64ª Reunião Anual da SBPC |
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia |
A RENOVAR: UMA EMPRESA SABATISTA NO MERCADO CAPITALISTA |
Talita de Cassia Lima Paiva 1 Sérgio Martins Pereira 2 |
1. Depto.de Ciências Sociais, Universidade Federal do Maranhão – UFMA 2. Prof. Dr./Orientador - Depto.de Ciências Sociais - UFMA |
INTRODUÇÃO: |
Resultado de uma monografia dedicada à trajetória da empresa “A Renovar”, uma rede de lojas de móveis no estado do Maranhão e no Pará, este trabalho busca compreender como uma empresa concilia o princípio adventista da “guarda do sábado” com a atividade comercial. A Renovar é uma empresa de comércio de móveis com sessenta filiais nos estados do Maranhão e do Pará. Seu proprietário, Manoel Alves, é membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia e por este motivo todas as suas lojas fecham aos sábados, de acordo com a doutrina da igreja. Como uma empresa familiar administra a “guarda do sábado” diante da concorrência do comércio de vendas de móveis no Maranhão? Fechar aos sábados pode ser uma evidência de perda de lucro, já que o sábado é um dos melhores dias para vendas? Da mesma forma que essa identidade religiosa desafia a atividade econômica, também constitui um elemento favorável à empresa, uma vez que, os mercados locais e regionais exigem alguma “vantagem” em relação aos concorrentes. Outro ponto investigado foi a relação entre a empresa e seus empregados. Em sua maioria os funcionários de “A Renovar” são adventistas, o que pode ser uma característica que permite analisar as particularidades das relações entre capital e trabalho nessa empresa. |
METODOLOGIA: |
O trabalho foi realizado através de entrevistas com o proprietário e com funcionários de lojas “A Renovar” de diferentes bairros de São Luis. Buscamos com isto, construir um quadro analítico de proprietários, funcionários e clientes da loja, considerando também sua localização em bairros do centro e da periferia da cidade. Os ambientes para realização da pesquisa sempre foram as lojas. Portanto, todos os entrevistados estavam em horário de trabalho. Utilizamos um gravador para facilitar a organização das informações. Outro ponto importante foi a etnografia desses espaços, bem como as anotações feitas durante esse trabalho de campo. Por último, também aplicamos um questionário como forma de obter informações relevantes sobre o perfil dos entrevistados. |
RESULTADOS: |
Através da pesquisa foi possível verificar que a religião adventista e o comércio estão presentes na família Alves em São Luís e em outros municípios do estado. Além de “A Renovar”, lojas pertencentes a outros membros da família fecham aos sábados, ou por serem membros da igreja ou simpatizantes da religião. O comportamento econômico pode ser fundamentado nos laços familiares, bem como na identificação social de adventistas, o que atrairia esse segmento de clientes para o negócio e como declara Saara Alves, gerente de marketing da empresa: “os clientes sabem que aqui eles não vão ser roubados”. Processo semelhante foi encontrado no plano das relações de trabalho. Em todas as lojas, no inicio do expediente, é realizado um culto do qual não necessariamente somente os adventistas são responsáveis e participantes. Ainda que a maioria do quadro de funcionários seja adventista, a empresa atrai evangélicos de outras denominações, como Presbiterianos, Católicos, etc. Por fim, a composição social de patrões, clientes e empregados revela o poder que a religião tem no ambiente de trabalho, assim como na definição das ações da empresa. Apesar de o setor econômico ter sido o “palco” da secularização, observou-se valores religiosos como parte constitutiva das relações econômico-sociais. |
CONCLUSÃO: |
Pelo processo de secularização a Religião ficou restrita a certos espaços, tempos, dias, etc. A “guarda do sábado” pelos adventistas é um exemplo. A Renovar também nos demonstra que a Religião se tornou uma mercadoria; as igrejas já são empresas que disputam membros e no caso das lojas “A Renovar” é o marketing da empresa. A simples placa “não abre aos sábados” nas fachadas das lojas é uma divulgação do aspecto religioso da empresa; permitindo a construção de uma cadeia de interações, que começa com a contratação de funcionários, preferencialmente adventistas, ao corpo de clientes que se identificam com a loja, por esse comportamento “sacro” nas relações comerciais. Se funcionários e clientes encontram na empresa valores perdidos no mercado capitalista, como a “guarda do sábado”, isto não significa afirmar que uma empresa “Adventista” exclua os antagonismos próprios desse mercado. O princípio da “guarda do sábado” proporciona limites e possibilidades à atividade econômica. A escolha de fechar aos sábados não se traduz na perda de lucros ou de competitividade no mercado, mas um diferencial em relação às outras lojas do setor. O estudo mostrou que valores religiosos e o cálculo econômico não são incompatíveis, mas constitutivos de um “ethos” simultaneamente religioso e econômico. |
Palavras-chave: Trabalho, Adventista, Maranhão. |