64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 1. Antropologia da Religião
AROEIRA COMUM OU AROEIRA VERMELHA: ÁRVORE SAGRADA NO CANDOMBLÉ KETU
Valter dos Santos Vieira 1,3
Eleanor Gomes da Silva Palhano 1,2,3,4,5,6
Jair de Oliveira Silva 2,6
Danielly Coelho Gomes Leite 2,6
1. Universidade Federal do Pará-UFPA
2. Universidade do Estado do Pará-UEPA
3. Faculdade de Ciências Sociais
4. Prof.Dra.Orientadora.Faculdade de Ciências Sociais
5. Departamento de Filosofia e Ciências Sociais
6. Centro de Ciênciais Sociais e Educação
INTRODUÇÃO:
O referido trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada na cidade de Belém, onde se investigou a importância da folha de aroeira dentro das religiões de matriz afro-brasileira mais especificamente no candomblé ketu. Segundo Napoleão e Barros (1999) as folhas usadas pelos religiosos servem, entre outras utilidades, para combater doenças, sendo utilizadas em rituais para promover o bem estar de seus praticantes. Santos, (1986) ao afirmar que cada folha possui virtudes que lhes são próprias e, misturadas a outras, formam preparações medicinais. Na Amazônia, segundo Pereira (2008), há o predomínio da pajelança e o uso das folhas e ervas esteve presente nos rituais xamânicos. Mais tarde, com a chegada do candomblé, advém também o conhecimento de outras folhas, à aroeira está entre elas. Esta folha, segundo Pessoa de Barros, (1993) é conhecida cientificamente como Schinus therebenthifolius Raddi, Anacardiaceae, da família das Àjóbi, àjóbioilé e ájobipupá. Popularmente é conhecida como aroeira-comum, aroeira vermelha ou pimenta do peru, uma árvore, provavelmente oriunda do Peru. A pesquisa enfatiza a importância da folha de aroeira para a realização das práticas das religiões afro brasileiras, principalmente no candomblé, onde as folhas possuem papel fundamental.
METODOLOGIA:
Adotou-se como metodologia a pesquisa etnográfica com uma abordagem qualitativa que segundo Magnani (2009) consiste que do contato direto do pesquisado com o universo pesquisado. O contato e reuniões nos templos com os afrorreligiosos, bem como as sua vivências de selecionar e utilizar as folhas para as suas cerimônias possibilitaram a realização da pesquisa. Os procedimentos de coletas de dado basearam-se em entrevista, levantamento bibliográfico e revisão da literatura, além disso, foi realizado o registro iconográfico digital para a produção de um documentário. Os informantes dessa pesquisa totalizam-se 05 sujeitos sendo eles: 02 babalorixas, 01 yalorixá e 02 ogãs. A escolha desses informantes deve-se aos mesmos serem membros praticantes do candomblé da nação ketu na Cidade de Belém. Identificados como membros praticantes do candomblé nesta cidade, todos da nação Ketu, sendo dos três primeiros dois sacerdotes e uma sacerdotisa que ocupam o cargo Máximo dentro da hierarquia deste grupo religioso, e os dois ogás auxiliares dos sacerdotes são responsáveis pela coleta e manuseio das folhas usadas em tratamentos de saúde e praticas ritualísticas. Documentou-se através de fotografias e filmagens a coleta das folhas feita por um grupo de ogás nas matas e igarapés próximos da cidade.
RESULTADOS:
Na cidade de Belém do Pará o candomblé, particularmente na tradição Ketu, a maioria dos tratamentos espirituais e a busca da boa saúde são feitos à base de ervas e folhas, que acompanham o religioso no decorrer de toda sua vida espiritual, onde o mesmo é submetido a vários processos ritualísticos que vão desde um simples banho feito com o trituramento das folhas sagradas para o preparo do amassi (Prande, 1997.) até processos mais sofisticados como nos casos de iniciação, onde as pessoas para se energizarem, precisam dormir em camas de folhas consideradas sagradas pelos afro-religiosos. Observou-se nos templos visitados a influência da natureza e sua importância para os afros religiosos nos dias de festa. O templo é enfeitado e decorado com folhas e flores. De acordo com a festa, seguido pelo ritual ao orixá Ossain vai-se cantando e jogando folhas dentro do templo, as folhas simbolizam a natureza, a prosperidade, a saúde e o dinheiro. As folhas espalhadas no chão do templo liberam sua essência. A escolha das folhas que são usadas no ritual a Ossain, e feita pelos sarcedotes, sendo a aroeira a mais utilizada. Esta folha não é típica da Amazônia, porém chega à Belém a partir da prática do candomblé, onde passa a ter suas propriedades terapêuticas exploradas em forma de chás.
CONCLUSÃO:
O estudo verificou que as religiões afro-brasileiras mais especificamente o candomblé praticado em Belém, busca uma integração do homem com a natureza, através do uso das folhas em suas práticas ritualísticas como forma de tratamentos de doenças físicas e espirituais em religiosos e pessoas que buscam auxílio em seus templos e sem as quais, tais práticas religiosas seriam inviáveis, porém a aroeira tem um destaque especial, pois está presente em todos os seus rituais desde um simples chá, um banho até os rituais mais complexos como nos processos de iniciação e rituais de sacerdócio, onde o religioso precisa dormir em camas de folhas para se energizar. A aroeira vermelha ou aroeira comum não é nativa da região, chegando a Belém, através de religiosos praticantes do candomblé que a trazem de Salvador-BA com a finalidade de serem usadas em suas práticas religiosas, sendo a mesma de vital importância para a sobrevivência desse seguimento religioso.
Palavras-chave: Candomblé, Religião, Folhas e ervas.