64ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
A CONCEPÇÃO DE POESIA POR DRUMMOND- ESTILO DE ÉPOCA OU ESTILO INDIVIDUAL?
Gésica de Oliveira Sousa 1
Valquíria Maria Cavalcante de Moura 2
1. Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE
2. Profa. Dra./ Orientadora - Depto de Licenciatura Plena em Letras - UFRPE
INTRODUÇÃO:
Frente às discussões desenvolvidas ao longo do tempo sobre o fazer poético do escritor modernista Carlos Drummond, torna- se pertinente um estudo de aspectos estilísticos que sejam capazes de traçar um perfil individual relacionando-o ao estilo de época a fim de mostrar que as escolhas lexicais, são possíveis norteadoras do estilo individual do poeta, uma vez que a concepção de poema por Drummond é dada conforme o desenvolvimento do poema, considerando ainda sob o mesmo olhar estilístico, o caráter semântico conseqüente da escolha lexical. Para embasar este trabalho, cujo corpus é a poesia “O Elefante” (ANDRADE, 2008) adotamos a Estilística da Expressão que dá conta da associação entre elementos emotivos e fim estético. Desde Aristóteles a noção de estilo é abrangente, no entanto, elegemos estilo como um fator individualizante que caracteriza uma pessoa, uma época, um período tornando-o peculiar em relação a outros de mesma natureza. O dicionário Houais (2007) refere-se à estilística como um ramo da linguística que estuda a língua na sua função expressiva. Muitos são os trabalhos que tomam por objeto de estudo poemas de Drummond, todavia, o que está sendo colocado em questão é a própria revelação de conceito de poema através da relação de estilos presente numa mesma obra.
METODOLOGIA:
Segundo a Estilística da Expressão, toda e qualquer palavra, assim como o modo conforme elas estão dispostas, tem sempre um propósito que cabe ao pesquisador explorar, sendo assim, diante do já exposto e após leituras e releituras do poema “O Elefante”, separamos as palavras de acordo com os campos lexicais e semânticos classificando-as como variantes que remetem à emotividade, ao processo de construção/desconstrução; palavras a partir das quais podemos inferir a metáfora usada como um determinante do caráter expressivo, fazendo então um levantamento de itens lexicais que acarretam no leitor uma sensibilidade levando-os à compreensão do poema através de uma leitura não literal pretendida pelo autor. O artigo referente ao elefante, por ser ora definido e ora indefinido, presente e/ou ausente em alguns versos com pronome possessivo é considerado aqui como fator influenciante na concepção do poema bem como os tempos verbais (presente do indicativo e pretérito perfeito) uma vez que interferem na compreensão do fazer poético segundo o autor. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica onde questionamos por que a palavra “mito” foi usada por Drummond, desta forma pretende-se chegar a um todo onde será possível obter as respostas para os questionamentos aqui presentes quanto aos estilos
RESULTADOS:
Através deste estudo, pode-se dizer que algumas palavras apresentam um caráter expressivo capaz de instigar o leitor a perceber a construção do elefante como construção/fabricação do poema, colocando assim o elefante no campo dos artefatos uma vez que é instaurada uma linguagem metafórica com o jogo entre sentido figurado e literal (“E o encho de algodão/de paina, de doçura”). Quanto ao artigo definido, nota-se que ele confere maior familiaridade e visualização ao elefante, a exemplo “Vai o meu elefante”, já o artigo indefinido confere um mistério e indeterminação (“Fabrico um elefante”). A ausência do artigo pode ainda enfatizar uma posse, como em “meu pobre elefante”. Referente aos tempos verbais, presente (“Fabrico”) e pretérito perfeito (encontrou), percebemos a construção do elefante como uma ação habitual e cotidiana, sendo esta uma característica da concepção do poema. Concernente à escolha da palavra “mito” percebe-se um fim estético se considerarmos este como fabulação e/ou construção do imaginário. Segundo o Dicionário de Símbolos (OLYMPIO, 2006), o elefante é visto pelos ocidentais como a imagem viva do peso, da lentidão e da falta de jeito, levando-nos a confirmar a idéia de que o autor escolhe este animal devido sua representação simbólica e mítica.
CONCLUSÃO:
A partir da consideração dos resultados apresentados, pudemos notar que, ao passo que o poeta modernista escreve o poema e o compara à construção de um elefante de modo artesanal, está caracterizando poema ou mais precisamente, o fazer poético como um trabalho árduo que exige esforço e dedicação sendo, pois esta, uma colocação que revela um olhar singular no sentido de que em “O Elefante”, o perfil do autor pode ser representado pelas escolhas lexicais. Como elementos característicos do Modernismo, podemos citar a ausência de rimas, métricas, inversões sintáticas e rebuscamentos como haveria em outras estéticas a exemplo, o Barroco. O Modernismo caracteriza-se justamente, entre outras questões, pela liberdade na forma do poema e pela abordagem do cotidiano. No entanto, se faz necessário dizer que este estilo drummondiano só foi possível através de uma estética já existente composta por obras de caráter semelhante, mas colocadas logicamente de modo distinto e peculiar configurando assim um perfil estilístico, através da concepção de poema apresentada. Em um segundo momento, pretende-se contribuir para a caracterização deste estilo do autor através de leituras de outros poemas seus que busquem conceituar poema e mostrar a relação do poeta com o poema e com as palavras usadas.
Palavras-chave: Estilo Individual, Fazer poético, Estética Modernista.