64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 8. Antropologia
O MOLUSCO TERRESTRE MEGALOBULIMUS NA CULTURA DO LITORAL DO PARANÁ
Carlos João Birckolz 1
Marcos de Vasconcellos Gernet 1
1. Setor Litoral - UFPR
INTRODUÇÃO:
Desde a pré-história, os moluscos fazem parte do cotidiano do praiano do litoral do estado do Paraná e de quase todas as regiões brasileiras. Inicialmente muito utilizados na alimentação, também tiveram sua importância vinculada às características culturais destes povos que utilizavam suas conchas como adornos, ferramentas, objetos ritualísticos e até mesmo símbolo de poder, vinculados a uma época em que a simplicidade dos fatos tangia em sua plenitude. A necessidade de estudos referentes a este grupo zoológico principalmente no estado do Paraná, já estaria justificando este trabalho, até porque pesquisas referentes à malacologia são sempre realizadas no âmbito da ecologia, taxonomia, anatomia e raramente relacionadas com a antropologia propriamente dita. O principal objetivo deste trabalho é o resgate de informações históricas e atuais referentes à utilização dos moluscos pertencentes ao gênero Megalobulimus no dia a dia dos habitantes do litoral paranaense, hábitos corriqueiros muitas vezes passados de geração em geração desde tempos pretéritos em que o nosso litoral era habitado pelos homens construtores de sambaquis.
METODOLOGIA:
O trabalho teve início no ano de 2009 e foi realizado ao longo dos sete municípios do litoral do estado do Paraná, Guaratuba, Matinhos, Pontal do Paraná, Paranaguá, Morretes, Antonina e Guaraqueçaba, durante um período de três anos. Foram realizadas entrevistas com 35 moradores, através de um questionário semi estruturado em que abordou-se questões referentes à utilização dos moluscos pertencentes ao gênero Megalobulimus no cotidiano e na história familiar destas pessoas. As perguntas eram relativas ao uso dos animais e suas conchas na alimentação, saúde, crenças, adornos e economia. As conversas foram gravadas perante autorização, utilizando-se gravador digital e posteriormente transcritas na integra para facilitar a tabulação e análise dos resultados. Também foram levantados dados na literatura relativos ao tema, e estas informações acabaram sendo corroboradas ou não pelas entrevistas. Nas abordagens, foram levados exemplares das conchas dos Megalobulimus, facilitando o reconhecimento por parte dos entrevistados.
RESULTADOS:
Num total de 31 dos 35 entrevistados referem-se aos Megalobulimus como “aruá do mato”, “jatutá” ou caracol gigante. Em todos os municípios a principal utilização destes animais é na alimentação, característica esta provavelmente referente à herança indígena. O modo de preparo é sempre o mesmo, fervura em água e sal. Em Paranaguá e Morretes, oito entrevistados costumavam consumir também os ovos considerados verdadeiras iguarias. Nos municípios de Matinhos, Guaratuba, Pontal do Paraná e Guaraqueçaba, 17 pessoas declararam utilizar o Megalobulimus na cicatrização de cortes e no tratamento das “rachaduras de calcanhar”, e a técnica consistia em fazer com que o animal andasse sobre a área afetada, espalhando seu muco tido como medicinal. Em todos os municípios verificamos o uso destes moluscos no artesanato, no entanto obtivemos a informação que os animais são coletados e trazidos do estado de Santa Catarina. Na região de Guaraqueçaba e nas ilhas da baía de Paranaguá, é bastante comum os moradores utilizarem as conchas resistentes destes animais como adornos. Em Guaratuba obtivemos a informação de um morador que utilizava das conchas como recipiente de água para molhar plantas, devido ao grande tamanho destas.
CONCLUSÃO:
Através da grande quantidade de conchas deste gênero encontradas em sambaquis da região, podemos concluir que estes animais faziam parte da dieta do homem pré-histórico e também estavam presentes nas atividades diárias destes grupos caçadores coletores. Os moradores do litoral paranaense vêm através de gerações utilizando os Megalobulimus no seu cotidiano, no entanto com o aumento da urbanização e supressão da vegetação nativa estes animais estão desaparecendo, forçando o praiano a simplesmente modificar seus costumes e deixar de passar a seus filhos e netos a importância destes animais. Outra ameaça detectada é a presença do caramujo africano Achatina fulica, espécie exótica invasora e muitas vezes confundida com o molusco nativo, fazendo com que este seja morto e considerado também uma ameaça.
Palavras-chave: Megalobulimus, Costumes, Alimentação.