64ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 5. História - 1. História da Cultura |
Leventamento Histórico da Confecção da Canoa Artesanal no Litoral do Paraná |
Thays Teixeira da Paz 1 Simone Rigo 1 Felipe Macagnani 2 Marcos de Vasconcellos Gernet 3 |
1. Graduanda de Gestão Ambiental -UFPR Setor Litoral 2. Graduando de Gestão Desportiva e do Lazer- UFPR Setor Litoral 3. Prof./ Orientador - UFPR Setor Litoral |
INTRODUÇÃO: |
Apesar dos grandes avanços na construção de embarcações e a introdução da canoa de fibra na pesca artesanal, a milenar técnica da feitura de canoas – a partir de um só tronco (Monóxila) ainda vive. Nos dias de hoje, fatores como o desenvolvimento social e as novas tecnologias tem sido crucial para a quase extinção dessa arte, cuja herança deixada pelos índios carijós, antigos habitantes do litoral Paranaense aos primeiros colonizadores que chegaram em nossa costa. Em meados da década de 20 os descendentes do caboclo (miscigenação do branco com índio) povoaram o litoral do Paraná, mantendo a tradição dos seus descendentes, os índios carijós, na cultura da confecção da canoa de um tronco só. Em cada família havia pelo menos um construtor de canoa, que era de suma importância, sendo o artefato pesqueiro que garantia a subsistência deste grupo familiar. Com o passar do tempo o crescimento da agricultura e a chegada dos primeiros banhistas, essa prática de confecção foi se perdendo e o caboclo se integrando a novas condições de vida. Hoje no litoral paranaense existem pouquíssimos artesões que ainda mantêm a arte e tradição da feitura de canoas de um tronco só, que garante a perpetuação dessa cultura. |
METODOLOGIA: |
O projeto foi idealizado por três alunos da UFPR setor Litoral, dos cursos de graduação em Gestão Ambiental e Gestão Desportiva do Lazer que preocupados em registrar e perpetuar diversos costumes da cultura caiçara utilizam o método de entrevistas semi estruturadas para coletar dados importantes sobre essa cultura que é tão rica, mas que se não relatada pode se extinguir. Esse resgate cultural é realizado em três fases: planejamento, execução e avaliação. Na fase de planejamento é feita uma seleção dos moradores antigos que vivenciaram as mudanças sociais que ocorreram no município de Matinhos. Após a seleção é estipulado um roteiro com perguntas semi estruturadas o que direciona a uma conversa informal com o entrevistado. A etapa de execução se caracteriza pela entrevista em si, sendo utilizada a técnica do gravador, pois assim podemos obter dados mais fidedignos, ajudando na próxima etapa de avaliação. No processo avaliativo é feita a transcrição integral da conversa, mantendo a maneira informal de comunicação do entrevistado. Após esta etapa é feita a filtragem do conteúdo a fim de selecionar somente as temáticas que são o foco do estudo sobre as mudanças culturais, geográficas, ambientais e econômicas do município. |
RESULTADOS: |
De acordo com os fazedores de canoas entrevistados, essas eram produzidas a partir de duas espécies principais de árvores Guapuruvu e a Figueira, para a sua confecção utilizava-se basicamente as seguintes ferramentas: enxó e machado. A construção era artesanal e precisava de muita técnica e paciência. Segundo alguns entrevistados o corte das árvores tinha que corresponder à lua certa, principalmente na lua minguante que após o “pedido de permissão” esta era derrubada. Todo este ritual fazia-se necessário para que a madeira não rachasse. Um dos entrevistados relatou que depois de tombada, a árvore escolhida era medida para que então fosse esculpida a “boca” da canoa. Em primeiro lugar media-se o contorno desta para que o corpo da embarcação apresenta-se equilíbrio e flutuabilidade e em seguida eram feitos os cortes das estivas a partir de árvores pequenas de troncos roliços, possibilitando o seu transporte. Muitas vezes o canoeiro lavava a embarcação recém confeccionada com “caldo de Aroeira” para diminuir as infiltrações. O remo era feito a partir da árvore da Caxeta, cuja madeira leve e resistente era muito utilizada. Era comum também pintar as canoas com as cores da Bandeira do Divino Espírito Santo (branco e vermelho). |
CONCLUSÃO: |
Com o desenvolvimento da agricultura e conseqüente aumento do comércio e do turismo, novos hábitos sociais foram integrados ao dia a dia do caboclo litorâneo, deixando de lado alguns ofícios tradicionais. Um fator determinante que descaracteriza a forma artesanal da confecção da canoa é a utilização da motosserra e de outros instrumentos que não faziam parte do trabalho artesanal e moroso do cotidiano litorâneo. O trabalho que era mais sacrificioso e demorado, pois era utilizado basicamente o machado e enxó, hoje é feito de forma muito mais rápida, no entanto não necessariamente mais eficiente. Outra mudança é o material de produção das embarcações, com o surgimento da fibra de vidro e do motor tornando-as mais ágeis e leves facilitando a atividade pesqueira. Com a legislação ambiental, fica proibido também o corte de árvores como o Guapuruvu e a Figueira, que eram as principais espécies utilizadas na fabricação dessas canoas. Sendo assim os canoeiros somente utilizam as madeiras dessas espécies quando encontradas naturalmente caídas no chão. Esses e outros fatores acabaram descaracterizando a produção artesanal destas embarcações, e desestimulando seus construtores a investirem tempo e esforço na transmissão das técnicas a seus filhos que também não demonstram muito interesse. |
Palavras-chave: Caboclo, Canoas monóxilas, Artesanal. |