64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 10. Microbiologia - 2. Microbiologia Aplicada
QUALIDADE SANITÁRIA DE PLANTAS MEDICINAIS UTILIZADAS NO PREPARO DE CHÁS NO MUNICÍPIO DE CURRAIS NOVOS, RN.
Francisco Angelo Gurgel da Rocha 1
Simão Pedro Araújo de Medeiros 1
Wanessa Karen Dantas Nóbrega 1
Amanda Cristina Dias de Oliveira 1
Roberto Pereira da Silva 2
Magnólia Fernandes Florêncio de Araújo 3
1. IFRN, Campus Currais Novos/RN.
2. Escola Técnica de Enfermagem Florence, Currais Novos/RN.
3. Centro de Biociências/UFRN.
INTRODUÇÃO:
Reconhecendo a importância das plantas medicinais como recursos terapêuticos válidos, a Organização Mundial da Saúde (OMS), recomendou sua incorporação nos Sistemas Nacionais de Saúde. Contudo, o acesso da população a tais recursos ainda é predominantemente realizado em feiras livres, onde o material é armazenado, exposto e comercializado sob condições higiênico-sanitárias inadequadas. Desse modo, a qualidade microbiológica dos produtos é prejudicada dadas as condições favoráveis à introdução e proliferação de microrganismos patogênicos e/ou deteriorantes. O consumo de plantas medicinais de baixa qualidade sanitária pode resultar em infecções, intoxicações ou toxinfecções de gravidade variável, que em casos extremos pode resultar em óbito. O presente trabalho objetivou quantificar as populações de bactérias aeróbias mesófilas, coliformes totais, coliformes termotolerantes, bolores e leveduras em amostras de barbatimão, cajueiro, catuaba, pepaconha e pratudo, plantas medicinais de grande aceitação utilizadas no preparo de chás, comercializadas na feira-livre de Currais Novos/RN. Os resultados foram comparados aos parâmetros microbiológicos recomendados pela OMS para fitoterápicos, classificando as amostras como adequadas ou não para o consumo humano.
METODOLOGIA:
Foram analisadas 15 amostras de plantas medicinais (barbatimão, cajueiro, catuaba, pepaconha e pratudo, 3 amostras de cada). As plantas estudadas e seu fornecedor foram escolhidos com base na frequência de indicações por populares, na feira livre de Currais Novos/RN. As amostras consistiam em maços de fragmentos de órgãos (caules e raízes), com peso e graus de dessecação variáveis. O material foi acondicionado em recipientes estéreis e mantido caixa isotérmica até o início das análises, em um prazo máximo de 4 horas. Foram quantificadas as populações de bactérias aeróbias mesófilas (semeadura em superfície, ágar padrão de contagem, 35°C/48h), coliformes totais e termotolerantes (teste presuntivo: semeadura em profundidade, ágar bile vermelho violeta com lactose, 36°C/18-24h; Teste confirmativo, coliformes totais: caldo bile verde brilhante 2%, 36°C/24-48h; Teste confirmativo, coliformes termotolerantes: caldo EC, 45°C/24-48h), bolores e leveduras (semeadura em superfície, ágar batata dextrosado acidificado, 25°C/5 dias). Os resultados foram expressos em UFC/g e comparados aos padrões microbiológicos recomendados pela OMS para fitoterápicos a serem utilizadas no preparo de chás, classificando as amostras como adequadas ou não ao consumo humano.
RESULTADOS:
Todas as amostras de catuaba foram aprovadas para o consumo na forma de chás. Os percentuais de reprovação foram: barbatimão, 23% (coliformes totais:1,9x10 3 UFC/g e coliformes termotolerantes: 8,6x10 2 UFC/g); Cajueiro, 67% (coliformes totais: 1,3x10 4 UFC/g e bolores e leveduras até 2,1x10 6 UFC/g); Pepaconha, 100% (coliformes totais: até 5x10 5 UFC/g, coliformes termotolerantes até 3,7x10 5 UFC/g, bolores e leveduras até 2,2x10 5 UFC/g); Pratudo, 100% (coliformes totais: até 7,4x10 4 UFC/g, coliformes termotolerantes até 2,1x10 3 UFC/g, bolores e leveduras até 9,2x10 4 UFC/g). Observaram-se contagens de até 2,2x10 6 UFC/g de bactérias aeróbias mesófilas. Os resultados refletem inadequações higiênico-sanitárias na cadeia produtiva do material analisado. A detecção de bioindicadores de contaminação fecal denuncia a presença potencial de patógenos e parasitas tais como vírus, bactérias, protozoários e helmintos que possam ser disseminados pela via fecal-oral. As altas contagens de bolores representam risco tanto pela possível degradação dos princípios ativos do vegetal pela micobiota, quanto pela presença potencial de espécies produtoras de micotoxinas termoestáveis, incluindo-se nestas as aflatoxinas carcinogênicas, que permanecem ativas no produto final a ser consumido, o chá.
CONCLUSÃO:
Todas as amostras de catuaba foram consideradas adequadas ao preparo de chás. Foram classificadas como inadequadas para a mesma finalidade 23% das amostras de barbatimão, 67% das amostras de cajueiro, 100% das amostras de pepaconha e 100% das amostras de pratudo. Considerando-se a facilidade de acesso e a ampla aceitação das plantas medicinais testadas junto à população local, recomendamos que sejam desenvolvidas oficinas de Boas Práticas para os elementos envolvidos em sua cadeia produtiva, objetivando alcançar a qualidade sanitária adequada e a redução dos risco à saúde dos usuários.
Palavras-chave: Coliformes, Fitoterapia, Bolores.