64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 5. Semiótica - 1. Semiótica |
ORFEU DESCENDO AOS INFERNOS À PROCURA DE EURÍDICE – SEMIÓTICA DISCURSIVA E PSICANÁLISE |
Sady Carlos de Souza Junior 1 |
1. FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO - FAUUSP |
INTRODUÇÃO: |
Apresentaremos uma análise dos símbolos, signos semióticos e psicanalíticos, como aproveitamento do que se nos apresenta hoje, Orfeu, a figura antiga da mitologia grega, ora conforme a visualização romântica do séc. XVII, em Christoph W. Gluck (1714 - 1787) em sua famosa ópera Orfeu e Eurídice; ora no cinema, por exemplo, como o Orfeu Negro, de 1959, filme de produção ítalo-franco-brasileira de Marcel Camus, entre outros. A história resume-se na ida de Orfeu aos Infernos, para recuperar sua amada Eurídice que havia morrido, mas ainda que consiga consentimento do deus Hades, ele infringe a única condição imposta desfazendo a possibilidade de resgatá-la. Nosso objetivo é confluir ou aproximar certos elementos da literatura antiga grega e expor em uma análise do discurso aproveitando os elementos de conteúdo psicanalítico que se apresentarem nas respectivas estruturas narrativas. |
METODOLOGIA: |
Pudemos atualizar alguns pontos da tensão dialética entre contrários dos metatermos no quadrado semiótico: Ser e Não-Ser, Parecer e Não-Parecer, ressaltando as variáveis dinâmicas entre as formas distintas do fazer construtivo na aplicação do mito nas diversas estruturas de expressão: operística e fílmica. Recolhemos em sua Estrutura Profunda a dualidade entre a Razão e a Emoção (desejo), Vida e Morte, Descer e Subir, etc., além de uma implícita relação de dominação entre os metatermos. Nesta análise narrativa o sujeito retém para si o objeto de seus desejos que, primeiramente, é descer às regiões inferiores dos infernos (circunvoluções da música na partitura e as escadarias espirais do filme), depois, convencer Hades a entregá-la (participação de cerimonial de candomblé) e, por fim, trazê-la de volta. O desejo de encontrar Eurídice é o Programa Narrativo Principal que sustenta estes outros três Programas Narrativos Secundários. |
RESULTADOS: |
Há duas dimensões paralelas no eixo paradigmático da construção narrativa: o da RAZÃO e o do DESEJO. Historicamente, apresentam vetores teóricos contrários, entretanto aqui observamos sua relação freudiana na concepção da personalidade, quando ao primeiro relacionaremos o EGO, e o segundo, ao instintivo ID. No mito de Orfeu, a RAZÃO está para as regras que devem ser cumpridas e o DESEJO está para a vontade que suplantaria as mesmas regras. Então, o amor seria algo que suplanta ou estaria acima do “dominante” racional, na Cultura. Descer aos Infernos (região dos mortos) é enfrentar todo o desconhecido instintivo, é descer ao misterioso inconsciente, como desejo e querer. Aí está a força do Amor/ DESEJO, embora tudo devesse ser freiado pela RAZÃO, pela lei. |
CONCLUSÃO: |
Orfeu seria uma espécie de semideus do prazer sonoro, da arte musical. O encanto que proporciona a influenciação de um Ser sobre o Outro, aqui, está centralizado na sonoridade que é uma forma de percepção dos sentidos e/ou percepção sensual. Há neste mito características fragrante do afeto manipulador como poder de sedução. De modo que, depois de executar seu canto, todos acabam por lhe atender aos seus rogos de piedade, inclusive Hades. Entretanto, o mito parece esclarecer-nos quanta ambigüidade isto produz a ponto de se tocar os extremos. Hades, inteligentemente, torna-se flexível aos seus apelos e concede que Eurípedes possa sair dos Campos Elíseos e voltar à superfície, com a condição de que, ao retornar em seu caminho, Orfeu não olhe para trás. Entretanto, o conhecimento racional de saber da única condição exigida para levar Eurípedes à Vida é suplantado pelo desejo ardente de voltar-se e ver a amada. E Orfeu não resistindo se volta para trás. É o Desejo sobredeterminando a Razão. Concluímos que: Hades pareceu saber que Orfeu por fim cairia, por sua vez, vítima da sua própria sedução inicial. Ainda são sempre os aspectos culturais submergindo à Natureza instintiva. |
Palavras-chave: Orfeu, Semiótica, Psicanálise. |