64ª Reunião Anual da SBPC |
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Linguística - 4. Sociolinguística |
MONOTONGAÇÃO E ROTACISMO: PROCESSOS FONOLÓGICOS NA FALA DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE CIPOAL DOS PRETOS |
Monique Souza Silva 1 José Haroldo Bandeira Sousa 2 |
1. Depto. de Letras – UEMA 2. Prof. Msc./Orientador – Depto. de Letras – UEMA |
INTRODUÇÃO: |
Compreendendo que a Sociolinguística estuda a língua em meio social, assim voltada para os aspectos linguísticos e sociais de determinada comunidade de fala, e a mesma é caracterizada pelo reconhecimento da variação linguística como indispensável para evolução das línguas humanas Esta pesquisa objetivou-se entender a diversidade linguística do português brasileiro através do estudo desses dois processos fonológicos, investigando-se e analisando-se a influência dos aspectos externos, alheios às variáveis ali preservadas, marcando as propriedades da fala das setenta famílias dessa comunidade quilombola, essencialmente agrícola e desprovida de trocas linguísticas regulares, exceto, quando, ocasionalmente, algum de seus moradores se aventura por uma infinita jornada de mais de sessenta minutos por estradas vicinais (intrafegáveis entre os meses de dezembro a junho) em direção a Codó (cidade sede do município e que fica a 350 km da capital maranhense). |
METODOLOGIA: |
Na efetivação deste estudo, utilizou-se como aporte teórico e metodológico uma abordagem qualitativa, dos dados linguísticos analisados, embora não se afaste das ideias pioneiras labovianas, cujo objeto de estudo está pautado na variação e mudança da língua no contexto social da comunidade de fala. Para a apreensão do vernáculo da comunidade empregou-se a técnica de entrevistas semi-estruturadas e através da técnica do observador-participante como método de coleta de dados.As entrevistas foram registradas a partir de práticas espontâneas, mas individualmente. No intuito de coletar a fala mais espontânea possível dos moradores, tentando afastar o paradoxo do observador, questionou-se sobre o cotidiano dos entrevistados, como: “Quais as brincadeiras que você mais gosta?”, “Como é a infraestrutura da comunidade?” e “O que vocês plantam?”. O objetivo divulgado para eles era que os dados das entrevistas formariam um acervo sobre a vida da comunidade. Sua história e sua prática cotidiana. Eram informantes na faixa etária entre 11 a 22 anos, cujas famílias e suas próprias ações cotidianas estão voltadas para a agricultura de subsistência. Para o armazenamento das gravações utiliza-se de gravador digital, filmadora e anotações de campo. |
RESULTADOS: |
Analisou-se o fenômeno da monotongação segundo a tonicidade das palavras: oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. De acordo com o resultado da interpretação dos dados, constatou-se que a maioria das palavras que passaram pelo processo de monotongação são paroxítonas, e nenhum registro produzido por meio de palavras proparoxítonas. Também foi possível aferir que há uma tendência no corpus coletado de que a as paroxítonas, na sua grande maioria, terminem com os sufixos -eiro e -eira. Sabendo-se que os ditongos [ay] e [ey] reduzem-se às vogais /a/ e /e/ devido a proximidade com as consoantes palatais /r/, /∫/ e /z/, e que esses mesmos ditongos tendem a se monotongar em sílaba inicial e em silaba medial (CAVALIERE, 2005, p.98). Analisando-se estes dados, pode-se concluir que em palavras onde a penúltima sílaba é tônica, com a presença do ditongo [ey] ou [ay] e perante a consoante palatal /r/, ocorre a monotongação. Quanto aos rotacismos, verifica-se na Comunidade de Cipoal dos Pretos uma tendência à substituição do /l/ pelo /r/ com o uso das consoantes plosivas bilabiais /p/ e /b/. |
CONCLUSÃO: |
Percebe-se que os moradores da Comunidade Cipoal dos Pretos deixam fluir livremente na fala os dois fenômenos analisados: monotongação e rotacismo. Os fatores extralinguísticos contribuem de maneira categórica na conservação desses dois processos fonológicos, principalmente no que diz respeito ao fenômeno do rotacismo. Destaca-se o fato de os moradores raramente visitarem a sede do município de Codó-MA e o da energia elétrica ter chegado apenas há um ano na comunidade, de maneira a não existir, até o momento da coleta de dados desta pesquisa, uma influência relevante das variedades urbanas e dos meios de comunicações. Ainda assim, constata-se que dente os fenômenos analisados, de certa forma, há uma reprodução do que ocorre em todo território nacional, quanto à monotongação e, quanto ao rotacismo, verifica-se uma maior prevalência em comunidades rurais. É interessante verificar, ainda, que, embora a comunidade de Cipoal dos Pretos seja reclusa de uma maior frequência de contatos externos, os mesmos fenômenos linguísticos se reproduzem nos descendentes da faixa etária escolhida para a realização desta pesquisa; que os dois fenômenos estudados se mantêm estáveis nesta comunidade quilombola e que a geração mais nova tende a preservar os mesmos fenômenos estudados. |
Palavras-chave: Variação, Monotongação, Rotacismo. |