64ª Reunião Anual da SBPC

G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências

O ACARAJÉ NO RESGATE DA CULTURA ATRAVÉS DO ENSINO DE CIÊNCIAS

Keiliane Almeida de Oliveira 1 Iza Miranda Melo 1 Rosana Sena Gomes Sérgio 2 José Eduardo Ferraz Clemente 3

1. Colegiado de Ciências da Natureza - CCNat, UNIVASF - Senhor do Bonfim/BA 2. Profa. Rede Municipal de Ensino, Senhor do Bonfim/BA 3. Prof. Me. / Orientador – CCNat, UNIVASF, Senhor do Bonfim/BA

INTRODUÇÃO:

A comunidade negra rural de Tijuaçu, reconhecida em 2000 como território remanescente de quilombo, teve o início da sua história marcada pela presença de Mariinha Rodrigues, escrava fugida provavelmente da região de Salvador ou do Recôncavo Baiano, que fundou a comunidade. Seus moradores mantêm atualmente traços culturais históricos fortes, como o casamento entre famílias, o Samba de Lata e a venda de acarajé. Nos espaços escolares é fácil perceber que muitos alunos se esquecem ou não dão importância a toda essa riqueza histórica cultural da comunidade. Práticas pedagógicas dentro do contexto escolar facilitam o resgate de valores culturais esquecidos quando relacionados com os conteúdos a serem trabalhados. A presente pesquisa, proporcionada por um projeto do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID), partiu da necessidade de se conhecer e se apropriar da cultura local para contextualizar o ensino do conteúdo “Alimentos”, buscando as raízes culturais formadoras da comunidade, focando no conhecimento da influência culinária, trazendo esses elementos como meio facilitadores do ensino de Ciências, no caso, o acarajé, comida típica baiana feita de feijão fradinho, frito no azeite de dendê, que recebe recheios como: vatapá, quiabo, camarão e salada de tomates.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada no distrito de Tijuaçu, comunidade quilombola localizada a 18 quilômetros do município de Senhor do Bonfim, BA, na Escola Municipal de 1º Grau de Tijuaçu, com as turmas A e B do 6º ano do turno matutino, na disciplina de Ciências, durante o período de maio a novembro de 2011, fazendo parte de uma atividade programada do PIBID. Realizada em etapas distintas, teve início com pesquisa bibliográfica em artigos da internet e entrevistas com os moradores da comunidade sobre a história da localidade e sobre elementos da cultura que estão preservados até o momento. Com os dados obtidos procurou-se relacionar com o conteúdo de Ciências “Alimentos”, que estava sendo aplicado em sala, através de aulas explicativas sobre o acarajé, incluindo-o na tabela nutricional e na pirâmide alimentar. Foi realizada ainda uma visita a uma das moradoras do local que faz e vende o alimento na comunidade. Em outro momento os alunos levaram para a escola uma receita de comidas feitas por seus pais e familiares. Todo o material foi reunido em um livro de receitas, exposto para a comunidade no TijuAção, evento realizado pela escola no dia 25/11/2011 em comemoração ao dia da consciência negra, 20 de novembro.

RESULTADOS:

Durante a pesquisa sobre a história da comunidade, artigos de Carmélia Miranda, Elias Guimarães, entre outros autores, e o livro “Tijuaçu: Uma Resistência Negra no Semi-árido” do Prof. Dr. Paulo Machado, foram resumidos em uma única história. Através das entrevistas informais com os moradores da comunidade foi possível agregar mais informações sobre a cultura que prevalece ainda forte entre eles. O elemento escolhido para as intervenções em sala foi o acarajé pela importância cultural e pela possibilidade de relacioná-lo ao conteúdo “Alimentos”, contemplando as propriedades nutricionais, e classificando-o na pirâmide alimentar. Com a saída de campo os alunos puderam observar como o acarajé é consumido cotidianamente pela população, como ele chegou à comunidade, e como ele é feito, através do relato da baiana de acarajé residente na localidade. Depois da visita os alunos elaboraram um relatório sobre tudo que foi visto, podendo-se notar que a atividade proposta resgatou esse conhecimento da influencia da cultura africana que havia se perdido no âmbito escolar. Durante a exposição dos livros de receitas, produzidos a partir da pesquisa realizada pelos alunos, notou-se que a comunidade aprovou a atividade realizada e também pode se informar mais através dos dados apresentados.

CONCLUSÃO:

Trabalhar os conteúdos de Ciências na escola relacionando-os à cultura local, ao mesmo tempo em que é um desafio, é significante, pois no ambiente escolar consegue-se o objetivo de construção do conhecimento quando se dá espaço para a integração entre as diferenças e possibilidades de expressão, reconhecendo efetivamente o aluno como sujeito dessa construção, atrelado com a cultura que até então era desconhecida ou esquecida por alguns. Trabalhar com a realidade local torna a aula mais produtiva e interessante, tanto para os alunos que participam efetivamente das atividades, quanto para os educadores envolvidos, agregando experiências.

Palavras-chave: Acarajé, Tijuaçu, Cultura.