64ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
O PLURALISMO EPISTEMOLÓGICO E O ENSINO DE CIÊNCIAS NA EDUCAÇÃO DO CAMPO
Elaine Cristine do Amarante Matos 1
Luzia Cristina de Melo Santos 1
Acácio Alexandre Pagan 2
Myrna Friederichs Landim 3
1. Núcleo de Pós Grad. em Ensino de Ciências e Matemática – NPGECIMA – UFS
2. Departamento de Biociências, Universidade Federal de Sergipe – UFS
3. Profa. Dra./Orientadora - Depto.de Biologia, Univ. Federal de Sergipe – UFS
INTRODUÇÃO:
O pluralismo epistemológico é uma corrente de pensamento que contempla princípios universalistas e multiculturalistas. Seus teóricos defendem que os diferentes saberes produzidos nas diversas culturas são importantes e devem ser valorizados. No entanto, estes conhecimentos e diferenças devem ser devidamente demarcados durante o processo de ensino-aprendizagem, evitando hierarquizações entre estes saberes.
Esta corrente é importante no contexto da educação do campo, perspectiva adequada às comunidades não urbanizadas. Por atender populações que possuem temporalidade, práticas laborais e cultura diferentes do contexto científico ocidental, os conteúdos curriculares voltados para o campo necessitam de contextualização, permitindo relacionar os conteúdos do currículo formal com a realidade particular dos ambientes em que estão sendo lecionados e com os saberes da comunidade. Há diferentes visões sobre os possíveis caminhos para se buscar essa relação. Neste trabalho buscamos apontar algumas possibilidades a partir do pluralismo epistemológico. Este tipo de estudo é necessário, pois a educação do campo ainda é baseada em currículos elaborados a partir de parâmetros urbanos, com uma visão de vida e desenvolvimento destoando da realidade dos alunos do campo.
METODOLOGIA:
Para a construção do argumento buscou-se primeiramente definir o entendimento que se tem acerca de educação do campo e pluralismo epistemológico. Em seguida buscamos construir um conceito com base nesse diálogo, situando suas características no conjunto de debates sobre contextualização.
Para a construção do conceito de educação do campo e sua necessidade de contextualização empregaram-se as idéias de Brandão (2006), Caldart (2004), e Silva, Morais e Bof (2006), como também a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (Lei 9394/96). Para a construção do entendimento acerca do pluralismo epistemológico, utilizaram-se os conceitos de Cobern e Loving (2001), El Hani e Sepulveda (2007), Baptista (2010) e Tréz (2011).
RESULTADOS:
O ensino de ciências na educação do campo deve contribuir para a construção de cidadãos atuantes nas problemáticas de sua comunidade, principalmente as ambientais. No entanto, os livros didáticos abordam temáticas distantes da realidade dos alunos, como também possuem uma linguagem pouco compreendida por estes. Eles afirmam que o conhecimento válido é aquele matematizado, baseado em teorias testáveis e metodologia clara e possível de ser replicada. Em nosso entendimento, uma alternativa para a contextualização da ciência para a educação do campo é a aplicação de ideias defendidas pelo pluralismo epistemológico.
O pluralismo epistemológico defende que o ensino de ciências deve contemplar os diferentes saberes produzidos nas mais diversas culturas sendo ensinados conjuntamente na escola, explicitando que os saberes populares e os científicos tem a mesma importância e que um não exclui o outro. Contudo, é importante explicitar que eles são diferentes, deixando claro o domínio epistemológico de cada conhecimento através do diálogo em sala de aula. O desafio para os professores seria desenvolver nas crianças o discernimento de escolher qual saber melhor se aplica àquela determinada situação, pois as pessoas utilizam diversos modos de pensar a depender do domínio em que se encontram.
CONCLUSÃO:
A contextualização dos conteúdos ministrados na escola do campo é essencial no processo de aprendizagem dos alunos, pois assim eles têm uma melhor compreensão dos temas abordados, como também percebem a aplicação dos conteúdos escolares na resolução de problemas enfrentados cotidianamente na comunidade na qual ele está inserido, especialmente os de ordem ambiental.
Dentre outras diversas possibilidades argumentadas para a melhoria do ensino no campo, o pluralismo epistemológico torna-se uma alternativa eficaz na realização de práticas pedagógicas no ensino das ciências destas áreas, visto que esta corrente de pensamento defende que os conhecimentos populares e científicos devem ser trabalhados conjuntamente em sala de aula, contribuindo para a contextualização dos conteúdos curriculares, como também para valorizar a identidade cultural dos povos do campo.
No entanto, é importante que seja explicitado aos alunos que existem diferenças entre os conhecimentos da comunidade e os conhecimentos produzidos utilizando a metodologia científica. Cada tipo de saber é importante e deve ser valorizado, cabendo aos alunos identificarem qual tipo de conhecimento deve ser aplicado àquela situação na qual ele enfrentará.
Palavras-chave: Pluralismo epistemológico, Contextualização, Educação do campo.