64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 2. Biologia Geral - 1. Biologia da Conservação
VALOR E CATEGORIAS DE USO DE ETNOESPÉCIES DE PEIXES DA COMUNIDADE DE PESCADORES ARTESANAIS DE SACAÍ, NO BAIXO RIO BRANCO, RORAIMA, BRASIL
Paula Lorrane de Jesus Lopes 1
Juliane Marques de Souza 2
1. Graduanda do curso de Ciências Biológicas na Universidade Estadual de Roraima
2. Profa.MSc/ Orientadora-Universidade Estadual de Roraima- LabTEMA
INTRODUÇÃO:
A etnobiologia busca entender as relações das comunidades com os recursos naturais que usam. Desta área do conhecimento ramifica-se a etnoictiologia que estuda o conhecimento que o pescador adquire, devido suas práticas profissionais a respeito do pescado utilizado. Nesse raciocínio o estudo ictiológico desenvolvido sob uma perspectiva de diálogo com o saber popular dos ribeirinhos pode ser muito proveitoso considerando-se a percepção conservacionista vinculada à sustentabilidade de seu modo de vida. Esta pesquisa trabalha com o nome popular das espécies de peixes, consideradas etnoespécies. As etnoespécies são identificadas pelos pescadores com base em observações da biologia e da ecologia dos peixes. Com isso o presente estudo busca identificar o valor de uso das principais etnoespécies de peixes nas diferentes categorias de uso reconhecidas (i.é. alimentação, comércio, isca; medicinal), para a compreensão de quão relevantes são para a sobrevivência da comunidade ribeirinha de pescadores artesanais de Sacaí. Este trabalho fez parte de um projeto de pesquisa maior intitulado “O etnoconhecimento no manejo ictiológico em comunidades de pescadores artesanais no Baixo Rio Branco, Roraima, Brasil”.
METODOLOGIA:
A área de estudo situa-se na comunidade de Sacaí, município de Carararaí-RR, na região conhecida como Baixo rio Branco (S 00° 44.758’; W 061° 51.855’). A pesquisa de campo ocorreu em dezembro de 2011. Foram utilizadas duas técnicas de coleta de dados, sendo elas: entrevistas semiestruturadas e observação participante. Foram entrevistados 11 pescadores, que após a leitura da carta explicativa aceitaram conceder a entrevista e ter a conversa gravada em áudio. Este número equivale, aproximadamente, a 20% dos profissionais daquela comunidade. Para a análise das entrevistas fez-se uso do software QSR-NVivo® que ajuda na seleção das informações por assunto em “nós” gerando um único documento com trechos que respondem aos objetivos. Para o cálculo de categorias de uso adotou-se a fórmula onde o valor de uso é igual à soma de usos citados por informante dividido pelo número de entrevistas e é aqui expresso em VU.
RESULTADOS:
Das 38 etnoespécies citadas pelos pescadores, 33 foram mencionadas com algum tipo de uso. Com maior valor de uso comercial (VUc) estão Tucunaré (0,91), Cara-açú (0,91), Capararí (0,82), Aruanã (0,64), Piraíba (0,55), Surubim (0,55) e Filhote (0,55). Para alimento (VUa) destacam-se: Tucunaré (0,91), Cara-açú (0,73), Capararí (0,55), Aruanã (0,55), Mamurí (0,55) e Pacú (0,55). Para isca estão Tucunaré (0,36), Mamurí (0,27), Aracú (0,27), Traíra (0,27). Para medicinal foi citada apenas a banha da Pirarára (0,18). Nota-se que o Tucunaré apresenta o maior VU em todas as categorias (exceção medicinal), sendo seguido de Cara-açu e Aruanã. Na percepção de alguns pescadores a pesca dessas etnoespecies está ficando difícil “às vezes tucunaré tá meio difícil, mas por que a gente pesca muito pra vender. Cara-açu. São os que saem mais, aí fica mais difícil” (Ent. n.05). Já a Piraíba, segundo os pescadores, é utilizada apenas para o comércio, pois trata-se de um peixe grande e “liso” (i. é. sem escamas) muito procurado pelo mercado, já o pacú é um peixe pequeno, com escamas, não muito vendável e é sempre citado para uso alimentar por religiosos que não comem peixes “lisos”. Poucas são as espécies citadas para iscas e para medicinal, indicando menor valor de uso para essas categorias.
CONCLUSÃO:
A comunidade de pescadores artesanais de Sacaí demonstra uma estreita relação com o pescado, caracterizando o uso das etnoespécies principalmente para comércio, seguido de alimentação. Poucos utilizam para isca ou medicinal. A atividade pesqueira é a principal função profissional desses amazônicos, é através da pesca que se tornam produtivos economicamente, podendo adquirir bens de consumo. Depois do comércio, como mencionado, o peixe é muito importante para fins alimentícios caracterizando-se como fonte primária de alimento do pescador. É Importante destacar que a maioria das etnoespécies com alto VUc repetem-se com alto VUa, o que pode influenciar na pressão em busca dessas espécies e consequente escassez desses peixes. Observa-se também que com exceção do Tucunaré, as espécies utilizadas para isca não são as mesmas usadas para comércio e alimentação estabelecendo, dessa forma, uma separação da importância do uso das estnoespécies, uma vez que o pescador não irá desperdiçar um peixe lucrativo no mercado, fazendo isca desse peixe. Por fim, com relação ao uso medicinal, percebe-se que essa comunidade não tem tradição para o uso dos peixes nessa categoria, sendo que apenas dois entrevistados da mesma família apontaram esse tipo de uso.
Palavras-chave: Valor de Uso de Etnoespécies de peixes, Baixo Rio Branco, Comunidades de Pescadores Artesanais.