64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança
PROCEDIMENTOS E ADAPTAÇÕES NA FABRICAÇÃO DO SHAKUHACHI DESENVOLVIDA POR HENRIQUE ELIAS SULZBACHER
Rafael Hirochi Fuchigami 1
Eduardo Augusto Ostergren 2
1. Dpto de Música - Instituto de Artes - UNICAMP
2. Prof. Dr./Orientador - Dpto de Música - Instituto de Artes - UNICAMP
INTRODUÇÃO:
O músico gaúcho Henrique Elias Sulzbacher dedica-se à fabricação e performance da flauta shakuhachi há mais de dez anos na cidade de Santa Cruz do Sul, empregando-as em suas práticas meditativas, realizando apresentações e lecionando para iniciantes. Como tocador, pratica o estilo Dokyoku, e reproduz os repertórios honkyoku, minyo, sankyoku e peças modernas. Elias valoriza os encontros entre tocadores brasileiros, que tem ocorrido com freqüência, pois essas atividades em torno do shakuhachi têm contribuído para aprimorar sua fabricação. A existência de músicos tocando o repertório tradicional, que explora diversos recursos sonoros e técnicos específicos do shakuhachi é importante para testar a tocabilidade dos instrumentos feitos no Brasil, evitando assim a disseminação de flautas de má qualidade. No ano de 2010 acompanhamos os procedimentos desenvolvidos por Elias em trabalho de campo, durante o desenvolvimento da pesquisa de Iniciação Científica “Descrição do processo de fabricação do shakuhachi e levantamento de informações sobre sua ocorrência no Brasil”.
METODOLOGIA:
Entrevistamos o artesão e fotografamos cada etapa do processo de fabricação por ele desenvolvida, desde a colheita da planta no bambuzal até o momento em que o bambu tornou-se uma flauta. A partir das informações recolhidas, pudemos conhecer de perto os procedimentos, materiais, ferramentas, bem como as dificuldades de se construir um shakuhachi no Brasil. Não apenas acompanhamos o trabalho do fabricante gaúcho, bem como entrevistamos 3 tocadores (um iniciante, um estudante avançado e um mestre) que testaram as flautas fabricadas por Elias. Confrontamos as informações recolhidas no trabalho de campo com aquelas que constam no material bibliográfico de autores como Carl Abbott, Donald Paul Berger, Christopher Blasdel, Ikuya Kitahara, Misao Matsumoto, Akira Matsuda e John Neptune.
RESULTADOS:
Buscamos entender os procedimentos de Elias com base nas informações do material bibliográfico que encontramos, e notamos diversas variações, características de um trabalho artesanal. Essas variações ocorrem principalmente na ordem e no tempo de cada etapa da fabricação. O artesão brasileiro depara-se com dificuldades para encontrar ferramentas e materiais adequados e precisa importá-los, como é o caso de algumas serras e formões japoneses, a laca urushi e chifre de búfalo d’água. O bambu empregado, conhecido como madake, é encontrado no Brasil. Elias procura fazer a substituição de alguns materiais quando é possível, mas enfrenta o desafio de construir o instrumento obedecendo ao alto padrão de qualidade, mais fácil de se obter com os materiais tradicionais. Outra adversidade é a falta de informações sobre a fabricação ou a falta de um mestre artesão presente no país. Assim, aqueles que se enveredam nesse caminho, o fazem de maneira autodidata. Criamos uma fonte de informações textuais, fotográficas e audiovisuais, como um registro das atividades de Elias, muito relevantes para o panorama do shakuhachi no Brasil.
CONCLUSÃO:
O shakuhachi tem apenas cinco orifícios para os dedos, mas reproduz uma série de notas e efeitos sonoros exigidos pelo repertório tradicional. Portanto, não se trata apenas de uma flauta pentatônica, pois possui alto grau de complexidade no tratamento do timbre e da interpretação de suas obras. Além de atender à sonoridade ideal, o artesão também deve se preocupar com os resultados visuais do shakuhachi. Uma facilidade que Elias possui é morar próximo a uma floresta de madake, embora prefira importar bambu da China para fabricar modelos profissionais. Com relação aos conhecimentos necessários para a fabricação, em primeiro lugar é indispensável saber tocar o repertório tradicional, pois assim é possível testar as notas e cada efeito sonoro, caso contrário, o resultado do trabalho poderia ser uma flauta qualquer que não seja distinguida como shakuhachi. É importante dispor de conhecimentos de acústica, ter destreza no manuseio das ferramentas e contar com a intuição e experiência. O shakuhachi ganhou apreciação entre brasileiros não-descendentes de japoneses e vem se solidificando em atividades de performance e fabricação, como a de Elias, relevantes para sua difusão no Brasil.
Palavras-chave: Fabricação de Shakuhachi, Flauta de Bambu, Henrique Elias Sulzbacher.