64ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 4. Odontologia - 6. Odontopediatria
CÁRIE DE ESTABELECIMENTO PRECOCE E FERMENTAÇÃO DO LEITE HUMANO PELO BIOFILME DENTAL
Pierre Adriano Moreno Neves 1
Cecília Cláudia Costa Ribeiro 2
Lívia Maria Andaló Tenuta 3
Valério Monteiro-Neto 5
Ana Margarida Melo Nunes 6
Jaime Aparecido Cury 4
1. Doutorando em Odontologia - UFMA
2. Profa. Dra./ Orientadora - Departamento de Odontologia II - UFMA
3. Profa. Dra. - Faculdade de Odontologia de Piracicaba - FOP/UNICAMP
4. Prof. Dr. - Faculdade de Odontologia de Piracicaba - FOP/UNICAMP
5. Prof. Dr. - Centro Universitário do Maranhão - UNICEUMA
6. Profa. Ms./ Centro Universitário do Maranhão - UNICEUMA
INTRODUÇÃO:
O papel do leite humano na etiologia da cárie ainda é assunto controverso na literatura. Revisões sistemáticas sobre a relação entre amamentação e cárie de estabelecimento precoce (CEP) são inconclusivas, apontando tanto para falhas nos desenhos dos estudos quanto na consideração das variáveis confundidoras. Alguns estudos mais recentes mostram que o aleitamento materno, após um ano de idade, tem associação com o estabelecimento precoce da doença; enquanto outros refutam a relação entre aleitamento prolongado e a cárie precoce. Sabe-se que consumo de açúcares está relacionado à composição do biofilme oral em crianças com cárie precoce, mas ainda é desconhecido se nesse biofilme cariogênico o leite humano teria um potencial acidogênico, sinalizando que a amamentação possa contribuir para quedas de pH em um biofilme já maduro naquelas crianças. Assim o objetivo do presente estudo foi avaliar se o leite humano tem potencial acidogênico no biofilme oral em crianças com ou sem atividade de cárie, tendo como controle a sacarose.
METODOLOGIA:
Este estudo in vivo com desenho cruzado foi realizado em 2 fases experimentais. As crianças selecionadas e cujos pais assinaram o termo de consentimento informado (n=16), foram examinadas clinicamente e alocadas em dois grupos de acordo com a experiência de cárie: 9 livres de cárie e 7 crianças com CEP. Cada criança foi randomicamente escolhida para receber a amamentação ou o tratamento com solução de sacarose 10% na primeira fase da avaliação da acidogenicidade do biofilme dental (fase 1). Após um intervalo de duas semanas, os tratamentos foram invertidos e o pH foi aferido novamente (fase 2). Em ambas as fases, o pH do biofilme foi medido no mesmo local antes e após 5’ e 30’ dos tratamentos. Os pais ou responsáveis pelas crianças foram orientados para interromper qualquer procedimento de higiene oral durante 72 horas antes da medição do pH afim de permitir a formação de um biofilme espesso. Além disso, a criança deveria estar em jejum de no mínimo 2 horas antes da primeira medição para evitar que o consumo de alimentos pudesse interferir nos resultados das aferições. Após a avaliação do pH, biofilme e saliva não estimulada foram coletados para comparação microbiológica da contagem de micro-organismos totais, Streptococcus mutans e Lactobacillus spp., entre os dois grupos.
RESULTADOS:
Com relação à análise microbiológica, os resultados mostraram uma maior frequência de Streptococcus mutans no biofilme e saliva de pacientes CEP, com diferença significativa quando comparada ao grupo livre de cáries (p<0.05). Todos os pacientes CEP (100%) e apenas 2 pacientes livre de cáries (22%) apresentaram amostras de biofilme e saliva colonizadas por este micro-organismo. Na comparação entre os grupos de crianças com e sem cárie, o tratamento com leite não apresentou diferença estatística para nenhuma das variáveis de pH observadas (p>0.05). Porém, a solução de sacarose provocou um maior pH5min no biofilme dos pacientes CEP (p=0.0317). Na comparação entre os tratamentos dentro de um mesmo grupo, a sacarose provocou maior queda de pH no biofilme de pacientes livre de cáries que o leite humano (p=0.0423). Os resultados também mostraram que para os indivíduos CEP, a sacarose apresentou um potencial acidogênico maior que o leite ao se comparar as variáveis pH5min (p=0.0308), pH5min (p= 0.018) e AUC6.5 (p=0.0104).
CONCLUSÃO:
O leite humano não resultou em diminuição de pH em crianças amamentadas com e sem cáries. Sacarose levou a uma diminuição significativa do pH independente da experiência de cárie das crianças. No entanto, esta observação foi mais evidente para o biofilme maduro de crianças com cárie, nas quais diferenças significativas foram observadas para a maioria dos parâmetros acidogênicos analisados. Em conclusão, o leite humano não teve potencial acidogênico no biofilme oral de crianças amamentadas, enquanto a administração de sacarose resultou em queda de pH, a qual foi maior no grupo de crianças com cárie precoce. Em conjunto, esses dados dão suporte a hipótese de que o leite humano não é cariogênico, e que o consumo de outros carboidratos deve ser considerado na etiologia da cárie de estabelecimento precoce em crianças com aleitamento prolongado.
Palavras-chave: Leite materno, biofilme dental, pH.