64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 1. Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores
Análise fitoquímica e avaliação do extrato hidroalcóolico dos frutos de Jatropha gossypiifolia sobre comportamentos fisiológicos de Biomphalaria glabrata.
Adalberto Alves Pereira Filho 1
Clícia Rosane Costa França 2
Dorlam’s da Silva Oliveira 3
Renato Juvino de Aragão Mendes 3
José de Ribamar Santos Gonçalves 4
Ivone Garros Rosa 5
1. Depto. de Parasitologia - UFMG
2. Núcleo de Imunologia Básica e Aplicada - UFMA
3. Depto. de Biologia - UFMA
4. Depto. de Biologia - UFMA
5. Depto. de Farmácia - UFMA
6. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de Patologia - UFMA
INTRODUÇÃO:
A esquistossomose é uma doença crônica causada pelo trematódeo do gênero Schistosoma com grande prejuízo na Saúde Pública, cujo principal hospedeiro intermediário é o Biomphalaria glabrata.
Pesquisas têm se direcionando por alternativas naturais para o combate ao hospedeiro intermediário da esquistossomose, e atualmente tem se buscado espécies da flora do país, principalmente àquelas que existem em locais nas áreas endêmicas da esquistossomose.
Neste trabalho elegeu-se Jatropha gossypiifolia que é uma planta bastante presente aqui no Maranhão, estado que apresenta focos da esquistossomose em diversas regiões, principalmente na Baixada Ocidental Maranhense, área endêmica. Além disso, essa planta pertence ao grupo das Euforbiáceas, família que têm despertado interesse pelo seu potencial moluscicida, principalmente por apresentarem compostos do metabolismo secundário eficazes na eliminação dos moluscos.
Na busca de uma alternativa no combate ao caramujo transmissor da esquistossomose este trabalho teve por objetivo avaliar a atividade moluscicida e o perfil fitoquímico dos frutos de J. gossypiifolia frente a caramujos da espécie B. glabrata analisando o comportamento dos caramujos quanto à sua mobilidade, e estado da massa cefalopodal desse planorbídeo.
METODOLOGIA:
Frutos de J. gossypiifolia foram fragmentados e transferidos para frascos adicionando-se álcool a 92%, deixando-se sob maceração por quinze dias. Filtrou-se o macerado e obteve-se o extrato que foi acondicionado em recipiente de vidro, abrigado da luz e calor. O extrato obtido, uma vez concentrado em banho-maria para obtenção do resíduo seco, foi submetido a análises químicas com o intuito de verificar a presença de das seguintes classes de metabólitos secundários: fenóis, taninos, resinas, alcalóides, esteróides, triterpenóides, saponinas e cumarinas, baseadas na metodologia preconizada por Matos (2009).
Três grupos de 10 caramujos B. glabrata foram colocados em frascos de vidros contendo 500 ml de solução obtida pela diluição do resíduo seco do extrato hidroalcóolico do vegetal com água desclorada, obtendo para cada grupo as concentrações de 100, 75, 50 e 25 ppm. Para o grupo controle, utilizou-se 10 caramujos imersos em água desclorada, procedendo-se a análise igual àquela realizada nos grupos testes. Os caramujos foram expostos na solução por 24 horas a temperatura ambiente. Após esse tempo, foram removidos e lavados duas vezes com água desclorada, alimentados com alface e observados a cada 24 horas, durante quatro dias para avaliar a mortalidade.
RESULTADOS:
As concentrações testadas 100, 75, 50 e 25 ppm promoveram 100; 86; 40 e 26,6% de mortalidade, respectivamente. Com relação ao estado da massa cefalopodal dos planorbídeos presentes em contato com o extrato vegetal, esses apresentaram retração da massa cefalopodal sem liberação de hemolinfa e sua mobilidade foi afetada uma vez que mesmo os caramujos sobreviventes não apresentaram sinais de movimentação. Os caramujos presentes no grupo controle permaneceram vivos apresentando-se móveis e com a massa cefalopodal intacta.
Através da investigação fitoquímica do extrato hidroalcoólico dos frutos de J. gossypiifolia foi possível a determinação qualitativa de importantes classes de metabólitos secundários tais como: Saponinas (+), Taninos Hidrossolúveis (++), Esteróides (++), Triterpenóides (+), Alcalóides (++), Flavonóides (+). Catequinas e Cumarinas não foram encontradas nesse extrato.
A ação de metabólitos como taninos e saponinas podem provocar no caramujo dois mecanismos que explicam sua morte: ou ele retrai sua massa cefalopodal para dentro da concha, liberando a hemolinfa, ou então se estende inchado anormalmente o cefalópode para fora, onde este última característica foi observada nos caramujos em contato com o extrato do vegetal.
CONCLUSÃO:
O extrato hidroalcóolico dos frutos de J. gossypiifolia causou ruptura no equilíbrio osmótico de B. glabrata promovendo inchaço da massa cefalopodal e expansão para fora da concha do planorbídeo. Ao mesmo tempo, o extrato hidroalcóolico desse vegetal mostrou-se um agente moluscicida, em que promoveu 100% de mortalidade dos caramujos na concentração de 100 ppm.
Além disso, a capacidade de locomoção de B. glabrata foi afetada quando em contato com a solução extrativa de frutos de J. gossypiifolia, fato que pode ter contribuído para a incapacidade de sobrevivência dos caramujos, uma vez que os moluscos perderam a habilidade de ir em busca de alimentos.
Com base nos resultados obtidos, faz-se necessário testes de toxicidade para avaliação da reação de outros organismos, como peixes, frente a este extrato, e posteriormente testes em campo para avaliação da eficácia deste extrato sobre os caramujos ali presentes.
Palavras-chave: Biomphalaria glabrata, Jatropha gossypiifolia, Metabólitos secundários..