64ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 7. Serviço Social
Mídia e Violência: A periferia como "campo de concentração” aportes para o debate.
Simone Ramos de Queiroz Silva 1
Silene de Moraes Freire 2
1. Graduanda em Serviço Social- Bolsista de Iniciação Cientifica- UERJ
2. Professora. Dra. Silene de Moraes Freire - Centro de Ciencias Sociais- UERJ
INTRODUÇÃO:
Este trabalho é parte do projeto ―As “Novas‘ Expressões da Questão Social no Brasil Contemporâneo cujo objetivo é analisar a presença do Estado no enfrentamento das múltiplas expressões da questão social na atualidade, principalmente no que tange as formas de controle social implementadas, relacionando-as com os processos históricos que dão origem a relação violência-Estado-classes sociais. Visamos assim, (re)conhecer as particularidades das múltiplas expressões da questão social na história recente da sociedade brasileira através da explicação dos processos sociais que as produzem e reproduzem e da forma como são experimentadas pelos sujeitos que as vivenciam em suas realidades. Deste modo destacamos com a primeira década do século XXI e recrudescimento do aparato coercitivo do Estado brasileiro. Neste trabalho as múltiplas formas de violência são compreendidas como resultado do processo de acumulação capitalista e dos seus efeitos sobre as classes subalternas. Neste sentido, os estudos desenvolvidos no Projeto de Pesquisa em tela, apresentam-se como um aprofundamento das análises preliminares realizadas, fazendo parte de um esforço de apreensão do contexto no qual o Serviço Social vem se configurando, mais especificamente no cenário brasileiro, onde embora convivamos numa aparente democracia, permanecemos reféns dos limites de um neoliberalismo profundamente conservador.
METODOLOGIA:
Buscamos construir nossas hipóteses para reflexão ancoradas numa perspectiva teórico-metodológica que permita reconhecer os nexos, os eixos que permitiram a guinada para a "mentalidade privatizante" que as reformas estruturais de cunho neoliberal - centradas na desregulamentação dos mercados, na abertura comercial e financeira, na privatização do setor público e na redução do Estado - promoveram. É importante mencionar que a principal fonte consultada na pesquisa foi a imprensa escrita (sobretudo dos jornais de grande circulação nacional). A mídia é um arquivo por excelência para nós pesquisadores. É o registro diário dos fatos, cada vez mais ricos e abundantes, que fornece as informações mais preciosas sobre os valores, as ideologias, a percepção dos temas e problemas sociais, o funcionamento das instituições e as práticas sociais. A escolha deste tipo de fonte está, sobretudo, ligada ao papel que a mídia vem desempenhando ao longo dos tempos no uso de sua aparente credibilidade. A partir da coleta de dados das manchetes dos jornais, foi realizada a contabilização das notícias separando-as por ordem de acontecimento. Após, realizamos conjuntamente, uma interlocução entre os dados e os textos acadêmicos apresentados, foi desenvolvida uma etapa de trabalho que chamamos de análise da cronologia.
RESULTADOS:
Foi feita uma sistematização,onde foram levantadas as principais problemáticas ligadas à Questão Social e os Direitos Humanos.Observou-se que nos jornais de grande circulação, as notícias que fazem referência aos direitos humanos,têm um enfoque, sobretudo na prática coercitiva do Estado, representada duramente pela polícia, em especial pela prática corrente dos “autos de resistência”, que se configuram na execução sumária de civis pela polícia militar.Desta forma,tem-se com maior frequência denúncias a respeito de tais excessos pela corporação policial. É importante ressaltar que no decorrer da pesquisa podemos identificar que para além do reforço de penas que configurariam a construção do Estado Penal no Brasil,legitima-se a Pena de Morte Social, ou seja, tem se tornado cotidiano o assassinato e/ou desaparecimento, principalmente de jovens moradores de favelas,efetuado por agentes da segurança pública.Tal questão ganhou notoriedade recente com o desaparecimento do menino Juan em junho 2011, visto que os métodos truculentos dos policiais militares ficaram expostos, e não puderam ser apresentados como resultado de uma operação de sucesso que trata todas as vítimas anônimas como associadas ao crime.Entendemos que a estratégia atual da chamada segurança pública possui uma correlação com as formas violentas de violação dos direitos humanos impetradas na ditadura militar no Brasil, onde o extermínio foi utilizado como método de controle social.
CONCLUSÃO:
O levantamento de dados realizado sobre o Conflito Social moderno, relacionado à questão dos Direitos Humanos em articulação com os textos acadêmicos estudados em nosso grupo de estudos, evidencia a maneira como a violência está veiculada pela mídia, transformando-a na cultura do medo. Não raro essa violência ser associada às camadas mais pauperizadas da sociedade, como no mito das classes perigosas, camada essa que se encontra fragilizada por conta de toda a precariedade a que estão submetidos, sobretudo por conta do contingente de desempregados. Por conta de toda essa cultura do medo e da violência, hoje é lugar comum dizer que na cidade do Rio de Janeiro foi instaurada então uma “guerra civil”.O período estudado apresenta um crescimento vertiginoso da violência, criminalidade e da expansão da pobreza. Torna-se cada vez mais nítida a associação existente entre o crime e as classes pauperizadas, que é corroborada por toda a subjetividade construída pela mídia em torno do mito das classes perigosas.Tal quadro contribuiu para a consolidação de um contexto onde a preocupação com a segurança pública atinge seu auge, servindo como justificativa para o investimento massivo numa política cada vez mais coercitiva, que transforma a cidade em um campo de concentração para as classes subalternas.
Palavras-chave: Midia, Violência, Estado.