem como aquele que, encostado ao arquivo repleto de sangue e clamando por justiça, pede “silêncio”. Nas duas ultimas vêm-se a sua relação com os partidos políticos. Os efeitos de sentido produzidos pelas charges revelam o quão perigosas são as palavras e a simbologia do mostro de escavar o passado. |
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CONCLUSÃO: |
Quarenta anos depois, os resquícios do medo vivido em outrora volta a incomodar. As charges resgatam dois pólos que se complementam em “verdades” diante da possibilidade de revelar os segredos militares. Se por um lado elas expressam a preocupação magistral das autoridades em não revelar os segredos que estão nos arquivos do regime militar, por outro lado, este medo corrobora para que as autoridades militares ora tentem esconder as provas da ditadura ora demonstrem “poder” frente ao ato de não abrir os arquivos, ressaltando que nada do passado será revelado e tudo permanecerá em silêncio. Estes discursos que permearam as charges permitiram compreender os efeitos de sentido que um ato tão delicado, quanto à ditadura militar, pode representar não só para os personagens envolvidos, mas para a sociedade que almeja por respostas. Embora não apareçam de forma direta, os não-ditos e a repetição, recursos empregados nas charges, demonstram que o poder e a intervenção dos discursos circulam em todas as esferas sociais. |
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Palavras-chave: CHARGES, DITADURA MILITAR, ARQUIVOS SECRETOS. |