63ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 1. Clínica e Cirúrgia
Efeitos Cardiorrespiratórios, Comportamentais e Antinociceptivos da Administração Intramuscular de Tramadol em Equinos
Thais Miranda Silva Freitas 1
Juan Carlos Duque Moreno 2
1. Prof. Dr./ Orientador - Depto de Medicina Veterinária - UFG
2. Graduanda de Medicina Veterinária - UFG
INTRODUÇÃO:
O tramadol é um fármaco opioide com baixa afinidade por receptores μ, frequentemente utilizado na medicação pré-anestésica devido ao seu efeito sedativo e analgésico, e também por não induzir efeitos significativos no sistema cardiovascular. (FANTONI & CORTOPASSI, 2006). O tramadol também bloqueia os impulsos elétricos na medula, alterando a nocicepção sendo que sua biotransformação hepática produz metabólitos ativos com ação analgésica, entre eles o M1 (O-desmetiltramadol) (SOUZA, 2009).
Em equinos os derivados opioides são usados há mais de 70 anos e passaram a fazer parte da rotina farmacológica para controle da dor nessa espécie, apesar dos relatos de excitação, aumento da atividade locomotora, comportamento estereotipado e alterações na motilidade intestinal. Por este motivo, tem-se a preocupação em avaliar se os efeitos antinociceptivos do fármaco compensam a pequena margem de segurança entre o efeito analgésico esperado e o aparecimento de efeitos indesejáveis como a excitação do sistema nervoso central (SILVA JÚNIOR, 2009).
SHILO et al. (2007), mesmo não realizando um estudo clínico, reportaram efeitos adversos resultantes da aplicação de tramadol intramuscular, indicando sua utilização na dose de 2,0 mg/kg em equinos. Apesar de tais informações, são escassos os estudos acerca das alterações clínicas relacionadas ao uso do fármaco por via intramuscular nessa espécie, bem como de seu potencial antinociceptivo.
METODOLOGIA:
Foram utilizados seis equinos, machos ou fêmeas, adultos, clinicamente saudáveis, sem raça definida, pesando entre 200 e 350 kg, sendo empregados em três ocasiões, utilizando-se 1,0 mg/kg, 2,0 mg/kg e 3,0 mg/kg de cloridrato de tramadol a 5% (DORLESS, Agener União – Saúde Animal, Jabaquara - SP), administrados por via intramuscular (GM1, GM2 e GM3 respectivamente), na tábua do pescoço. Os equinos foram colocados no tronco de experimentação e mantidos em posição quadrupedal durante todo o procedimento.
Em cada tratamento foram feitas três avaliações para o estabelecimento dos valores basais, imediatamente antes da aplicação do tramadol (T0). Em seguida os animais foram avaliados aos cinco, 10, 20, 40, 60, 90, 120, 150 e 180 minutos após a injeção intramuscular do fármaco (T5, T10, T20, T40, T60, T90, T120, T150, T180 respectivamente).
As variáves avaliadas foram: Fequência Cardíaca, Frequência Respiratória, Pressão Arterial Média, Sistólica e Diastólica, Temperatura Retal, Motilidade Intestinal, Sedação e Potencial Antinociceptivo.
A dor foi avaliada pelo analgesímetro digital que segue o mesmo princípio do método de filamentos de von Frey, estimulador tátil utilizado para detectar alterações na sensibilidade cutânea e para determinar o limiar da força necessária para produzir a sensação do toque (PEARCE, 2006). Foi observada a reação de retirada do membro dos animais quando aplicada pressão progressiva sobre a região limítrofe entre o cório coronário e a pele.
RESULTADOS:
Na avaliação da FC não foram observadas diferenças estatísticas ao longo do tempo em cada grupo, nem entre os diferentes grupos, permanecendo dentro dos valores de referência para a espécie em questão.
A frequência respiratória apresentou valores médios maiores cinco minutos após a aplicação do fármaco, em todos os tratamentos, entretanto esse aumento não revelou diferença estatística.A temperatura retal dos animais, manteve-se estável dentro e entre os tratamentos, porém no G2 a temperatura estava mais elevada, se igualando a G1 e G3 em 120 minutos.
A Pressão Arterial Sistólica (PAS) aumentou decorridos 5 minutos da aplicação do fármaco, estabilizando-se posteriormente, sendo que no grupo tratado com 1mg o aumento foi proporcionalmente maior em relação ao outros tratamentos. SILVA JÚNIOR (2009) também observou elevação da PAS, porém o mesmo resultado não foi verificado em relação à PAD e PAM. Neste estudo a Pressão Arterial Diastólica (PAD) aumentou depois de 5 minutos. A PAM aumentou após a administração do tramadol e se manteve acima dos valores basais até o final das avaliações no grupo de animais que recebeu a dose de 3mg/kg.
O nível de sedação, observado pela altura percentual da cabeça dos equinos em relação ao solo não apresentou diferença significativa entre grupos nem entre momentos.
Nos tratamentos G1, G2 e G3 o limiar nociceptivo reduziu nos cinco primeiros minutos (M5) da aplicação do tramadol.
CONCLUSÃO:
Pode-se observar que as alterações comportamentais e cardiorrespiratórias foram mais acentuadas nas doses de 2mg/kg e 3mg/kg. Entretanto, não apresentaram significado clínico relevante. Após o estudo dos efeitos decorrentes da injeção intramuscular de cloridrato de tramadol a 5% em equinos, conclui-se que o fármaco não promove analgesia nesta espécie quando aplicado por via intramuscular, nas doses estabelecidas.
Palavras-chave: Tramadol, Equinos, Intramuscular.