64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 5. Teoria e Análise Linguística
PROLEGÔMENOS AO PROCESSSO DE FORMAÇÃO DE NOMES DEVERBAIS NÃO SUFIXADOS
Iane Siqueira Correia 1
Jailma Gomes dos Santos 2
Adeilson Sedrins 3
1. UFRPE/UAST
2. UFRPE/UAST
3. Prof. Dr./ Orientador - UFRPE/UAST
INTRODUÇÃO:
A gramática tradicional (doravante GT) descreve a produção de substantivos deverbais, como um processo de formação de palavras que acontece através da derivação regressiva. De acordo com essa perspectiva, os deverbais são substantivos derivados a partir de verbos, pela eliminação da desinência verbal e acréscimo das vogais temáticas nominais ao radical verbal, ou seja, a palavra primitiva se reduz ao formar a palavra derivada, como nos exemplos a seguir: (1) criticar = crítica /empatar = empate / chorar = choro / vender = venda. Tendo em vista essas considerações, buscamos observar o processo de formação dos substantivos deverbais não sufixados, a partir da derivação regressiva, apresentando como objetivos: (i) problematizar o conceito de derivação regressiva tanto em abordagens de manuais de gramática normativa, quanto em propostas inseridas sob a perspectiva lexicalista estruturalista; (ii) discutir o modelo teórico não-lexicalista de formação de palavras, denominado Morfologia Distribuída (MD); (iii) apresentar uma análise alternativa para o fenômeno do que tradicionalmente denomina-se derivação regressiva, com base no modelo teórico da MD.
METODOLOGIA:
O principal pressuposto teórico de nossa análise é o de que a formação de palavras é um fenômeno que ocorre na componente sintática da gramática e que o léxico pode ser entendido como uma “enciclopédia”, nos termos de Embick & Noyer (2005), de forma que difere da concepção de léxico como apresentado em Chomsky (1970), por exemplo. Este trabalho foi constituído das seguintes etapas: (i) descrição, análise e problematização do conceito de derivação regressiva exposto em manuais de gramaticas tradicionais (GT); (ii) descrição, análise e problematização do fenômeno da derivação regressiva em teorias lexicalistas (BASÍLIO, 1987; CHOMSKY, 1970); estudo do modelo teórioco da Morfologia Dristribuida (MARANTZ, 1997, 2001); (iii) confronto entre perspectivas lexicalistas e não-lexicalista, com vistas a apresentar uma análise alternativa para algumas problemáticas em relação à noção tradicional de derivação regressiva.
RESULTADOS:
Apesar de a GT enquadrar os deverbais no quadro dos regressivos, isso não quer dizer que eles tenham que ser, necessariamente, derivações regressivistas. A noção de “regressivo” também é explorada em trabalhos lexicalistas (RODRIGUES, 2002; BASÍLIO, 1987), por acreditarem que a forma base dos deverbais é um radical verbal. Essas abordagens se apresentam problemáticas porque (i) ocorre acréscimo de material não apenas perda de material (há uma mudança na vogal temática, por exemplo) e (ii) instaura uma confusão ao propor que deverbais derivam de infinitivo (uma forma que carrega um morfema tradicionalmente considerado flexional). Outra questão diz respeito à direcionalidade do processo de formação Verbo>Substantivo. Nesse sentido, uma análise pós-lexicalista para a formação de palavras (MARANTZ, 2001) permite acomodar os fenômenos de derivação regressiva de forma a não evocar os problemas enumerados acima. Assumindo que o léxico é composto de raízes e morfemas abstratos e que a formação de palavras ocorre na componente sintática, a noção tradicional de derivação regressiva passa a não ter uma validação teórica, já que o léxico não seria constituído de categorias como nome, verbos etc: as categorias são formadas na sintaxe.
CONCLUSÃO:
Esta pesquisa buscou investigar o processo de formação de substantivos deverbais não sufixados, e a partir desse objetivo pudemos observar que o tratamento da gramática tradicional acerca da derivação regressiva deverbal é algo superficial e inconsistente, pois explora o fenômeno da derivação como um produto e não como um processo dinâmico na língua, bem como apresenta problemas ao considerar, por exemplo, que deverbais foram derivados de verbos no infinitivo. Outro ponto explorado foi a questão da direcionalidade do processo de derivação V>S, ou seja, à dificuldade de compreender se é o verbo ou se é o nome que é primitivo ou derivado, com que qualquer teoria de formação de palavras, lexicalista ou não, tem de lidar. Em abordagens tradicionais, o método de identificação dos deverbais seria apenas através da observação da carga semântica apresentada pelas nominalizações (BASÍLIO, 1987). Por isso partimos para uma análise baseada no modelo da MD, que diferentemente de perspectivas lexicalistas, acreditam que categorias como nome, verbo, seriam resultados de operações sobre uma raiz numa relação local com um núcleo funcional definidor de categoria (MARANTZ, 1997).
Palavras-chave: Derivação regressiva, Teorias lexicalistas, Morfologia Distribuída.