64ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 3. Clínica Médica
ENDOCARDITE INFECCIOSA NOSOCOMIAL. A EXPERIÊNCIA DE UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA ENTRE OS ANOS DE 2006 E 2012.
Oslan Francischetto 1
Luciana Almenara 1
Wilma Golebiovski 2
Clara Weksler 2
Giovanna Ferraiuoli 3
Cristiane da Cruz Lamas 4
1. Escola de Ciências da Saúde - Universidade do Grande Rio – UNIGRANRIO
2. Enfermaria de Doenças Orovalvares – Instituto Nacional de Cardiologia – INC
3. CCIH - Instituto Nacional de Cardiologia – INC
4. Profª. Dra./Orientadora – Escola de Ciências da Saúde – UNIGRANRIO e CCIH – INC.
INTRODUÇÃO:
A endocardite infecciosa (EI), ou Doença de Osler, é uma doença grave decorrente da adesão e proliferação de microorganismos na superfície valvar, no endocárdio mural, no septo, nas cordualhas tendíneas ou em dispositivos intracardíacos. Resulta de bacteremia ou fungemia anterior, e os microorganismos mais relacionados possuem capacidade de adesão às superfícies descritas superior a de outros.
A EI é definida como nosocomial quando tem início ≥72h após a admissão hospitalar ou adquirida em associação com um procedimento invasivo realizado durante uma hospitalização até 8 semanas antes do início dos sintomas (TERPENNING, 1988; RIVAS, 2005; FERNÁNDEZ-GUERRERO, 1995). EI em prótese valvar precoce (até 1 ano após o implante cirúrgico da valva) deve ser classificada como nosocomial em função das diferenças significativas na microbiologia e a evolução observada (PIPER, 2001; CHASTRE 1995).
Endocardite Infecciosa Nosocomial (EIN) tem incidência crescente em função do maior número de procedimentos invasivos realizados, principalmente o uso de catéter vascular profundo (Lamas & Eykyn, Heart 1998). O objetivo é analisar os casos de EIN em um centro de referência em relação à sua epidemiologia, aspectos clínicos e ecocardiográficos (ecocardiograma_Eco_ transesofágico_ETE_).
METODOLOGIA:
Estudo de Série de Casos de EIN em pacientes ≥ 14 anos em um centro de referência no Estado do Rio de Janeiro, o Instituto Nacional de Cardiologia (INC), entre janeiro de 2006 e janeiro de 2012.
Os casos de endocardite foram selecionados segundo os critérios modificados de Duke (Modified Duke Criteria), segundo a definição de caso possível ou definitivo (Li et al, 2000). EIN foi diagnosticada com base nos critérios já definidos anteriormente (≥72h após a admissão hospitalar, associação com um procedimento invasivo até oito semanas antes do início dos sintomas, implante cirúrgico de prótese valvar até um ano).
A coleta de dados foi feita prospectivamente, pelo preenchimento dos case report forms do estudo ICE (International Collaboration on Endocarditis) do qual o INC é um centro colaborador. Foram incluídos em banco de dados próprio e analisados pelo programa Excel. Informações faltantes foram buscadas em prontuários.
O estudo foi elaborado seguindo normas das Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas em Seres Humanos, resolução 196/96. O projeto foi submetido e aprovado à Comissão de Ética em Pesquisa do INC. Um consentimento informado, que abrange os estudos ligados ao estudo ICE, foi aplicado a todos os pacientes.
RESULTADOS:
Incluídos 53 casos de EIN, 35% das 151 EI no período.
Foram definitivos 42 (79%) e 11 (21%) possíveis.
Homens 27 (51%) e mulheres 26 (49%), com idade média de 47.2 ±18.7 anos.
Os sítios afetados: Mitral em 19 (36%), Aórtica em 12 (23%), Mitral+Aórtica 5 (9%), Dispositivo Intra-cardíaco (DI) + Tricúspide em 5 (9%), apenas DI em 4 (8%), Tricúspide em 3 (6%), retalho em Comunicação Interventricular 2 (4%), Mitral+Tricúspide em 1 (2%), assist device em 1 (2%), Mitral+DI em 1 (2%). Próteses valvares representaram 23 (43%) e nativas 20 (57%).
Procedimentos invasivos prévios em 41 (77%), sendo 30/41 (73,2%) cirurgias cardíacas. Uso prévio de acesso vascular profundo em 43 (81%).
Eco mostrou critérios maiores em 46 (87%), sendo 38 (83%) ao ETE.
Etiologia não identificada em 11 (21%), E. faecalis 10 (19%), S. aureus 9 (17%, 5 MRSA), Candida sp. 7 (13%), Estafilococo Coagulase-negativo 5 (9%), P. aeruginosa 2 (4%) e outros 9 agentes acometendo 1 (2%) paciente cada.
Apresentaram febre 49 (92%), Proteína C Reativa aumentada 44 (83%), esplenomegalia 12 (23%). Complicações mais observadas: insuficiência cardíaca 28 (53%), embolização 15 (28%) e abscesso visceral 8 (15%).
Submetidos à cirurgia: 34 (64%), 24 (71%) destes evoluíram para alta. A mortalidade global foi de 17 (32%) pacientes.
CONCLUSÃO:
Endocardite Infecciosa Nosocomial (EIN) correspondeu a um terço das Endocardites Infecciosas em hospital de referência. Valvas nativas foram acometidas em mais da metade (57%) desses casos. Procedimentos invasivos prévios (77%) e uso de acesso vascular pronfundo (81%) estiveram frequentemente presentes. O Ecocardiograma Transesofágico mostrou-se eficaz em encontrar critérios maiores para o diagnóstico (83%). Comparada a outras séries da literatura, EIN apresentou frequentemente etiologia não identificada (21%), alta incidência de leveduras (13%), assim como de Staphylococcus aureus (sendo mais da metade – 56%, Staphylococcus aureus Resistente à Meticilina_MRSA).
Palavras-chave: Endocardite Infecciosa Nosocomial, Endocardite Infecciosa Hospitalar, Infecção Hospitalar.