64ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 2. Botânica Aplicada
SISTEMA DISTÍLICO DE Faramea multiflora A. Rich. In DC. (RUBIACEAE) EM UMA MATA MESOFÍTICA, BRASIL, CENTRO-OESTE, GOIÁS, CATALÃO.
Denny Fernandes Eduardo 1
Hélder Nagai Consolaro 2
1. Aluno de Graduação - Depto de Ciências Biológicas, , Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão.
2. Prof. Dr. ⁄ Orientador – Depto de Ciências Biológicas – Universidade Federal de Goiás, Campus Catalão
INTRODUÇÃO:
Uma espécie de planta pode apresentar diferentes tipos de flores (polimorfismos) em diferentes indivíduos na mesma espécie, sendo tal diferenciação caracterizada por uma distinta organização na altura dos verticilos reprodutivos. As formas florais são caracterizadas por suas flores apresentarem estiletes curtos e estames longos (morfo brevistilo) e estiletes longos e estames curtos (morfo longistilo), sendo a ocorrência destes em uma razão equilibrada de 1:1 (isopletia). Juntamente ao polimorfismo, algumas plantas apresentam um sistema de incompatibilidade auto e intramorfo, no qual os frutos são formados a partir de polinizações entre as diferentes morfologias. As espécies que possuem tais características acima mencionadas são denominadas distílicas. Rubiaceae é a família botânica com a maior riqueza de espécies distílicas, sendo este sistema distribuído em 27 famílias. Pressões ambientais como a falta de polinizadores eficientes, efeitos de borda, alteração na densidade populacional, mudança na temperatura e composição do solo, podem selecionar indivíduos de uma espécie a sobressaírem aos outros por perderem características distílicas. Uma das respostas mais comuns na família Rubiaceae é a perda do equilíbrio na razão entre morfos florais (anisopletia). O objetivo do estudo foi estudar o sistema distílico de Faramea multiflora A. Rich. In DC., uma espécie de Rubiaceae dentro de um gênero tido como tipicamente distílico.
METODOLOGIA:
O trabalho de campo foi realizado pelo autor, no período de janeiro a março de 2012 no Brasil, Centro-Oeste, Sudeste de Goiás, município de Catalão. A área amostral denomina-se “Parque Municipal da Mata do Setor Santa Cruz”, uma reserva localizada próxima a Universidade Federal de Goiás/Campus Catalão, na qual faz parte do perímetro urbano do município. Esta área possui cerca de 28,48 ha com a ocorrência de algumas fitofisionomias de Cerrado, sendo o trabalho de campo desenvolvido em uma Mata Mesofítica. Em três indivíduos de cada morfo foram marcados três flores com linha de costura em pré-antese de cada individuo, para analisar a biologia floral, registrando o horário da abertura floral, liberação de pólen (utilizando uma pinça), receptividade estigmática (utilizando H2O2) e a longevidade das flores. A isopletia foi analisada a partir de um transecto de 800m com dupla lateral de cinco metros, onde todos os indivíduos encontrados foram morfotipados (111 indivíduos). Foi realizado o Teste de Qui-quadrado para analisar a isopletia (BioEstat 5.0).
RESULTADOS:
As flores se abrem lentamente de uma a quatro flores por vez de forma assincrônica, ao longo do dia. O primeiro registro foi às 07:00h com sua abertura total às 14:00h, juntamente com a liberação de pólen e receptividade estigmática. A longevidade floral pode variar entre 24 a 48 horas com algumas durando até 72 horas permitindo visitantes noturnos e diurnos. Essa longa exposição aos visitantes pode não ser uma vantagem, pois espécies distílicas necessitam de um eficiente fluxo de pólen intermorfo para a formação dos frutos. Faramea multiflora apresentou os dois morfos florais, onde foram registradas 87 (78%) flores brevistilas e 24 (22%) longistilas, caracterizando a população como anisoplética (χ2 = 31,57, p< 0,05). O estudo foi realizado em um fragmento de mata dentro do perímetro urbano, e o efeito de borda é uma importante influência no tipo de polinizadores. A relação planta-polinizador pode ter influenciado no desequilíbrio do fluxo de pólen intermorfo o que pode ter resultado à anisopletia na população ao longo dos anos (Ganders 1979; Consolaro 2008). Estudos com uma amplitude geográfica maior teriam que ser desenvolvidos para descobrir se esse tipo de distilia atípica é uma característica comum da espécie ou se é uma condição regional.
CONCLUSÃO:
Com o estudo foi possível averiguar que a população de Faramea multiflora (RUBIACEAE) encontrada Mata do Setor Santa Cruz, apresenta desvios em suas características distílicas, porém não é possível afirmar quais são os efeitos diretos para tal variação. Nos últimos anos, muitos trabalhos estão sendo desenvolvidos com intuito entender melhor os fatores que interferem negativamente nas espécies distílicas, porém pouco se sabe a respeito do tema no Centro-Oeste do Brasil. Por isso, o presente estudo contribui de certa forma, para a melhor compreensão dos mecanismos que regem as variações existentes nesse sistema reprodutivo.
Palavras-chave: Distilia, Biologia reprodutiva, Anisopletia.