64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
Processos Cognitivos na Memorização Musical
Laura Udihara Balthazar 1
Ricardo Dourado Freire 2
1. Aluna de Graduação - Departamento de Música - Universidade de Brasília
2. Prof. Dr./ Orientador - Departamento de Música - Universidade de Brasília
INTRODUÇÃO:
Desde que Franz Liszt, em meados do Século XIX, em um momento de fervor interpretativo, jogou suas partituras da estante e continuou seu recital todo de memória (Lundin, 1953), tornou-se costumeiro o hábito de intérpretes de música realizarem performances inteiras de memória.
Quando um músico memoriza uma peça, ele a aprende: "... de modo a poder tocá-la "automaticamente", condicionando seu sistema motor de tal forma que ele reage de determinadas maneiras a determinadas sensações corporais. Tocar um fragmento de uma composição produz um feedback que traz a tona movimentos em direção ao próximo fragmento..." (Jourdain, 1998, pag. 283)
Considerando então o processo de memorização musical como um processo que ocorre na mente, a psicologia cognitiva, que segundo Sternberg "...trata do modo como as pessoas percebem, aprendem, recordam e pensam sobre a informação" (Sternberg, 2000, pag. 22) possui um papel importante no estudo sobre a memorização musical ao identificar as diversas formas, e todo o processo mental pelo qual a memorização se dá.
O impulso para este trabalho deu-se pela importância e valorização da execução memorizada por parte do intérprete. Porém apesar de sua extrema importância, a execução musical memorizada é uma prática que ainda gera medo e insegurança, especialmente entre os estudantes, prejudicando a formação do músico.
METODOLOGIA:
O método aplicado para a realização desta pesquisa foi o de uma revisão bibliográfica de significativas pesquisas sobre memória, tanto no campo da psicologia cognitiva tradicional quanto da literatura específica sobre psicologia da música. Esta pesquisa buscou uma fundamentação e discussão teórica da psicologia cognitiva, da importância da memorização na música e de aspectos específicos abordados na memória musical.
Para fins organizacionais, a literatura foi dividida em duas partes: A Memória na Psicologia Cognitiva Tradicional e A Memória Musical Específica.
RESULTADOS:
Dentro da psicologia cognitiva tradicional, o modelo tradicional predominante da estrutura da memória é o modelo sugerido por Richard Atkinson e Richard Shiffrin em 1968 (Atkinson e Shiffrin apud. Sternberg, 2000), o chamado modelo dos três armazenamentos, que atualmente são designados de "memórias": Memória de Curto Prazo (MCP), Memória de Longo Prazo (MLP) e Memória Sensorial.
Este mesmo modelo existe nas pesquisas sobre memorização musical específica, como por exemplo nas pesquisas de Levitin (2010) que descreve três tipos de memória específica musical: Memória de Agrupamento, Memória de Identificação e a Memória Muscular.
Alguns pesquisadores (Ericsson, 1997 Santiago, 2001) estudaram também o uso de imagens e representações mentais no momento da performance para a interiorização da obra.
Outros processos musicais específicos abordados são: o processo de feedback, que é a forma como a informação retorna ao músico (Gabrielsson, 2003), os pontos de apoio dentro de uma obra memorizada (Chaffin, Lisboa, Logan e Begosh, 2009) e também os estudos sobre a aplicação da memória de curto prazo em outros contextos de aprendizado musical, como por exemplo a audição musical.
CONCLUSÃO:
A psicologia cognitiva deve ser usada como uma ferramenta para auxiliar o músico a entender os seus processos mentais, e assim, melhorar e otimizá-los. Devemos nos questionar: "Como poderia a psicologia cognitiva contribuir para que o músico possa melhor capacitar-se para realizar a performance musical?" (Santiago, 2001, pag. 04).
A partir desta pesquisa, foi possível concluir que a psicologia cognitiva é uma ferramenta importante na pesquisa sobre a memória musical, e que todas as pesquisas realizadas e teorias formuladas pela psicologia cognitiva podem ser utilizadas como apoio para o estudo da memória musical e como ferramentas para o intérprete melhorar cada vez mais a qualidade de sua execução. Os estudos e pesquisas sobre memória na psicologia cognitiva estão mais a frente do que os da memória musical específica, em termos também de aplicação prática, experimentos e testes.
O músico deve visualizar e psicologia cognitiva como um importante aliado, e buscar a psicologia cognitiva como uma forma de auxílio para suas dificuldades. A psicologia cognitiva possui diversas pesquisas na área de performance de alto nível, e as pesquisas em outras áreas como esportes e atividades intelectuais podem ser utilizadas como referência para os músicos.
Palavras-chave: Memória, Performance Musical, Psicologia Cognitiva.