64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 6. Ciências da Religião e Teologia
ANÁLISE DO DISCURSO RELIGIOSO NA OBRA “O CRIME DO PADRE AMARO”, DE EÇA DE QUEIRÓS.
David Carlos Santos Sarges 1
Carlos Augusto Lima Campos 1,2,4
Edna da Conceição Lima Campos 2,5,6
Marina Lima Campos 2,3,4
1. Universidade do Estado do Pará - UEPA
2. Universidade Federal do Pará - UFPA
3. Ministério Público do Estado do Pará - MPE/PA
4. Esp. Direito
5. Bacharelado e Licenciatura em Geografia
6. Profa. Esp./ Orientadora
INTRODUÇÃO:
Eça de Queirós pertence a um contexto em que a literatura, a arte e o pensamento estão atravessando progressivas transformações. E é neste ambiente denominado Realismo que “O Crime do Padre Amaro” vem a ser concebido como uma das obras mais representativas, caracterizada – sobretudo – pelo tom de crítica à sociedade portuguesa da época, o que inclui os membros do clero. Encontram-se, na essência do discurso religioso, questões ideológicas bastante expressivas, como (I) a submissão a Deus, (II) a autoridade do sacerdote, e (III) o papel ocupado pela mulher naquela sociedade. Este projeto intenta analisar, desta forma, a problemática que gravita em torno não apenas do discurso, mas também da religião e da ideologia nele refletidas.
METODOLOGIA:
O projeto foi empreendido no ano de 2011. A metodologia empregada reuniu algumas técnicas de pesquisa derivadas dos saberes associados à Literatura Portuguesa e às Ciências da Religião. No desenvolvimento das hipóteses, empregou-se a base indutiva. O trabalho foi elaborado a partir da análise da mencionada obra Eça de Queirós, à luz dos conceitos de Eni Orlandi, acerca do discurso, epistemologicamente considerado.
RESULTADOS:
Os principais resultados obtidos demonstram que: (1) O discurso religioso, em “O Crime do Padre Amaro”, seria classificado como autoritário por Orlandi, já que atribui à interação emissor/receptor uma relação de desigualdade. Ademais, (2) fundamenta-se em torno de uma concepção mítica da realidade, e não em meio à racionalidade, como, por exemplo, no discurso filosófico. Desse modo, tal discurso, em Eça de Queirós, seria uma representação do sentido da vida, e da própria existência humana; 3) A figura de Deus, na obra em comento, está associada às distintas acepções de "temor e tremor", à semelhança do que se verifica em Søren Kierkegaard; 4) Os personagens presentes em "O Crime do Padre Amaro", assim como em outras obras de Eça de Queirós, não são ilustrações meramente alegóricas. Constituem representações (universais) do ser humano.
CONCLUSÃO:
Os resultados desse estudo apontam que as relações encontradas na obra “O Crime do Padre Amaro” indicam duas tendências aparentemente contraditórias: uma postula em seu discurso o terror e as consequências eternas que qualquer ofensa a Deus poderia provocar. A outra, seguindo o viés do amor, sinaliza em seus solilóquios que Deus é amigo e misericordioso. Contudo, tem-se que Eça de Queirós tencionou desenvolver sua produção neste sentido, uma vez que fomentou a discussão relativa à multiplicidade do caráter divino, em resposta às vicissitudes da cognição humana. Daí a pluralidade nos papéis ocupados por mulheres e líderes sacerdotais, em franca demonstração (1) da decadência da natureza humana, em que pese (2) a possibilidade de ressignificação de valores e condutas.
Palavras-chave: Discurso, Religião, Ideologia.